Discussão sobre o Estado vai além do ‘Do Sul!' gritado após gafes em público

Neste domingo, 11 de outubro de 2015, completa 38 anos desde a divisão do Estado de Mato Grosso, em 1977. Quase quatro décadas depois, no entanto, muita gente ainda não reconhece a separação territorial, e teima em chamar as duas federações pelo mesmo nome, enquanto moradores buscam reforçar traços da identidade sul-mato-grossense.

São incontáveis os casos de personalidades, de políticos a apresentadores de televisão, que já se referiram a Mato Grosso do Sul como Mato Grosso. No universo dos caminhoneiros, por exemplo, é comum chamar o Estado como ‘Mato Grossinho', ao passo que em eventos públicos, é famoso o sonoro “do Sul” gritado após alguém pronunciar a gafe.

Nas ruas, é possível identificar que a ‘confusão' do nome ainda gera discussão. “Para o sul-mato-grossense, a identidade é uma coisa muito concreta. Sabemos quem somos. O problema é que os outros Estados não compreendem a divisão, porque sempre nos tratam como Mato Grosso. Quem sabe, se mudássemos o nome melhoraria, mas isso também geraria outra polêmica”, diz Lucy Kelly Martins Dias, de 24 anos, bacharel em Direito.

Já Rosineide de Jesus, de 42 anos, defende que os demais Estados aprendem a diferenciar e respeitar Mato Grosso do Sul. “Acho que não devem mexer no nome porque os outros não sabem a diferença entre um e outro. Eles que aprendam e respeitem, não só nossa identidade, como também nossa cultura. Somos povos diferentes e não tem motivo para confundir”.

O caminhoneiro Lourivaldo Balbueno Benitez, de 49 anos, reforça a afirmação, dizendo que conhece MT e a diferença cultural é uma coisa evidente. “Confundem porque o nome é parecido e, erroneamente, acredita-se que a cultura é igual, mas quem conhece os dois sabe que não tem nada a ver. Ninguém confunde Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte, porque a diferença entre os dois já foi destacada milhões de vezes. Acho que falta isso aqui”, defende.

Até escândalos de corrupção entram na conversa sobre a confusão dos nomes e a história de Mato Grosso do Sul. “Triste mesmo é ver o que os atuais políticos estão fazendo com o nome da gente. É tanta corrupção que dá até vergonha da gente falar de onde vem”, desabafa o vendedor de picolés João Alves Sobrinho, 86 anos, que vê benefícios desde a criação do Estado: “a população ficou mais assistida, com um governo mais próximo”.

Rayana Sartori, de 21 anos, vendedora ambulante, fala do ‘mito' dos animais. “Todo mundo acha que a gente vive no mato. Meus amigos de outros Estados perguntam dos bichos na rua. Gente, pelo amor de Deus. Pelo menos estamos avançando em relação ao nome. Acho que o fato de impormos nossa identidade, corrigindo e argumentando com quem fala errado, tem obrigado as pessoas a pensarem antes de falar”, analisa.