Com um desafio parecido com o da , uma nova corrente nas redes sociais tem sido causa de preocupação entre os pais. É o desafio da “”, uma figura medonha, de olhos esbugalhados e parecida com uma mulher pássaro. Na corrente, alguém se passa pelo personagem e lança um jogo com desafios perigosos, como o sufocamento e enforcamento.

Em Recife, no estado do Pernambuco, a polícia investiga se o jogo tem relação com a morte de uma criança de 9 anos, que foi encontrada sem vida pelos pais há quase duas semanas. A partir da possibilidade da morte ter sido motivada pelo desafio on-line, a Rede Salesiana Brasil de Escolas emitiu um comunicado alertando os pais a respeito da boneca.

“Alertamos os pais a estarem cada vez mais próximos de seus filhos e atentos a esta armadilha virtual, que ameaça as crianças e adolescentes, usando de sua inocência, aterrorizando famílias e retirando a paz da sociedade”, disse o comunicado.

Apesar do comunicado emitido pela Rede, o Colégio Salesiano Dom Bosco, em , preferiu agir com cautela, para evitar um alarde nas famílias.

“Conversamos com os alunos, os psicólogos e percebemos que isso não chegou na escola ainda. É um documento que chegou da Central, mas ainda estamos colhendo informações para verificar como replicar. Antes de criar um alarde, a gente vai se inteirar da situação na escola para fazer este trabalho”, informou a assessoria de imprensa do colégio.

Segundo informações do Colégio Dom Bosco, o trabalho de conscientização em casos de desafios virtuais como este é sempre acompanhado por um psicólogo adequado para cada idade. A escola já fez trabalhos de prevenção a jogos perigosos – termo com o qual especialistas tratam, na época da difusão da corrente Baleia Azul, além de conscientização sobre o bullying e a depressão, com a polêmica da série ’13 reasons why’ (Os 13 Porquês).

“O objetivo de tudo é preservar a vida, observar os sinais que podem vir dos adolescentes. Temos psicólogas adequadas para alunos desde os pequenos até o ensino médio, é um trabalho de prevenção contínua”, explica.

Rede pública em alerta

Tanto a SED (Secretaria de Estado de Educação) como a (Secretaria Municipal de Educação) negaram ter recebido relatos ou denúncias que relacionem a prática dos desafios on-line em ambiente escolar, mas afirmaram que promovem orientações tanto para professores como para os responsáveis pelos alunos.

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Em formação continuada, professores do município recebem informações sobre jogos de risco (Foto: Divulgação | )

“A Secretaria de Estado de Educação (SED) acompanha de perto casos como esses e procura conscientizar familiares e responsáveis quando são detectados indícios de situações que possam causar a vulnerabilidade dos estudantes”, traz um trecho da nota da SED.

“Ressaltamos que o bem-estar dos alunos da Reme é primordial, por isso, desde o ano passado, quando surgiu nas redes sociais o jogo da ‘Baleia Azul’, os professores e profissionais que atuam nas escolas mantêm-se alertas quanto a essas brincadeiras que podem surgir no universo escolar para coibir qualquer tipo ação que venha a ser prejudicial aos alunos, informando imediatamente os pais”, afirma a Semed.

Nas duas pastas, o trabalho de orientação é feito por meio de eventos com especialistas, que orientam, inclusive, sobre a maneira de abordar o aluno, caso percebam algum comportamento diferente.

Especialistas defendem mediação do acesso à internet

Reportagem publicada pelo Jornal Midiamax em fevereiro deste ano trouxe depoimento de especialistas, que defendem tanto a mediação de responsáveis quanto ao conteúdo acessado por crianças e jovens na internet, como tratar os jogos perigosos como uma política de prevenção à saúde.

Eles destacam que em alguns países, como a França, Canadá e África do Sul, a prevenção aos jogos de risco recebem a mesma atenção dos governos que a prevenção do suicídio, ou seja, são tratados como problemas de saúde pública. No Brasil, há pouquíssima discussão sobre o tema.

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“Desafios” na internet colocam crianças em risco (Foto: Reprodução | Youtube)

“Nós observamos que os pais têm medo de quando os filhos estão na rua, porque eles podem correr riscos. Risco do assalto, risco do sequestro, de usar drogas, das violências urbanas. Mas, quando o filho está trancado no quarto ou no banheiro, ele está exposto a outros perigos que infelizmente são invisíveis aos pais. São nesses ambientes que os jogos de risco costumam acontecer”, explica Luísa Maria Freire Miranda, psicóloga que desenvolve em seu mestrado na UFC (Universidade Federal do Ceará) pesquisa sobre os jogos de risco como um fenômeno da atualidade, uma espécie de espetacularização totalmente inconsequente.

A psicóloga descreve que a sensação de segurança de ter o filho em casa ou por perto pode ser falsa caso os pais não tenham condição de mediar o conteúdo virtual a que jovens têm acesso.

“Os pais precisam saber o que os filhos acessam, precisam saber quais os interesses dos filhos. Isso não é invasão, é cuidado. Os jogos de risco são uma realidade e precisamos aprender a prevenir a prática e reconhecer quando ela pode estar acontecendo”, conclui.