Ônibus com elevadores estragados, lotados ou sem elevador são alguns dos problemas apontados por cadeirantes que utilizam o transporte público de , que é explorado pelo . Em um dos casos, um usuário contou já ter caído de cima de um carro.

De acordo com um cadeirante que preferiu ser identificado apenas por Paulo, em uma viagem sua no transporte público o elevador de um dos carros quebrou no momento que ele subia e o rapaz, de 34 anos, acabou caindo do ônibus.

Cadeirantes enfrentam até quedas com ônibus estragados e lotados em Campo Grande
Paulo conta que já caiu de um elevador no | Foto: Minamar Júnior

“Esses elevadores as vezes não tem força para subir com a gente. Sempre tem um problema, esses dias colocaram um ônibus novo sem elevador para rodas às 6h40 no Terminal Júlio de Castilho”, contou Paulo. Segundo ele, o carro era da linha 86 – Júlio De Castilho Shopping.

O rapaz contou que é cadeirante há 13 anos, por complicações de saúde, e desde então enfrenta os mesmos problemas no transporte público de Campo Grande. “Os melhores são os ônibus novos, os outros sempre têm problema. E às vezes os motoristas também têm má vontade”.

Má vontade

A afirmação sobre a má vontade foi confirmada por outra usuária do transporte público que acompanha o marido cadeirante. Márcia Rodrigues Alves, de 55 anos, conta que já teve que voltar ao terminal junto com o marido, Adinael de Jesus Silva, 69 anos, por conta de um problema mecânico em um dos carros.

Cadeirantes enfrentam até quedas com ônibus estragados e lotados em Campo Grande
Márcia Rodrigues Alves e o marido Adinael de Jesus Silva relatam equipamento com defeito do transporte público

“Quando fomos descer no ponto, já estávamos bem perto de casa, aí o elevador travou. Eu pedi para o motorista me ajudar a descer com ele, mas ele disse que não poderia e que a gente ia ter que voltar no terminal para resolver. Quando chegamos lá, outro motorista veio e arrumou bem rápido o elevador, não sei se era má vontade do outro”, contou. O aposentado usa cadeira de rodas há 3 anos, depois que teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

‘Lotação de cadeirantes'

No caso da cadeirante Cleonides Lourenço, de 63 anos, um dos principais problemas é a “lotação de cadeirantes” em alguns carros. A vendedora ambulantes conta que no Rancho Alegre, bairro próximo ao Caiobá, muitas vezes os ônibus que chegam já estão com os dois locais reservados para cadeirante ocupados e ela tem que esperar pelo próximo veículo.

Cleonides conta que na região os ônibus têm intervalo de 30 minutos entre cada um, então, se ela não consegue pegar o primeiro carro a espera é longa até o próximo. E também não é garantia que esse carro poderá leva-la.

“Às vezes eles passam tão cheio de gente que não tem como ir cadeirante. Outras vezes já tem dois cadeirantes e em muitas vezes o elevador está estragado”, contou a ambulante a reportagem do Jornal Midiamax.

Ainda segundo Cleonides, ela já chegou a ser tratada com rispidez por motoristas de ônibus do Consórcio Guaicurus. “Tem uns que são uns amores, mas tem outros que fazem cara feia, falam ‘que saco', ‘você não pode pegar outros ônibus não, só tem esse?'. É triste”.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Consórcio Guaicurus para saber o motivo de tantos relatos de elevadores quebrados, se seria um problema de fábrica ou falta de manutenção por parte da empresa que explora o transporte na Capital, porém, até o fechamento desta matéria não houve resposta.

Novos ônibus

Após ter sido notificada pela Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos) sobre o risco de levar uma multa por usar 48 ônibus vencidos, o Consórcio apresentou a compra de 55 novos carros, que devem chegar na Capital apenas em outubro. Com a comprovação da compra, a multa, de R$ 2,7 milhões, acabou suspensa por 90 dias.

Ao todo está circulando em Campo Grande 550 carros, sendo que desses, além dos 48 vencidos, mais 80 estão prestes a vencer o prazo de validade.

O diz o contrato?

O contrato de concessão para a exploração do transporte coletivo urbano de Campo Grande tem pelo menos quatro pontos que deveriam comprometer o Consórcio Guaicurus com a prestação do serviço de qualidade e com segurança aos clientes que possuem necessidades especiais de locomoção. As denúncias dos usuários cadeirantes, no entanto, apontam para o descumprimento contratual sistemático.

“Segurança: a realização de toda a prestação dos serviços tendo como meta em sua consecução a presteza com eficiência, não pondo em risco os empregados, a população, mantendo-se o sistema sempre em condições de operacionalidade e de confiabilidade, evitando-se correr riscos desnecessários que venham a prejudicar a população como um todo ou apenas parte dela”, diz a cláusula 7.2.4 do contrato.

Em outro trecho, o documento fala sobre a conservação e manutenção dos equipamento, o que também foi quebrado pela empresa, vista a quantidade de reclamações sobre elevadores quebrados. “Atualidade: modernidade das técnicas, dos equipamentos e das instalações e a sua conservação e manutenção, bem como a melhoria e a expansão do serviço, na medida das necessidades dos usuários do SMTC”.

Outro ponto é o que trata sobre a universalidade do atendimento aos usuários de transporte público, já que vários cadeirantes relataram que o tratamento dispensado a eles, algumas vezes, seria ríspido. “Generalidade: universalidade da prestação dos serviços, isto é, serviços iguais para todos os usuários sem qualquer discriminação”.

Ainda sobre o tratamento dado aos cadeirantes, principalmente partindo de alguns motoristas do transporte público, o contrato também determina algo diferente do relatado pelas pessoas ouvidas pela reportagem. “Cortesia na prestação dos serviços: tratamento adequado aos usuários do SMTC”.