Jean Roberto Pereira Weiss Ramos, 29 anos, deixou esposa e uma filha

Durante oito anos, Jean Roberto Pereira Weiss Ramos, 29 anos, serviu o Exército Brasileiro e encerrou a carreira militar sendo enviado ao , em 2013, para uma missão de paz. Em 2015, ele teve que voltar para a iniciativa privada e encontrou emprego na função de eletricista, ofício que exerceu quando era bem mais jovem. E na última segunda-feira (23), um acidente de trabalho tirou a vida do pai de família.

Jean morava em – cidade distante 350 quilômetros de Campo Grande, era casado há 10 anos com a professora Patrícia Costa da Silva, 26 anos, e era pai de Gabrieli, 9 anos. Há dois anos e meio, segundo a esposa, ele passou a fazer parte do quadro de funcionários da , empresa responsável pela distribuição de energia elétrica em Mato Grosso do Sul.

O acidente ocorreu durante o expediente, por volta de 12h30, enquanto ele trabalhava na manutenção de uma rede de eletrificação rural na Rodovia MS-289, trecho que liga Amambai a Jutí. Segundo o diretor do Sinergia-MS (Sindicato dos Eletricitários de MS), Elvio Marcos Vargas, o eletricista foi fazer um atendimento urgente e por causa de uma falha de comunicação com o sistema da empresa, ele não recebeu a informação de que o posto estava ligado. Ele foi atingido por um choque e morreu na hora.

Patrícia conta que ficou sabendo sobre o acidente do marido através da imprensa, duas horas depois do ocorrido. “Fiquei desesperada, pois não conseguia ter notícias oficiais sobre ele. Fui saber onde estava o corpo só às 16h30”, conta a esposa.

Pressão no trabalho

A carga horária de Jean era de 8 horas diárias, com uma de almoço. Porém, segundo Patrícia, as horas extras do eletricista costumavam ser constantes, principalmente na época de temporais.

“No dia do acidente, ele entrou mais cedo, saiu de casa até sem tomar café, e nem veio almoçar. Ele gostava do trabalho, mas andava reclamando da pressão que estava sofrendo e da carga horário estendida. A mãe dele faleceu há 20 dias e ele teve medo de pegar atestado e a empresa mandar embora”, desabafa Patrícia.

O sindicato também denuncia a questão do treinamento dos funcionários, que é feito em formato de EAD (Ensino a Distância). “Entendemos que essa prática para uma concessionária de distribuição de energia elétrica é, no mínimo, irresponsável, considerando os riscos que os eletricistas estão expostos. Os treinamentos deveriam ser revistos e aplicados de forma presencial e com acompanhamento de profissionais legalmente habilitados, como era feito anteriormente”, ressalta Elvio.

Outro fator que o sindicato pontua é a produtividade. “É humanamente impossível cobrar que os trabalhadores cumpram todos os procedimentos de segurança, e que também realizem o maior número de serviços em sua jornada de trabalho. Existe uma pressão forte, para que se produza muito, em um tempo cada vez menor, sendo que, nos trabalhos envolvidos com energia elétrica, isto pode ser fatal, como se tem demonstrado”, declara o diretor do Sinergia.

Eletricista que morreu no trabalho serviu no Haiti em missão de paz

Em nota, a Energisa declarou que está prestando assistência à família e que cumpre rigorosamente todas as normas técnicas e procedimentos previstos na legislação da Segurança do Trabalho, além de fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPI'S) e Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC'S) para todas as equipes com o objetivo de evitar e mitigar a ocorrência de acidentes.

Sobre o treinamento, a Energisa garantiu que oferece, periodicamente, capacitação e atualização de treinamentos práticos e teóricos de seus colaboradores e, realiza encontros e eventos que reforçam e disseminam as diretrizes de segurança do Grupo. Para estar apto a atuar como eletricista, um colaborador deve cumprir, ao menos, 280 horas de treinamentos específicos. Para isso, a concessionária conta com um Centro de Treinamento, com área para a prática e simulação das intervenções no sistema elétrico.