Psicopata ou serial killer? Saiba mais sobre Nando, criminoso que matou 16 em MS
Há quase dois anos, iniciavam as investigações sobre um crime que levaria à prisão Luiz Alves Martins Filho, também conhecido como Nando. Acusado do assassinato de 16 pessoas, Nando é um dos criminosos mais conhecidos em Mato Grosso do Sul e pode ser classificado como um serial killer.
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Há quase dois anos, iniciavam as investigações sobre um crime que levaria à prisão Luiz Alves Martins Filho, também conhecido como Nando. Acusado do assassinato de 16 pessoas, Nando é um dos criminosos mais conhecidos em Mato Grosso do Sul e pode ser classificado como um serial killer.
As investigações do homicídio de ‘Leleco’, Leandro Aparecido Nunes Ferreira, de 28 anos, começaram no dia 2 de setembro de 2016 e desencadearam a apuração do caso que levou à prisão de Nando, em novembro. Leleco foi morto a tiros e tinha envolvimento com o grupo responsável por um esquema de exploração sexual e tráfico.
‘Chefe’ do bairro, Nando demonstrou à polícia que se achava justiceiro e que gostava de matar, pois diariamente visitava o cemitério clandestino no Jardim Veraneio, onde as vítimas eram enterradas. Segundo a Polícia Civil, Nando foi denunciado pelo irmão de Leleco e, a partir da denúncia, três mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Jardim Panorama, em Campo Grande, e a partir daí a rede de exploração sexual e a matança no Danúbio Azul foram descobertas.
Todas as vítimas do serial killer tinham envolvimento com drogas e assim foram atraídas por Nando. Elas se prostituíam e faziam programas sexuais com o criminoso para receberem drogas como pagamento e sustentarem o vício. Conhecido e temido no bairro, Nando passou quatro anos cometendo homicídios e explorando sexualmente as vítimas, sem ser denunciado. Segundo a polícia, ele enforcava ou estrangulava as vítimas porque não gostava de ver sangue.
Em março deste ano, o laudo médico apontou que Nando é um psicopata e deve ser mantido afastado da sociedade. O psiquiatra e professor de psicologia na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), André Veras, explica que a psicopatia é uma característica de quem tem um transtorno de personalidade antissocial. “A personalidade antissocial é um diagnóstico psiquiátrico e tem por característica a baixa empatia com o outro e uma dificuldade de lidar com a frustração. São pessoas que tendem a ser egoístas, que querem obter satisfação pessoal independente do sentimento do outro”.
O psiquiatra forense Marcos Estevão descreve que, para o diagnóstico de uma pessoa acusada de homicídios, como Nando, a avaliação é solicitada pelo juiz, que pede uma perícia de laudo de exame de insanidade mental. A partir de então, o psiquiatra avalia o estado mental. “Quem tem transtorno vai necessitar de medida de segurança pelo risco que ele tem de reincidência. O juiz vai avaliar e acatar ou não, ele dá medida de segurança e a cada ano ou dois anos, um laudo vai dizer se acabou o perigo desta pessoa ou não”, diz.
A especialista em avaliação de personalidade e professora de psicologia da Uniderp, Avany Cardoso Leão, explica que, além de psicopata, Nando pode ser considerado como um serial killer. Para ela, a definição de nome inglês, não se limita a uma quantidade de crimes. “Não tem um número, mas acredito que a partir de três crimes, já pode ser considerado um serial killer”, diz.
Leão afirma que um serial killer é um psicopata que mata em série e geralmente tem um padrão. “Ele mata em série e tem um modus operandi, que era de matar por asfixia e enterrar de cabeça para baixo”, declara. Segundo a professora, a psicopatia é um defeito da personalidade e não tem causas, mas fatores genéticos, fisiológicos e relacionados ao ambiente. “Não tem cura, dependendo do grau pode melhorar, mas não é possível curar uma pessoa com transtorno antissocial grave”.
No laudo médico de Nando, o médico psiquiatra Rodrigo Abdo aponta que o suspeito é psicopata e deve ser mantido afastado da sociedade. O psiquiatra explica que Nando foi diagnosticado com transtorno da personalidade dissocial grave, além de transtorno da personalidade paranoica também grave, ou seja, caso de psicopatia. “Não há tratamento efetivo para tal condição. Deve ser afastado da sociedade”, explica.
Na análise do especialista Rodrigo Abdo, tanto agora, quanto na época em que matou e escondeu o corpo de 16 pessoas em um cemitério clandestino, Nando era “totalmente capaz de entender e de autodeterminar-se e tinha plena responsabilidade penal”. Segundo ele, Nando não tinha delírios, alucinações ou quaisquer transtornos psicóticos. No documento o psiquiatra revela que os crimes foram cometidos de maneira precipitada com ações excêntricas e rituais, por falta de controle de Nando sobre seus impulsos agressivos.
A professora do curso de psicologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Aline Henriques Reis, ressalta que nem sempre os psicopatas têm uma inteligência acima da média ou planejam seus crimes. É o caso de Nando, para ela, o assassino se encaixa como psicopata por conta do impulso. “Não acho que o Nando teria o refinamento cognitivo, parece uma questão de impulsividade. Além disso, ele tem distorções de ver os outros como maus e querer fazer justiça com as próprias mãos”, diz.
Apesar de ter sido diagnosticado como psicopata, a professora não acredita que Nando possa ser considerado um serial killer mesmo após o assassinato de tantas pessoas. “Ele parece um serial killer, mas não tenho certeza se ele se encaixa. O serial killer tem um planejamento, um requinte de crueldade, uma linha de raciocínio, mas no caso dele eu tenho a impressão de que tudo foi feito por impulso”, conclui.
Entre os especialistas, outro psicopata notório em Mato Grosso do Sul, apenas Dyonathan Celestrino, 25 anos, é lembrado. Conhecido como ‘Maníaco da Cruz’, ele praticou uma série de crimes em 2008, em Rio Brilhante, a 158 quilômetros de Campo Grande. Ele foi apreendido e cumpriu medida socioeducativa [prevista pela legislação até os 21 anos]. Pela sua condição psicológica, é mantido em internação no IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), mesmo sem ter, até o momento, condenação como adulto.
O psiquiatra forense Marcos Estevão participou do diagnóstico do Maníaco da Cruz e afirma que há similaridades entre os dois psicopatas. “Os crimes se parecem, mas o maníaco da cruz era menor de idade na época, a situação jurídica está confusa, ele tem essa particularidade”.
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