Agentes da Força Nacional de Segurança Pública chegaram ontem (14) a Nova Olinda do Norte (AM), a cerca de 130 quilômetros ao sul de Manaus. Ao menos sete pessoas – incluindo dois policiais – foram mortas a tiros, na cidade, desde que as forças policiais do Amazonas deflagraram, no início do mês, uma operação contra o narcotráfico na região.Força Nacional ajudará PF a conter onda de violência no Amazonas

Força Nacional ajudará PF a conter onda de violência no Amazonas

A pedido da Polícia Federal (PF) e em cumprimento a determinação da Justiça Federal, os agentes da tropa especial, coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, participarão das ações necessárias “à preservação da ordem pública e da incolumidade [integridade] das pessoas e do patrimônio”.

Por razões estratégicas, nem o ministério nem a PF informam o número de agentes empregados na ação prevista para durar 60 dias – prazo que poderá ser prorrogado caso a PF entenda ser necessário.

Assinada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, a autorização para o emprego do efetivo foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (14).

Histórico

No fim do mês de julho, o então secretário executivo do Fundo de Promoção Social do Amazonas, Saulo Moysés Rezende Costa, foi baleado no ombro enquanto pescava com um grupo de amigos no Rio Abacaxis dando visibilidade à violência na região do médio Rio Madeira.

Costa, que não tinha a licença necessária para pescar no local, informou às autoridades policiais que, pouco antes de ser alvejado, havia discutido com um grupo de pessoas portando armas, facões e tochas, e que exigia que o ex-secretário e seus acompanhantes deixassem a região. Esta semana, o governo do Amazonas exonerou Costa do cargo de secretário – sem explicar os motivos para a saída.

A partir dessa ocorrência, a Secretaria estadual de Segurança Pública deflagrou, no dia 3 de agosto, uma operação policial com apoio de equipes da Companhia de Operações Especiais (COE) e do Batalhão Ambiental da Polícia Militar que foram deslocadas para Nova Olinda do Norte.

Ao fim do primeiro dia de ação, os agentes foram emboscados e dois policiais militares – o terceiro-sargento Manoel Wagner Silva Souza e o cabo Márcio Carlos de Souza – acabaram sendo mortos. Outros dois PMs ficaram feridos.

Diante da ação criminosa, o governador Wilson Lima prometeu rigor na apuração dos crimes e determinou que o próprio comandante-geral da PM seguisse para a região, com reforços. “Determinei ao coronel Ayrton Norte que só volte a Manaus quando tiver uma resposta efetiva do que aconteceu. Não existe resposta mais significativa do que punir essas pessoas e coibir essas atividades criminosas que acontecem há algum tempo no estado”, declarou Lima durante cerimônia pública.

No decorrer das investigações, policiais identificaram indícios de , formação de milícia armada e possível existência de uma  atuando na região, segundo a secretaria de Segurança Pública. Com as suspeitas, a abordagem e revista de embarcações, a busca por áreas de plantio de maconha e a ação ostensiva contra o crime foram intensificadas.

Até a última terça-feira (12), quatro grandes plantações de maconha já tinham sido localizadas e três pessoas suspeitas de ligação com uma organização criminosa foram detidas.

Violência policial

Dias após a deflagração da operação policial, ribeirinhos e entidades civis começaram a denunciar a violência de alguns agentes públicos contra moradores da região.

No último dia 7, o corpo de Josimar Moraes Lopes foi encontrado em um igarapé, atingido por tiros. Morador da Kwatá-Laranjal, Lopes pertencia à etnia Munduruku e completaria 26 anos na próxima segunda-feira (17). Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública adiantou que a suspeita é de que Lopes foi morto por traficantes, sem informar a suposta motivação.

Outro rapaz, de 20 anos, Eligelson de Souza da Silva, também foi encontrado morto, segundo a Secretaria de Segurança Pública, por ter trocado tiros com policiais.

Na última terça-feira, mais três corpos ainda não identificados foram encontrados no Rio Abacaxis.

Agência Brasil solicitou detalhes da ocorrência à Superintendência da PF no Amazonas, mas não recebeu resposta. Hoje, a corporação se limitou a confirmar que “já efetuou o deslocamento de equipe de policiais federais para atuar na cidade de Nova Olinda e adjacências”.

A presença da PF na região foi solicitada pelo Ministério Público Federal (MPF) que, no último dia 5, recorreu à Justiça para tentar garantir investigação federal das “circunstâncias, motivações e potenciais abusos e ilegalidades em operação deflagrada pela Secretaria de Segurança Pública na região do Rio Abacaxis”.

Em nota, a Comissão Pastoral da Terra classificou a situação como “muito complexa” – conforme a maioria dos conflitos existentes na Amazônia. Vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a CPT manifestou sua preocupação com o que classificou como uma atuação policial violenta.

“Grupos pertencentes às forças policiais do Amazonas, cujo papel seria garantir a segurança das comunidades ameaçadas pela violência, vêm eles próprios cometendo todo tipo de violência e abusos contra as comunidades”, afirma a comissão, acusando agentes de segurança pública de “espalhar o terror” pela região, indiscriminadamente, e assegurando ter recebido várias denúncias de violações a direitos.

A Secretaria de Segurança Pública informou que o corregedor-geral do Sistema de Segurança, delegado George Gomes, viajou para Nova Olinda do Norte a fim de acompanhar a operação e que, até o momento, nenhuma denúncia formal de supostos abusos por parte de agentes de segurança foi registrada. A pasta sustenta que a ação ostensiva ocorre em conformidade com a lei, e garante que denúncias sobre eventuais condutas inadequadas serão apuradas, sendo necessário que as vítimas ou terceiros denunciem o fato à Corregedoria formalmente.