Crise na cadeia da carne provoca demissão de trabalhadores de curtume

Sem couro, produção caiu pela metade diz Sindicouro

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Sem couro, produção caiu pela metade diz Sindicouro

A crise no mercado da carne está refletindo também na produção dos curtumes do Estado. Conforme o presidente do Sindicouro (Sindicato das Indústrias de Curtumes, Couros e Derivados de Mato Grosso do Sul), Max da Silva Souza, a produção diária caiu pela metade em algumas empresas do setor e para diminuir os gastos, algumas empresas optam por demitir os funcionários.

Souza afirma que o Estado conta com 12 curtumes, quatro apenas em Campo Grande. Com o fechamento de 14 frigoríficos nos últimos dez meses, como foi anunciado pela Assocarnes (Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne de Mato Grosso do Sul), a matéria prima está escassa.

“Devido ao fechamento dos frigoríficos fica mais difícil para os curtumes conseguir couro. A produção cai. Alguns que costumam rodar quase 3 mil couros por dia, estão rodando mil ou pouco mais”, pontua.

Nesta manhã, pouco mais de 15 trabalhadores do curtume Braspele e outros, localizado no Núcleo Industrial de Campo Grande, fizeram uma manifestação por conta de atraso salarial e demissões realizadas sem o pagamento da rescisão trabalhista. Os funcionário também acusam a empresa de não depositar o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço)

O operador de máquinas Eduardo dos Santos, de 23 anos, que foi demitido no último dia 26, trabalhou na empresa por mais de dois anos e afirma não ter recebido a rescisão. “Fui consultar meu FGTS e só tinha R$ 326,00, não depositaram, além disso, não recebi minhas férias e nem os dias trabalhados. Disseram que iriam acertar no dia 10, depois mandaram a gente voltar dia 15 e depois disso falaram para a gente voltar hoje e até agora nada. A gente tem de pedir ajuda para amigos, fazer diárias, não tem outro jeito”, declara.

O ex-funcionário Cícero Camargo Gomes, de 41 anos trabalhou por três anos como segurança e também afirma não ter recebido o pagamento. “Fui mandado embora e não recebi nada. Estou sem dinheiro, sou casado e não sei o que fazer”, lamenta. O operador de fulão, Marcos da Silva, de 41 anos, também foi demitido, porém não recebeu.

“Trabalhávamos de domingo a domingo e depois que fui demitido não recebi nem os dias trabalhados. Enquanto isso o dono anda de mercedes, avião, o filho dele anda de caminhonete e dinheiro para pagar a gente ele não têm”, destaca.

Em entrevista ao Jornal Midiamax, o advogado que representa a empresa, Aorimar Oliveira da Silva diz que a empresa está passando por crise financeira e que a situação ficou ainda mais alarmante depois do fechamento do frigorífico Marfrig, localizado em Paranaíba, que nesta semana anunciou que encerrará as atividades neste sábado (18).

 “A empresa neste momento não tem dinheiro em caixa para saldar as verbas rescisórias. Fecharam 14 frigoríficos no Estado e dependemos deles para tocar a empresa porque precisamos da matéria prima. Há muito tempo a empresa está passando por dificuldade e vinha lutando para sobreviver. Com o fechamento do último frigorífico a empresa ficou perdida e sem ação”, justifica.

Quanto aos relatos dos funcionários, o advogado confirma as afirmações. “ Eles estão dizendo a verdade. A empresa tem intenção de resolver o problema o mais rápido possível, porém, o sindicato não quis fazer a rescisão e protocolamos um pedido de mediação no Ministério do Trabalho. Temos como pagar apenas parceladamente, não temos outra solução”, alega.

O presidente do Sindicouro explica que o sindicato não realizou as rescisões por conta dos débitos trabalhistas da empresa. “Preferimos não fazer a rescisão porque  empresa quer fazer isto sem acertar algumas questões que estão pendente, como o FGTS e o pagamento da multa e férias. Queremos seguir a lei”, frisa.

Os manifestantes que passaram a manhã de hoje na frente do curtume, afirmam ainda que o curtume está substituindo os funcionários por detentos a fim de evitar gastos trabalhistas. Segundo as informações, ao menos 50 detentos trabalham no local.

De acordo com a Cartilha do do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego),  as empresas que utilizam mão de obra carcerária ficam isentas de encargos sociais, como FGTS; aviso prévio indenizado ou não; indenização adicional; repouso semanal remunerado; férias mais 1/3 do salário; auxílio enfermidade; 13º salário; licença paternidade e contribuição previdenciária, Isto porque não há vínculo empregatícios nestes casos.

O advogado da empresa confirma as contratações de mão de obra carcerária. “Além de diminuir o custo da empresa, a gente faz um trabalho social”, pontua.  Quanto aos funcionários demitidos, Silva diz que a empresa tomará providências a fim de diminuir os prejuízos. “Vamos providenciar cestas básicas, mas não sabemos quando por estamos sem dinheiro”, observa. Até o momento não foi definida a data para a audiência de mediação.

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