Diversas famílias campo-grandenses estão há um bom tempo vivendo diariamente sem um direito básico: iluminação pública. Apesar de pagarem pelo serviço, não estão usufruindo dele. Pelo contrário, estão vivendo literalmente no escuro. A reportagem encontrou três ruas de diferentes bairros da Capital que estão sem luz há, no mínimo, um mês.

1º lugar: Rua Nioaque – Santo Amaro (20 anos) – Nem com ofício à Câmara 

Matéria publicada pelo Midiamax em julho relata o drama de quem vive na Rua Nioaque, perto do cruzamento com a Rua Machado de Assis, no Bairro Santo Amaro. Os moradores estimam estarem há 20 anos com poste sem luz.

De acordo com os moradores, a rua virou ponto de usuários de drogas, de encontro de casais, de roubos e foi palco até de tentativa de estupro. Todo tipo de lixo é despejado e até um revólver já foi encontrado no local.

Os moradores revelam já terem ido atrás de solução, chegando até a enviar ofício à Câmara e afirmam ter procurado a Prefeitura e a Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação) inúmeras vezes.

Na ocasião, a Prefeitura informou que está programado na (Seintrha) levantamento de dados no local para identificar as providências a serem adotadas. Mesmo 20 dias após a reportagem, o problema não foi solucionado e eles seguem no escuro.

2° lugar: Rua Lírio dos Campos – Jardim Aero Rancho (seis meses) – Gambiarra

Residentes da Rua Lírio dos Campos, no Jardim Aero Rancho, estão há seis meses sem iluminação pública. De acordo com os moradores, tudo começou quando o braço do poste caiu. ”Funcionário da Prefeitura veio e fez uma gambiarra horrível. Ele amarrou os fios e em menos de uma semana queimou a lâmpada”, conta vizinha.

A partir daí, iniciaram uma batalha na Seintrha. “A gente ligou tanto lá que ficamos conhecidos. Temos dois números de protocolos. E sempre a mesma história. Em até sete dias vão arrumar. De sete em sete dias chegamos a seis meses sem luz”, reclama morador.

Os habitantes contam que a insegurança aumentou com a escuridão. Usuários de drogas e assaltos começaram a acontecer com mais frequência. Para evitar correr riscos e iluminar a rua, eles deixam as luzes de casa acesas. “Um serviço que é direito nosso, pagamos caro e não temos acesso. Para outras coisas a Prefeitura tem dinheiro ”, critica moradora.

Em nota à reportagem, a Seintrha negou a gambiarra e disse que a rua tem sido atendida sempre que são feitas as solicitações e que fariam novo atendimento.

3° lugar: Rua Caratinga – Guanandi II (um mês) – Foi trocar e esqueceu

Quem vive na Rua Caratinga, no Guanandi II, está há um mês no escuro. Segundo relato dos residentes à reportagem, funcionário da Prefeitura teria ido ao local no início de julho trocar a lâmpada, que estava queimando. Entretanto, ele teria levado a lâmpada e nunca mais voltado.

Desde então, pelo menos seis casas estão totalmente afetadas pela falta de iluminação. “A partir das 18 horas já fica um breu. Às cinco horas da manhã também, escuridão total”, relata morador.

Outra família deixa a luz da casa acesa para esperar primeiro para ir buscar a filha no ponto de ônibus quando ela volta da faculdade, às 23 horas, e depois para quando o marido chega, às 2 horas. “A região já é perigosa com luz, no escuro então, temos que redobrar a atenção”, conta moradora.

“Pagamos para ter iluminação pública e estamos sem. É um absurdo, é direito básico da população”, reclama outro.

A assessoria da Prefeitura declarou em nota que os moradores devem ligar para o número 3314-3675, solicitando o serviço à Seintrha. A nota ainda pede “apoio da população, uma vez que em algumas regiões é grande o número de depredações na iluminação pública”. Sobre a retirada da lâmpada, a Prefeitura não respondeu.

Câmara investiga alto orçamento e pouca manutenção

Com um orçamento de R$ 5 milhões mensais, arrecadados por meio da Cosip (Contribuição Para Custeio do Serviço de Iluminação Pública), empresas particulares, responsáveis pela manutenção da rede de energia em Campo Grande, serão investigadas pela Câmara.

Segundo o vereador Coringa (PSD), bairros como o Pacaembu e o Indubrasul estão no escuro. “As empresas não estão cumprindo os contratos de licitação que foram firmados com a Prefeitura”. De acordo com a Seintrha, são seis empresas, escolhidas por licitação pública.

Projeto de Coringa na Câmara visa uniformizar a Cosip em R$ 5 para imóveis residenciais. Atualmente, essa taxa é cobrada de acordo com o consumo individual de cada casa, gerando uma variação descabida de R$ 20 a R$ 30 em imóveis vizinhos cujos moradores são beneficiados pelo mesmo poste elétrico, ou seja, os moradores usufruem da mesma luz e pagam contas diferentes.

O secretário municipal de infraestrutura, Semy Ferraz, afirma que essas empresas são acompanhadas de perto pela Prefeitura e que a Seintrha está fazendo levantamento detalhado das reivindicações do vereador.

Semy diz que haverá novos procedimentos licitatórios para a escolha de novas empresas. Segundo ele, conforme os contratos vão vencendo novas licitações são abertas, podendo haver troca. Ele também ressalta que, por enquanto, a Prefeitura não tem projetos para trocar as lâmpadas convencionais para as lâmpadas de LED, que consomem menos energia.

Já a Enersul (Empresa Energética de Mato Grosso do Sul) diz ser responsável apenas pela arrecadação da Cosip, atribuindo a aplicação dos recursos à Prefeitura.

(Colaborou Munyz Arakaki)