Venâncio da Silva Anschau, técnico de áudio da Gurizada Fandangueira na época do incêndio na Kiss, foi uma das pessoas a depor no sétimo dia de julgamento.

O ex-técnico chorou em diversos momentos ao lembrar do acidente, e reconheceu em depoimento que errou ao desligar os microfones no momento do incio do incêndio.

Conforme descreveu Venâncio, a banda subiu no palco por volta de 2:30h da manhã e ele estava na mesa de som no momento em que os fogos de artifícios foram acionados. Mesmo próximo ao local onde o fogo começou, ele disse não ter percebido.

“A forma como eu vi: a banda está tocando, eu estava concentrado na tela, estava programando um efeito para a próxima música, de cabeça baixa, e a banda para de tocar. Eu reviso o equipamento e não há nada de anormal com o equipamento. Alguém sobe no palco, tem extintor, e eu fecho o áudio na banda, não tinha visão do que estava acontecendo. Eu não tenho dimensão, não imagino o que esteja acontecendo e eu desligo os microfones. Eu desabilitei o áudio. Errei. (…) Quando o rapaz sobe ao palco, eu corto o áudio”, afirmou o ex-funcionário da banda, que atualmente é servidor público.

Por desabilitar o som naquele momento, em conversa com Marcelo de Jesus, vocalista da banda que se apresentava aquele momento, e o responsável por levantar os fogos de artifício, se questionava sobre o que aconteceu. Ele dizia não entender porque batia no equipamento e não saía som. Venâncio em sua defesa, esclareceu que no microfone não foi feito nenhum anuncio ao público do que ocorria.

Ele ainda acrescenta que estava próximo da porta da casa noturna, por isso sua saída foi fácil e rápida.

“Fiquei internado por cinco dias, fui internado no dia subsequente à prisão dos quatro [réus], e eu não queria ir para o hospital, eu não tive queimaduras, fui internado por exposição à fumaça” conta o ex-funcionário.

Arquieteta da reforma foi ouvida também

A arquiteta Nivia da Silva Braido, foi ouvida nesta terça-feira (7) na condição de informante. Ela informou que foi contratada por Elissandro Spohr, um dos sócios da casa noturna. Na época Elissandro queria dicas da arquiteta sobre papel de parede. Por este motivo, Nivia acabou indo ao local, fez fotos e realizou simulações em cima das imagens. Nivia ainda reforçou sobre a importância de um profissional que garanta a segurança da obra.

“Qualquer mudança de layout, reforma, mesmo uma obra residencial, é necessário um profissional que garanta a segurança da obra, tanto durante quanto a garantia pós-execução”, disse em depoimento.

“Me surpreendi com o tamanho da obra, era uma obra grande, foi construída parede de pedra. Fiz fotos para simulação. Na oportunidade, alertei sobre o risco de não ter responsável técnico. Tinha o risco de passar algum fiscal da obra pela calçada e perceber a ausência do profissional.
Naquela altura da obra, já tinham sido gastos R$ 130 mil, por isso a profissionalacabou não sendo contratada.

Chefe de bombeiros que atuou no dia da tragédia, depõe

O Coronel Gerson da Rosa Pereira, disse que a estava com alvará vencido, mas em condições de funcionamento, com extintores e sinalizações luminosas.

Pereira era major em 2013 e chefiava o Estado Maior do 4º Comando Regional de Bombeiros, responsável pela região de Santa Maria, quando ocorreu a tragédia, que resultou na morte de 242 pessoas. A testemunha foi convocada pelos defensores de Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da danceteria incendiada.

Gerson ainda chorou em alguns momentos durante o depoimento. A primeira delas, quando lembrou das filhas, que cogitaram ir à festa da Kiss na noite do incêndio. As meninas, adolescentes, eram amigas de muitas das vítimas, mas acabaram desistindo por causa de outros compromissos.

O major chegou a ser condenado a seis meses de prisão, em 2015, por fraude processual em relação a documentos da boate. A Justiça entendeu que ele acrescentou documentos ao Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) da boate Kiss, que era precário.
Num primeiro momento, a pena de Gerson foi transformada em prestação de serviços comunitários. Depois, enquanto aguardava recursos, a punição foi extinta por prescrição dos prazos legais do processo.

Pereira considerou “ridículo” o processo judicial que respondeu. Ele disse que recebeu um laudo de uma engenheira que confirmava o cálculo populacional na danceteria e que o colocou no PPCI. A estimativa era de 691 pessoas, ou seja, não haveria superlotação, segundo o bombeiro. O então major encaminhou o documento à Polícia Civil. Acabou indiciado por forjar e enganar as autoridades.