O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou reunião virtual com líderes dos países-membros do Brics na manhã desta segunda-feira, 8 de setembro, para voltar a criticar o tarifaço norte-americano, as guerras em crescente escala no Oriente Médio e amparar sua tese de que caberá ao bloco a defesa do multilateralismo.
Em seu discurso, Lula destacou que, diante da ausência das bases de soberania nacional, o caminho para confrontos violentos se pavimenta. Ele também criticou a tensão no Caribe, com a chegada de navios de guerra norte-americanos.
“Quando o princípio da igualdade soberana dos estados deixa de ser observado, a ingerência em assuntos internos se torna prática comum. A solução pacífica de controvérsias dá lugar a condutas belicosas”, pontuou.
O presidente do Brasil acusa que os países do bloco se tornaram “vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais”. A fala é destinada, especialmente, ao governo estadunidense, que, sob o novo mandato de Donald Trump, tem adotado o modus operandi da taxação para pressionar parceiros internacionais a se adequarem aos seus interesses — ainda que isso inclua ferir o curso do sistema judiciário e a democracia das nações afetadas.
“A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas. A imposição de medidas extraterritoriais ameaça nossas instituições. Sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos. Dividir para conquistar é a estratégia do unilateralismo”, afirmou, destacando que cabe ao Brics mostrar que cooperação é a alternativa mais adequada para se superarem as rivalidades.
Em outro momento do discurso, Lula rechaçou a presença de navios de guerra norte-americanos no Mar do Caribe. Para o petista, “a presença de forças armadas da maior potência do mundo [na região] é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”.
Guerras no Oriente Médio
Lula considera que o cenário de guerra vivido no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria voltarão a se repetir sem amparo no direito internacional.
Ao se referir à Ucrânia, nação em guerra com a Rússia, membro do Brics, Lula adotou tom cauteloso. “É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista que respeite as legítimas preocupações de segurança de todas as partes”, afirmou, num aceno de neutralidade ao presidente russo Vladimir Putin.
Lula crê que o encontro no Alasca e os desdobramentos em Washington devem dar o norte para pôr fim ao conflito, iniciado em 2022.
Lula fez questão de mencionar a situação da Faixa de Gaza. Para o presidente brasileiro, há em curso um genocídio contra a nação palestina.
“A decisão de Israel de assumir o controle da Faixa de Gaza e a ameaça de anexação da Cisjordânia requer nossa mais firme condenação. É urgente colocar fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos Territórios Palestinos”, disse, em crítica às condutas adotadas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Lula promete tratar a Solução de Dois Estados como prioridade na atuação brasileira durante a Conferência de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina.
Agenda em Nova York
A 80ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas, que começa nesta semana (9/09), é esperada com expectativa pelo petista. Espera-se Debate Geral de alto nível, que ocorrerá de 23 a 29 de setembro de 2025.
Lula considera o encontro como a oportunidade para que os representantes do bloco assumam a defesa de um multilateralismo revigorado.
“Devemos avançar na ampliação do Conselho de Segurança, incorporando novos membros permanentes e não permanentes da América Latina, da África e da Ásia”, afirmou.
Lula ainda abordou os impactos da tecnologia sobre a busca pela cooperação multilateral. “Sem uma governança democrática, projetos de dominação centrados em poucas empresas de alguns países vão se perpetuar. Sem soberania digital, seremos vulneráveis à manipulação estrangeira”, destacou, ressaltando que não se pode considerar o ‘isolacionismo tecnológico’, mas fomentar a cooperação a partir de ecossistemas de base nacional, independentes e regulados.
Lula acusa também o impacto do unilateralismo na área ambiental. Em seu discurso, ele tratou o tema com aspecto de gravidade.
“Os países em desenvolvimento são os mais impactados pela mudança do clima. A COP30, em Belém, será o momento da verdade e da ciência. Precisamos de uma governança climática mais forte, capaz de exercer supervisão efetiva. O Brasil convida seus parceiros do Brics a considerar a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU, que articule diferentes atores, processos e mecanismos que hoje se encontram fragmentados”, disse.
O presidente brasileiro antecipou aos membros do bloco a intenção de lançar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, previsto para ser colocado em pauta na COP30, “com o objetivo de remunerar os serviços ecossistêmicos prestados ao planeta”, destacou.
“O unilateralismo jamais conduzirá à realização dos propósitos de paz, justiça e prosperidade que nossos antecessores delinearam em 1945. O Brics já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, finalizou.
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(Revisão: Dáfini Lisboa)