‘Manda quem pode’, ouvem os profissionais
Perto da data das eleições, as escolas municipais viraram palco de denúncias sobre perseguições e demissões com suspeita de cunho político. Os profissionais têm feito relatos diários de punições de diretores a professores e da própria Semed (Secretaria Municipal de Educação) a diretores e coordenadores.
Os profissionais dizem estar sendo coagidos de diversas formas e o problema, é a identificação. Nenhum servidor, a menos que já tenha sido exonerado, pode dar ‘a cara para bater’. Os concursados temem as perseguições e remoções e os contratados, temem a demissão. Até reclamação de mãe no Facebook, vira questão política.
Questionada, a Prefeitura da Capital diz que sem nome do reclamante e da escola “não é possível responder ou apurar a veracidade destas denúncias que chegam de forma anônima, sem nenhum dado que comprove a sua autenticidade”.
Na última terça-feira (9), o Jornal Midiamax encaminhou um e-mail com cinco questionamentos à assessoria de comunicação do Executivo, pediu que a solicitação foi olhada com cuidado, apesar de não constarem nome, pois o sigilo dos denunciantes é uma garantia constitucional, porém, os questionamentos não foram respondidos de forma precisa.
As perguntas foram: 1. A Semed possui um levantamento de quantos professores estão afastados por problemas psicológicos? 2. Qual tem sido o encaminhamento da Semed com relação às denúncias de professores sobre as direções? 3.O que nos é relatado é que diretores fazem caça às bruxas aos professores com remoções e até perda de aulas. A Semed tem conhecimento do tais ocorridos? 4.Perto das eleições, o que nos tem sido relato é que quem não é ‘time Bernal’ pode acabar sofrendo retaliações e que ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’. A Semed está orientando os diretores a não deixar que a situação política interfira na educação?
A resposta foi (na íntegra): Sem fatos concretos não é possível responder ou apurar a veracidade destas denúncias que chegam de forma anônima, sem nenhum dado que comprove a sua autenticidade. A Semed apura toda e qualquer denúncia, agindo sempre de forma respeitosa aos profissionais. A seleção de pessoal para trabalhar na secretaria é feita por meio da avaliação curricular e profissional e também por concurso público.
A Semed ainda encaminhou circulares às escolas municipais proibindo que diretores e professores divulguem informações, sendo que tudo deve passar pela assessoria de comunicação da Semed. O documento manda que as páginas das escolas no Facebook sejam desativadas no prazo de 72 horas e afirma que o não cumprimento pode acarretar punição da direção.
Conforme a Prefeitura, a CI se refere especificamente às eleições. “No período eleitoral tem que haver um cuidado maior com as redes sociais, pois não pode haver confusão entre o pessoal e o profissional, por isso a melhor opção é desativar momentaneamente. É uma forma de proteger as unidades e evitar o uso eleitoral. Questão de segurança e profissionalismo. Lembrando que estamos falando das unidades e não dos profissionais, que têm toda a liberdade para expressarem suas opiniões e utilizarem seus perfis pessoais, tomando o cuidado para evitar durante o período de trabalho, para não atrapalhar o desenvolvimento de suas atividades“, diz a assessoria de imprensa.
Depressão e síndrome do pânico
“Estou afastada. Tive depressão e síndrome do pânico. Meu médico não deixa eu voltar para a escola”, diz uma das professoras. A servidora diz que na escola em que está lotada, acontecem “coisas terríveis” aos professores e que os alunos são tratados com descaso, pois o local possui diversos problemas de infraestrutura. A professora afirma ter sido perseguida pela diretora da escola em que dava aula e chegou a sofrer retaliações “por conta de fofocas”.
“Me humilhou e ninguém tem coragem de falar. Todo mundo diz: se eu disser alguma coisa, vou perder o meu lugar. Estão todos acuados. Se alguém pensa em falar alguma coisa ouve: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Está perto das eleições, começaram uma caça às bruxas”.
Contratada mandada embora
Em outras escolas, o questionamento é com relação aos contratados que são mandados embora. “Uma professora foi mandada embora e a justificativa foi de que precisa lotar os concursados. Manda embora em uma época difícil de se conseguir emprego, pois já começou o semestre. Novamente sacaneando a educação. Nossa escola só tá sendo alvo desse prefeito. Demitiram uma contratada, mas, pegaram para coordenadora uma contratada também. Por que não ficaram com a professora que já tinha ali e que era excelente. Era uma das mais queridas”
Super professora
A mãe de um aluno de Ceinf (Centro de Educação Infantil) também entrou em contato para reclamar da demissão de uma professora contratada. “Os pais estão indignados com a perda de uma professora. Ela é uma super professora e tinha conversado pra tentar ficar até o final do ano por conta das crianças”.
Kit Rabiscado
A mãe de uma criança do 4° ano de uma escola da Reme, denunciou por meio de postagem no Facebook, que o kit de material escolar da filha veio todo rabiscado. Depois, ela explicou em outra postagem no Facebook, que foi procurada pela direção da escola e informada que a situação foi causada por um engano da Semed.
Conforme a mãe, a Semed teria entregue equivocadamente, os kits dos alunos do 4° ano, às crianças da pré-escola, que foram as ‘artistas’ que desenharam nos cadernos. Em uma das foto que a mãe postou, aparece um caderno com um boneco desenhado e um balão de fala com as letras: BER. Logo, o caso se tornou situação política, com a secretaria de educação dizendo que não descartava a possibilidade de o caso ter envolvimento político-partidário.
“A secretária da Semed disse que isso foi uma ação de cunho politico e partidário. Disse ainda que procurei a imprensa primeiramente, antes de procurá-los, o que não é verdade. Eu não procurei pela imprensa, eles me procuraram e me perguntaram o que tinha acontecido e disse também que usei de má-fé. Quem realmente me conhece sabe que nem de política eu gosto e esse não é meu intuito. Estava em busca dos direitos da minha filha e agora eles querem inverter a situação“, diz a postagem da mãe.