Nos cemitérios, Cruzeiros servem de orientação aos visitantes, mas também aos mortos
Considerados sagrados e ponto de orientação, Cruzeiros de cemitérios guardam particularidades que variam conforme crenças
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Grande e imponentes, os Cruzeiros são as enormes cruzes construídas nos cemitérios. Costumam ficar em região estratégica, normalmente na parte central, e dividem os quadrantes do local. Medem pelo menos 2 metros de altura e, por serem vistosos e conhecidos, servem de referência aos visitantes – que frequentemente se perdem na imensidão dos cemitérios, sobretudo no Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro.
“A gente sempre usa o Cruzeiro como um ponto de referência, porque aqui é muito grande. Dia de Finados tem sempre muita gente que vem pela primeira vez e não sabe como chegar no túmulo, então a gente orienta assim”, relata a zeladora Lidinalva Costa Bezerra, de 57 anos, que há três trabalha no Cemitério Santo Amaro, o maior da Capital, com mais de 32 mil sepulturas distribuídas em cerca de 27 hectares.
Os Cruzeiros estão presentes nos três cemitérios municipais de Campo Grande, que são tema de uma pequena série de reportagens do Jornal Midiamax ao longo desta semana. Nestes dias que antecedem o feriado santo, as cruzes recebem pintura de cal, ficando brancas e limpas.
Porém, já nas primeiras horas do Dia de Finados, as cruzes começam a ser tomadas pela fuligem e escurecem, já que a tradição cristã ensina a acender velas e realizar preces em homenagens aos entes queridos falecidos. O Cruzeiro é, portanto, mais que um ponto de referência – é um local de aglomeração motivada pela fé, saudade e respeito a quem já partiu.
Orações conectadas
Na crença popular, as grandes cruzes estariam conectadas ao plano espiritual, como se fossem portais por onde passam as orações, a luz e também a saudade. Assim, as preces e velas acendidas no local sagrado, em memória dos falecidos, seriam recebidas de igual forma caso os viventes não estejam onde mortos foram enterrados.
Moradora de Campo Grande há três anos, a aposentada Maria Lúcia Carvalho, de 61 anos, faz no Cruzeiro do Cemitério Santo Antônio, na região central da Capital, seu ponto de oração. Natural de São Paulo, Lúcia enterrou num cemitério da maior cidade do país a filha que faleceu aos 3 anos de idade, há cerca de três décadas.
“Como não posso estar lá, acendo aqui minha vela, faço minhas orações. A gente cresceu ouvindo essa ideia de que os Cruzeiros servem para enviar as orações. Eu acredito nisso, então venho aqui homenagear a filha que Deus chamou de volta. Quero que ela saiba que é sempre lembrada e muito amada”, comenta a aposentada.
Luz e orientação a desencarnados
Em outra perspectiva cristã, os Cruzeiros ganham importância ainda maior. Para a umbanda, os cemitérios são chamados de “Campo Santo”, um território sagrado no qual, assim como para a maioria católica, repousam os restos mortais dos desencarnados.
Sob a ótica umbandista, portanto, as grandes cruzes dos campos santos são o Cruzeiro da Alma. Além do ritual de acendimento de velas e proferimento de preces aos desencarnados, o espaço guarda grande força espiritual. Nele, trabalhariam as 13 Almas Benditas, que auxiliam os espíritos na busca pela estrada divina.
“Acreditamos que essas locais são fortes. Neles atuam esses espíritos, que trabalham encaminhando almas perdidas para o caminho da luz de Deus”, explica a yalorixá Mãe Janice de Iemanjá, da Tenda de Umbanda Vovó Catarine Pai Benedito, que fica no bairro Caiçara, em Campo Grande.
De acordo com Mãe Janice, os rituais em honra aos mortos de quem professa fé católica são semelhantes aos de umbandistas. “Cemitérios também são os locais onde cultuamos nossos antepassados. Nós cultuamos os Cruzeiros das Almas porque ali trabalham seres de luz, como pretos velhos. Por isso, além de utilizarmos esses locais sagrados para rezar e pedir que almas perdidas sejam encaminhadas, também são locais com muita energia para curas”, explica a ialorixá.
No Dia de Finados, a crença umbandista defende que o plano da espiritualidade é aberto para que os falecidos visitem os encarnados. “Então nós vamos a esses locais, rezamos, acendemos incenso, agradecemos pela oportunidade de aprendizado que tivemos com aquelas pessoas que faleceram”, conclui.
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