Elas andam em grupo, evitam dançar e até olhar nos olhos dos homens

Confira o que as mulheres fazem para evitar assédio em festas universitárias

Casos de assédios em festas não são novidades para as universitárias. O ambiente de comemoração entre os acadêmicos muitas vezes traz constrangimentos e até mesmo traumas. Na última segunda-feira (19), uma aluna da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) foi estuprada após um trote universitário.

Mato Grosso do Sul é o estado líder na taxa de estupros no país. A cada 100 mil habitantes, 54,4 pessoas foram estupradas e 1.458 casos foram registrados em 2016, de acordo com relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Cientes dos perigos que correm em todos os lugares, mas principalmente em festas, as acadêmicas usam estratégias para tentar se proteger.

A estudante de Jornalismo, Talita Oliveira, conta que sempre está acompanhada, evita olhar nos olhos dos homens que estão em grupo e, quando não funciona, finge que é comprometida. “O pior é quando ficam segurando pelo braço com agressividade, aí você fala que namora com uma amiga, falam ‘dá um beijo então que eu quero ver’ e ficam insistindo”, conta.

Uma estudante de Medicina Veterinária, que preferiu não ser identificada, afirma que sofreu um assédio que a deixou tão constrangida que procura evitar frequentar festas. Enquanto dançava, um homem se aproximou e tentou beijá-la à força. “Ele tentou me agarrar à força e ainda ficou passando a mão na minha perna. Algumas pessoas viam e fingiam que não estava acontecendo, outras achavam engraçado”.

A acadêmica afirma que raramente frequenta baladas para evitar que aconteça de novo e, quando vai, anda em um grupo de mulheres, usa roupas fechadas e até evita dançar. Talita Oliveira também se censura no vestuário e fica atenta a quem está ao redor para conseguir se divertir. “Tento dançar onde tenha mulheres dançando em volta, se tiver muito homem eu escolho outro lugar”, conta. Confira o que as mulheres fazem para evitar assédio em festas universitárias

Com os homens, os cuidados em festas universitárias são diferentes. Um estudante de Administração, que não quis se identificar alega que o único medo que tem é o de ser roubado. “Não precisa ter muita precaução, eu só me cuido para não ser roubado nessas ocasiões, uma vez levaram meu celular”.

O estudante de fisioterapia, Vinicius Oliveira, acredita que os homens são ainda mais agressivos em festas universitárias. Segundo ele, há uma pressão para que consigam beijar as mulheres. “Eu tenho amigos que não aceitam receber um não, até xingam a mulher. Eles falam que homem tem que ‘chegar chegando’ e te chamam de gay se você não vai”, explica.

As festas universitárias são muitas vezes promovidas por cursos e associações atléticas. Uma das associações procuradas pelo Jornal Midiamax, a atlética do curso de Jornalismo da UFMS afirma que organiza festas pequenas e que nunca presenciou um caso de assédio de fato. A situação mais lembrada é de quando um dos homens presentes incitou um estupro coletivo ao dizer “vamos comer em grupo” entre os amigos.

A diretoria informa que o homem foi repreendido e deixou o evento em seguida. A atlética de Medicina Veterinária da UFMS informa que nunca presenciou assédio em uma de suas festas, mas afirma que os casos são comuns em eventos. Outras sete atléticas das principais universidades de Campo Grande foram procuradas pela reportagem e não se pronunciaram até a publicação.

O que é assédio e violência sexual?

Em relatório divulgado pelo Instituto Avon e o Data Popular em 2015, é considerado assédio comentários com apelos sexuais indesejados, cantada ofensiva e abordagem agressiva. Violência sexual inclui estupro, tentativa de abuso enquanto a vítima está sob efeito de álcool, ser tocada sem consentimento e ser forçada a beijar veterano. Ainda segundo o relatório, é considerado coerção no ambiente universitário atitudes como ingestão forçada de bebida alcoólica e drogas e ser forçada a participar de eventos degradantes, como leilões e desfiles.