Milhares de barracos espalham-se em

Campo Grande ganhou, há alguns anos, o slogan de ‘Capital sem favelas'. Em 2017, o cenário mudou. Seja pela falta de políticas públicas de moradia, somada ao avanço da especulação imobiliária, ou pela demora da imensa fila da Emha (Agência municipal de habitação popular) – além da rapidez com que as casas populares são vendidas de forma irregular -, a cidade se encheu de ocupações urbanas.

Hoje, a Capital exibe barracos nos seguintes bairros: Paulo Coelho Machado, Izabel Garden, Jardim Noroeste, Los Angeles, Jardim das Hortências, Indubrasil, Vila Romana, Jardim Montevidéu, Dom Antônio Barbosa, Parque do Lageado e Jardim Panorama. É possível, ainda assim, que as ocupações estejam em outros bairros da Capital. A maioria delas é formada por mulheres.

Os “invasores” como também são chamados, espalham-se por terrenos públicos e privados e descrevem um 2016 que deixou para trás empregos e aumentou o aluguel. Muitos instalaram-se em terrenos sob gestão da Prefeitura – destinados, por exemplo, para Ceinfs (Centros de educação infantil) – e repetem um questionamento simples: se estava desocupado, por que não posso morar?

Conheça alguns locais:

Bairro: Paulo Coelho Machado
Ocupação: antigo residencial da Homex

Moradores do local ocupam construções abandonadas e barracos (Luiz Alberto)

 

Ao menos 600 barracos espalham-se por essa ocupação, que lembra um imenso campo de refugiados. No local, ainda assim, os moradores estimam que o número seja muito maior. A queda de braço, nesse local, é com o setor privado. A empresa falida Homex Brasil Construções Ltda é uma empreiteira mexicana que veio para Campo Grande em 2010 com a promessa de ser a maior na construção de casas populares, mas que se tornou um pesadelo a quem confiou, nela vai leiloar o que restou do empreendimento aqui na cidade: o equivalente a 28 lotes, ou 9 mil metros quadrados.

Bairro: Residencial Izabel Garden
ocupação: Morro do Mandela, atrás do Residencial

Morro do Mandela, um vale de esquecidos (Cleber Gellio)

 

Essa ocupação estende-se em um vale, atrás do Residencial Izabel Garden e tem, em média, 500 barracos. Os moradores – liderados pela jovem Jaqueline Rocha Dias, 26 -, vivem ali desde julho de 2016, quando começaram a levantar os barracos.

O Morro do Mandela leva o nome do grande herói da África do Sul, mas a maioria das pessoas não sabem quem foi Nelson Mandela. O terreno é público, da Prefeitura, mas o impasse ali, ainda não chegou a um final.

Bairro: Jardim Noroeste
ocupação: Favela Alta Tensão

 

 

A rede de energia ameaça os moradores do local (Luiz Alberto)

 

Essa é uma ocupação antiga e quase esquecida em Campo Grande. No Jardim Noroeste, a proximidade entre os fios da rede elétrica com os barracos e o perigo que oferecem dá nome a essa , que já existe há 4 anos e tem 103 barracos. A liderança ali é conhecido como ‘Corumbá'.

“Aqui mora 3 pessoas, eu, minha esposa e a minha filha”, conta Giuliano Souza Rosa, 35, o ‘Corumbá'. “Não tem mais espaço”, responde ele, sobre a busca por um barraco na ocupação, que não recebe mais ninguém. “O juiz falou pra gente desocupar essa área, que era de risco. Quando aqui chove, dá raio. A gente fica dentro de casa, desliga tudo, televisão”, relata, sobre a rotina no local.

O Jardim Noroeste também abriga uma favela indígena, saiba mais aqui. O êxodo rural indígena no interior do Estado também resultou em outros núcleos de ocupação em Campo Grande. Como, por exemplo, o do bairro Vila Romana.

Bairro: Jardim Los Angeles

Ocupação: antigo Clube Samambaia

 

Moradores levantam casas de alvenaria na ocupação (Luiz Alberto)

 

Essa ocupação tem 192 famílias que resolveram levantar casas de alvenaria em um terreno que antes abrigava o Clube Samambaia, em janeiro. O impasse dos moradores é com a família que detém o espaço, mas conforme relataram, a viúva do antigo dono não vê problema no uso do local. Eles desejam pagar pelos terrenos, caso os proprietários desejem negociar.

“Se chegar o dono aqui e falar: ‘vendi pra uma imobiliária', não tem problema, a gente está disposto a pagar. A própria viúva do dono disse que isso aqui estava na Justiça, e tinha uma dívida muito grande. Ela falou assim: ‘eu achei até bom que o pessoal invadiu'”, contou uma vendedora que vive na ocupação, e preferiu não ser identificada.

Bairro: Jardim Panorama
ocupação: ‘Drama I' e ‘Drama II'

 

Chamada de Drama I, ocupação reúne quase 50 famílias (Luiz Alberto)

 

O Jardim Panorama é palco de duas ocupações que levam no nome – de forma irônica – a desigualdade social e a rotina difícil de quem vive nos dois locais. Chamadas de ‘Drama I' e ‘Drama II', são uma alusão aos luxuosos condomínios da incorporadora Damha. Os terrenos são da Prefeitura.

A Drama I fica na Rua do Átomo e na Rua Maria Pólvora Braga, tem cerca de 100 barracos, mas vivem ali 50 famílias, desde setembro de 2016.

“Quase todo mundo que ocupou aqui morava de aluguel aqui na região. O aluguel aqui está puxado. É R$ 500, R$580, você não acha barato. Meu marido ficou desempregado em agosto, e ele é ancião, está com 78 anos, e só o salário da aposentadoria não dava pra gente pagar o aluguel, que estava R$ 580”, contou uma das moradoras, Giovane Moura Baltazar, 26.

 

Drama II (Luiz Alberto)

 

 

Já a Drama II fica na Rua Londrina e tem mais de 100 famílias. Foi ocupada em outubro de 2016. “O mato tomou de conta. A gente já tinha feito cadastramento na Emha e já tinha ganhado. Aí a gente resolveu ocupar aqui”, relatou Crislaine da Cunha, 24, enquanto os moradores iam falando os endereços de origem: Nova Lima, Jardim Panorama (…).

Bairro: InduBrasil

Ocupação: antiga Colônia Penal

 

Ocupação é ligada ao MTST (Luiz Alberto)

 

Essa ocupação tem um diferencial: é ligada ao maior movimento de ocupações urbanas do Brasil, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que tem o maior núcleo em São Paulo. O local, no bairro InduBrasil, abrigava a antiga Colônia Penal, mas hoje exibe cerca de 300 barracos. O local foi ocupado no final de fevereiro.