Mulheres à frente da Prefeitura, Câmara e Fórum representam anos de luta
Em Dourados, maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul, distante 228 quilômetros de Campo Grande, quem comanda são elas. No poder público, Executivo, Legislativo e Judiciário são chefiados por mulheres. A situação se repete na principal entidade representativa da iniciativa privada, a Aced (Associação Comercial e Empresarial de Dourados). Nesta quarta-feira (8), data em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, essas protagonistas avaliam que o cenário local é fruto de muita luta, mas não pode ser usado para mascarar uma realidade diferente.
No dia 2 de outubro de 2016, Délia Razuk (PR), de 60 anos, foi eleita a primeira mulher para comandar a Prefeitura de Dourados. Esse importante cargo que passou a ocupar oficialmente no dia 1º de janeiro de 2017 lhe foi confiado por 43.252 moradores do município.
Também no alvorecer desse ano, Daniela Weiler Wagner Hall (PSD), de 39 anos, que nas eleições municipais de 2016 foi eleita com 1.178 votos, obteve nova vitória para presidir a Câmara Municipal de Dourados.
E no dia 1º de março a juíza Daniela Vieira Tardin, de 44 anos, assumiu a Direção do Foro de Dourados. A magistrada já comandava a 4ª Vara Cível da Comarca, após ingressar no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul mediante aprovação em concurso público no ano de 1999.
Antes dessas três gestoras de poder público, Elizabeth Rocha Salomão, de 61 anos, já havia sido eleita em 2016 para comandar a Aced até 2019. Empresária, ela também integra o primeiro escalão da Prefeitura de Dourados.
“É um exemplo para o Brasil. Um orgulho para a cidade ter três mulheres comandando Executivo Legislativo e Judiciário. É a mostra que a mulher tem um potencial e precisa reconhecer em si mesma seu valor”, avalia Délia Razuk, prefeita que não abriu mão de ter ao seu lado, divulgado as ações da prefeitura, Beth Salomão.
Para a empresária e assessora de comunicação, “em Dourados a trajetória das mulheres tem sido de conquista de espaço e reconhecimento”. “As mulheres, com sua capacidade, estão conquistando diversos espaços. Classe empresarial e poder público têm à frente de suas gestões mulheres. É um espaço conquistado com trabalho, com determinação. Nossa própria postura profissional, postura política, permitiu que chegássemos a esses lugares”, pontua.
“É um reconhecimento de tudo o que foi feito ao longo desses anos, da participação que tivemos em diversos segmentos. Essa posição que estamos conquistando ao longo dos anos é reconhecida pelas mulheres e principalmente pelos homens, porque eles estão reconhecendo que nós podemos estar ao lado deles. É importante essa aceitação do mundo masculino, porque eles precisam estar do nosso lado, porque muitas vezes somos movidas pela emoção e o homem acrescenta a razão”, avalia.
Para Daniela Hall, essa condição de ter sempre homem por perto é frequente. Única mulher eleita para o Legislativo douradense em 2016, ela divide o Plenário Weimar Gonçalves Torres com 18 parlamentares do sexo masculino. Mas desde o princípio do mandato não enfrenta problemas com isso, já que foi eleita para comandar o Palácio Jaguaribe, a sede da Casa de Leis.
“Eu fico muito feliz que as mulheres tenham conquistado os maiores postos dentro dos três poderes no município de Dourados. Isso confirma que a mulher está casa vez mais disposta a discutir os problemas da sociedade e fazer parte das grandes discussões”, ressaltou, desejando muito sucesso às colegas que também enfrentam o desafio diário do comando. “Que Deus acompanhe as decisões delas, com sabedoria para que possam gerir e administrar nossos poderes. Fico feliz e tenho certeza que a mulher tem essa sensibilidade, principalmente as que são mães, para realmente visualizar os problemas de cada comunidade e poder tomar as melhores decisões.”
Contudo, a composição atual do Legislativo municipal é para a juíza Daniela Vieira Tardin um exemplo de que o cenário de poder feminino em Dourados pode mascarar uma realidade mais comum do que possa parecer.
“Acho que tem duas facetas dessa coincidência [do poder público ser comandado por mulheres]. Positiva porque demonstra que houve avanços com a mulher conseguindo galgar poder. Mas dá a falsa impressão de que conseguimos uma igualdade que de fato não acontece. No serviço público, com acesso por concurso, temos situação mais privilegiada, em função dos planos de cargos e carreiras não temos a distinção remuneratória que existe na iniciativa privada”, destaca.
Numa opinião que pode ser ilustrada perfeitamente com a formação da Câmara Municipal, a magistrada cita a baixa representatividade feminina em processos eleitorais. “Infelizmente a mulher não consegue acesso sequer a concorrer a cargos eletivos, é um desnível absurdo. Não podemos acreditar que conseguimos uma igualdade que de fato não existe. Isso já começa da origem, pouquíssimas mulheres são lançadas candidatas e muitas vezes por questão protocolar”, lembra a juíza, que nas eleições municipais de 2016 respondeu pela 18ª Zona Eleitoral.