5,2 milhões de brasileiras foram vítimas dentro de transporte público

“Ele se sentou ao meu lado, não fez nada, mas me senti muito mal, desconfortável, com medo, então me levantei e fui me sentar ao lado de uma senhora”. Esse relato é de uma usuária de , sobre uma recente situação que ela enfrentou dentro do ônibus no caminho para o trabalho. Ela é apenas uma entre tantas mulheres que não foram vítimas, mas que vivem escoltadas pelo constante medo de “ser a próxima”.

A auxiliar de limpeza Elizabet Vilhalva, de 40 anos, diz que a reação foi provocada pela insegurança de simplesmente não ter a garantia de que a própria dignidade sexual não será violada a qualquer segundo. Ela tem consciência de que aquele homem poderia não tentar nenhum ato de abuso. Mas ela não tinha certeza. “Não tem como identificar”, lamenta. E é disso que gera o medo.

No último dia 12, mais uma mulher foi vítima de abuso sexual dentro do transporte coletivo de . Um homem de 34 anos foi preso após se masturbar ao lado dentro do ônibus. No mês passado, uma jovem relatou no Facebook outra situação de abuso pela qual ela passou, e teve muitas declarações de outras mulheres que também foram vítimas da mesma pessoa.

E assim, a rotina dentro dos ônibus segue. Como também seguem as estatísticas de violência sexual contra as mulheres. Segundo uma pesquisa divulgada no início deste ano pelo Datafolha, 40% das mulheres brasileiras acima de 16 anos já sofreram algum tipo de abuso, sendo que 5,2 milhões foram vítimas de abuso físico em transporte público. Dentro deste quadro, 17% eram jovens e 12% negras.

Mulheres expõem medo constante de abuso sexual dentro dos ônibus

Até quando as mulheres terão que colocar todos homens na mira da desconfiança por simplesmente não saber quando o desrespeito e o machismo a tornarão a próxima vítima? Quando é que o direito de ir e vir, com a integridade sexual preservada, será igual para elas?

Campanha

Depois de casos de abusos dentro dos ônibus serem denunciados, a Subsecretaria de Políticas para as Mulheres espalhou cartazes dentro dos coletivos com os dizeres óbvios: “O Transporte é Público, o Meu Corpo Não”. A campanha é para incentivar as mulheres a gritarem por ajuda quando passarem por qualquer tipo de constrangimento ou agressão (física e verbal).

“Precisamos que no momento em que acontece o abuso, a mulher chame a atenção imediatamente para o fato. Que ela consiga reunir testemunhas e que formalize a denúncia na delegacia. Se o abusador ainda estiver dentro do ônibus, o motorista vai chamar a polícia e encaminhar a mulher e o abusador para a delegacia. É importante que a mulher faça a denúncia para que não haja subnotificação ”, explica subsecretária de Políticas para a Mulheres, Carla Stephanini.

Ato obsceno, importunação ao pudor ou estupro

Os últimos acontecimentos dentro dos transportes coletivos chamaram a atenção da polícia, que alerta a população aos tipos de crimes, que precisam ser denunciados. Os abusos sexuais podem ser classificados como , cuja pena é de três meses a um ano de prisão, ou importunação ofensiva ao pudor, que gera uma multa aplicada pelo juiz. Casos de violência ou grave ameaça são classificados como , e o criminoso pode ser condenado à pena de seis a 10 anos de prisão.

“Se o cara chega para uma mulher e diz: fica quieta senão te mato e pratica um ato depois da ameaça já é estupro”, enfatiza a delegada adjunta da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Fernanda Félix.

Segundo a delegada, os motoristas de transporte coletivo têm o poder de prender em flagrante delito. “Ele tem a faculdade de ajudar a vítima”, garante a autoridade policial. Ou seja, em casos de abusos ou estupros durante as viagens, é orientado que o condutor do ônibus tranque todas as portas do veículo e encaminhe o acusado para uma delegacia.

De acordo com a subsecretária de Políticas para a Mulheres, Carla Stephanini, os motoristas dos coletivos recebem orientações sobre como proceder e a vítima deve ligar o para o 190 (Polícia Militar) ou 153 (Guarda Civil Municipal). A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Consócio Guaicurus para saber sobre como é feita essa orientação aos motoristas, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

Na delegacia, segundo a chefe de Polícia, o autor é ouvido e, em caso de abuso sexual, assina um termo se comprometendo a comparecer no juízo quando intimado. Se for estupro, ele é preso em flagrante e não é arbitrado fiança pelo delegado em razão da gravidade do crime.

A delegada explica que “assédio sexual” é o termo técnico usado para constrangimento de uma funcionária causado pelo chefe. Ou seja, é necessário haver subordinação, uma relação de hierarquia.

“Em todos os casos, os atos são crimes contra a dignidade sexual da mulher”, esclarece a delegada.