Eles são apontados no assassinato de agente de saúde

O juiz federal Moisés Anderson da Costa Rodrigues da Silva, da 1ª Vara Federal de Ponta Porã, postergou a análise do pedido de revogação da prisão preventiva dos quatro fazendeiros investigados pelo envolvimento no assassinato do agente de saúde indígena Clodioude Aquileu Rodrigues de Souza, 26, no dia 14 de junho na fazenda Yvu, na região de Caarapó.

Jesus Camacho, Virgílio Mettifogo e Eduardo Yoshio Tomonaga estão detidos em Dourados e Nelson Buainain Filho em Campo Grande.

Advogado dos quatro fazendeiros, Felipe Cazuo Azuma explicou que o pedido está com o MPF (Ministério Público Federal). “Fizemos um pedido por escrito, esse pedido está com o MPF, que ficou de entregar até hoje a noite”. Apesar de não advogar para Dionei Guedin, pecuarista que estaria foragido, Felipe afirmou que “ele, na verdade estava pescando”.

Investigação

As investigações do MPF fazem parte da operação Avá Guarani e começaram após a morte de Clodioude, que foi alvejado por dois disparos de arma de fogo, um no abdômen e outro no peito. No dia 5 de julho, a Justiça Federal de Dourados deferiu requerimento do MPF e expediu os mandados de prisão, que, segundo o MPF, aguardaram a execução pela Polícia Federal por mais de 40 dias.

A PF respondeu, por meio de nota, para justificar a demora. “Primeiramente, não ocorreu qualquer atraso injustificado para o cumprimento das decisões judiciais, sendo que causa espécie esta manifestação, uma vez que o MPF participou de todo o processo de investigação, acompanhando todas as necessárias diligências realizadas pela Polícia Federal para o deslinde da questão”, afirmou.

Para os integrantes da força-tarefa, no entanto, a demora é reflexo da “falta de priorização da questão indígena pelo Executivo em todo o país”. “Apesar da morte de um índio e da lesão de outros nove, foi necessário aguardar 44 dias para que os responsáveis pela violência fossem presos. Se não houvesse essa demora injustificada, ao menos seria possível evitar o segundo ataque à comunidade, que feriu três indígenas”.

Ocupação

No dia 12 de junho, índios kaiowá e guarani da reserva Tey Kuê ocuparam a Fazenda Yvu, que incide sobre a Terra Indígena (TI) Dourados Amambai Peguá I, chamada pelos indígenas de ‘tekoha guasu’, grande tekoha, em guarani. A TI prevê outras 86 fazendas incidentes no território tradicional, que possui 55 mil hectares. O relatório de delimitação e identificação foi publicado no dia 13 de maio pela Funai (Fundação nacional do índio).

No dia 13 de junho, agentes da Polícia Federal foram notificados da ocupação por fazendeiros que os levaram até o local. De acordo com o MPF, os policiais não encontraram reféns e foram informados pelos indígenas de que o proprietário poderia, em 24h, retirar o gado e seus pertences do local.

Além dos fazendeiros presos, cerca de 300 proprietários rurais, com armas de fogo e rojões, organizaram-se para expulsar os kaiowá à força no dia 14 de junho. Testemunhas afirmam que foram mais de 40 caminhonetes que cercaram os índios, com auxílio de uma pá carregadeira, e começaram a disparar em direção à comunidade. Os kaiowá e guarani também afirmam que motocicletas foram queimadas e enterradas pelos fazendeiros.

No ataque, oito ficaram feridos e um faleceu. Dos indígenas lesionados, um deles tinha apenas 12 anos e levou dois tiros. Um dos feridos continua internado.