Ensino integral e olhar para os alunos: os ‘segredos’ da escola que lidera ranking em Campo Grande
E.E. Prof.ª Célia Maria Naglis teve pontuação de 9,01301 na nota geral entre unidades da rede estadual
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O que leva uma escola pública a mais de 10 quilômetros do Centro de Campo Grande a conquistar o primeiro lugar entre as escolas estaduais da Capital? A E.E. Prof.ª Célia Maria Naglis, localizada no bairro Moreninha III, está no topo do ranking das unidades da REE (Rede Estadual de Ensino) e tem o empenho de toda a equipe como destaque. O Jornal Midiamax foi conhecer a fundo as estratégias adotadas pela unidade para garantir o bom resultado dos estudantes.
Inaugurada em 1983, a escola passou, em 2019, pelo desafio da implementação do ensino integral. Os 62 funcionários uniram-se para encarar essa nova fase e o diretor da escola, José Antônio Souza da Silva, acredita que esse foi o grande diferencial que os levou até o topo das escolas estaduais da Capital. “A equipe foi muito coesa, a gente não teve membros para dizer que ia dar errado ou que fez corpo mole”, afirma.
Atualmente, a escola conta com 12 salas, do 4º ao 9º ano do ensino fundamental, e são os 387 alunos frequentes que motivam o investimento e a dedicação. “Toda educação tem o olhar voltado para o aluno, isso é fundamental, e talvez os frutos que a gente esteja colhendo hoje seja em consequência dessa visão que toda equipe tem de atender de uma maneira efetiva e exemplar o aluno. O estudante no seu aprendizado, nas suas necessidades.”
Mudanças da pandemia
Antes de março de 2020, ao bater do sino às 7h30, os alunos formavam filas no pátio para ouvirem avisos e orientações gerais, na chamada acolhida. Além disso, diariamente algum aluno ou professor, previamente escolhido, apresentava uma música ou um texto para os demais, em um momento de descontração e troca de conhecimentos.
No entanto, a escola, assim como toda a sociedade, teve a sua rotina completamente alterada com a chegada da pandemia de Covid-19. Os portões se fecharam para os alunos, que tiveram que se adaptar à nova realidade de aulas remotas.
Para os professores, o desafio também foi grande, porém, nos momentos em que tinha que ir à escola para os plantões, a professora de Artes, Carolina de Souza Araújo, contribuiu para uma mudança nos ares, ou melhor, nas paredes da escola. A partir de uma ideia da Diretoria, ela e outros professores decoraram as paredes das salas de aula.
O bloco designado à Carolina ganhou desenhos de super-heróis com um pequeno resumo de suas histórias. A iniciativa tem o propósito de inspirar e empoderar a garotada. Ao olhar para trás, os alunos deparam-se com personagens como, Mulher-Maravilha, Pantera Negra e Batman. “A ideia era escolher algo que atraísse os alunos”, explica a professora de Artes.
No entanto, mais do que a decoração das salas, a rotina dos alunos foi o que mais mudou desde o retorno das aulas presenciais no dia 2 deste mês. Anteriormente, as turmas cheias passavam suas manhãs e tardes concentradas nas disciplinas obrigatórias e eletivas. Agora, os alunos estão frequentando o colégio de forma escalonada, uma semana em sala de aula, outra semana com atividades em casa.
Defasagem de conteúdo
O período longe do espaço escolar alterou muito mais do que a rotina dos estudantes, mas também o engajamento deles com o conteúdo didático. Somente 3% dos professores da educação infantil que participaram do estudo “A situação dos professores no Brasil durante a pandemia”, da Nova Escola, afirmaram que todos os responsáveis de seus alunos estavam participando das atividades a distância. Uma realidade também percebida aqui na Capital. “Esse ano e meio praticamente de aulas remotas a gente sabe que criou uma defasagem no estudante porque aula remota não é a mesma coisa que presencial. O pai não é professor, a mãe não é professora”, pontua o vice-diretor da E.E. Prof.ª Célia Maria Naglis, Ambrósio Lazzari.
Neste retorno, os alunos estão passando por uma avaliação diagnóstica para que professores e coordenação possam traçar um plano educacional. “Em cima desse resultado é que a gente começa a montar novas ações, novos projetos pedagógicos para tentar recuperar ao máximo a defasagem que o aluno teve durante esse período de aulas remotas”, explica o vice-diretor.
Escola e família
A relação com as famílias dos estudantes também é bem próxima. Desde antes da pandemia, as coordenadoras da escola já visitavam as casas dos alunos faltantes para compreender o que estava se passando. “Se a gente percebe que o aluno não está rendendo ou que o aluno está com o comportamento inadequado para a faixa etária dele ou para o grupo dele, no mesmo dia a gente já liga para os pais. Se falta mais de um dia consecutivo, as coordenadoras ligam e se faltam três, quatro dias e não aparecem na escola, a gente vai na casa ou pede para um funcionário ver o que aconteceu, porque às vezes o pai não tem celular para ligar”, conta o diretor, José Antônio. “A gente não julga a mãe, a gente vai na casa”, completa.
Entre erros e acertos, para a Direção, o que pode colocar a escola no topo das estaduais da capital, pode também dificultar a caminhada. Um dos maiores desafios enfrentados por eles no momento é a falta de recursos humanos que atendam às necessidades de higienização impostas pela pandemia. “Fazer o gerenciamento de uma escola desse tamanho, integral, seguindo todos os protocolos de biossegurança é impossível com duas funcionárias [da limpeza]”, destaca o diretor.
Devido aos afastamentos e ao número reduzido, a equipe de limpeza agora conta também com uma mãozinha dos professores, que orientam os alunos e higienizam carteiras. “Como a gente tem poucos funcionários, eles fazem para a gente”. Com união, profissionais e alunos seguem motivados. “Dinheiro sempre ajuda para a gente ter melhores estruturas, mas pessoas que realmente mobilizem o ambiente escolar para oferecer uma educação é muito interessante”, afirma o vice-diretor, Ambrósio Lazzari.
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