Operação tartaruga começa na segunda-feira (26)

O tempo de espera para atendimento nas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) e UBSF (Atenção Básica) de pode ser maior a partir de amanhã (26), quando os médicos da prefeitura dão início à greve por reajuste salarial. A estimativa é de que o número de consultas seja reduzido pela metade durante os 10 dias de paralisação. 

A operação tartaruga pode levar a seis horas o tempo de espera para os pacientes não considerados em estado grave. “Se em 6 horas atendemos 20, 30 pacientes, a partir de amanhã será a metade”. Só serão casos de urgência, de quem realmente precisa de atendimento”, frisou o médico Renato Figueiredo. Com isso, pacientes das áreas verde e azul podem ficar sem assistência médica. 

De acordo com o Sinmed (Sindicato dos Médicos do Mato Grosso do Sul), todos os 1,1 mil que prestam atendimento na rede comparecem normalmente aos postos de trabalho, o que ocorrerá é o aumento do tempo entre um paciente e outro. Nas Upas (Unidades de Pronto Atendimento) e CRS (Centro Regional de Saúde), o atendimento contará com apenas 70% dos médicos e nas UBS (Unidades Básicas), o total de profissionais será reduzido a 30% do efetivo.
 
Briga por reajuste 

A paralisação é em resposta a proposta do prefeito Marquinhos Trad (PSD) de reajuste salarial, que ofertou 6% de correção nos plantões e 30% em uma das gratificações que é a de incentivo para aqueles que trabalham no ambulatório, fixada no valor de R$ 868,73. O problema, segundo o sindicato, é que apenas 12% dos médicos recebem essa gratificação.   

Os médicos reivindicam da Prefeitura de Campo Grande um reajuste de 27%, além de exigirem melhores condições de trabalho. Atualmente o salário base da categoria é de R$ 2.516,72.

A decisão da greve foi mantida mesmo depois da Justiça atender ao pedido da prefeitura e determinar a suspensão do ato, sob pena de multa de R$ 10 mil ao dia ao presidente do Sinmed em caso de descumprimento, mediante bloqueio de contas bancárias e de bens que estiverem em seu nome, com busca e apreensão de automóveis.

Em sua decisão, o juiz levou em consideração o prejuízo que a população poderia ter por conta da paralisação. “Ninguém vai procurar auxílio médico por mera distração”, destacou.

Altos salários ‘escondidos'

Em abril de 2017, o Jornal Midiamax fez levantamento dos salários da categoria. A negociação salarial dos médicos, aliada ao problema crônico de atendimento nas unidades de saúde, aumenta especulações sobre a verdadeira ‘caixa-preta' dos gastos municipais com os profissionais. Segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), o salário base da categoria é de R$ 2.516,72.

Na prática, no entanto, gratificações e plantões, sempre pagos em fórmulas complicadas e difíceis de verificar, elevam os ganhos médios mensais dos médicos que atuam na Prefeitura de Campo Grande. Em março, por exemplo, a média paga a cada um dos 927 médicos listados no Portal da Transparência ficou em pouco mais de R$ 11,5 mil.

Só na última folha salarial da Sesau, 9 médicos ganharam mais de R$ 39.200,00 e 111 receberam mais que o salário do prefeito Marquinhos Trad (PSD). Em um dos casos, médico que mantém dois vínculos com a Sesau levou dos cofres públicos municipais R$ 51.085,39 em março.

Acima do teto constitucional

Esses ganhos mensais extrapolam o salário de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), que deveria ser o teto salarial para todos os servidores públicos no Brasil. Além disso, a soma de rendimentos dos 10 mais bem pagos em março atinge R$ 419.983,09. Ou seja, somente estes servidores ficaram com a fortuna de quase meio milhão de reais, equivalentes a 4% do total de R$ 10.790.935,35 pagos aos médicos no período.

De quase mil médicos listados na última folha, apenas 31 receberam menos de R$ 3 mil, com remunerações entre R$ 2.986,78 e R$ 89,86. Juntos, eles receberam R$ 55.961,97, ou seja, pouco mais que o recebimento do mais bem pago em março. Além dos ganhos ​acima do teto constitucional, salários com valores ínfimos que também chamam a atenção.

Na Prefeitura, a informação oficial sobre as explicações para a folha de pagamentos aos médicos se limita a explicar que o salário base de médico na Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) é de R$ 2.516,72, mas que “gratificações podem praticamente dobrar este valor, além dos plantões”.