Reuters

Ao fim da primeira reunião depois de ter sido derrotado no segundo turno das eleições, o PT apontou Fernando Haddad como sua principal liderança hoje, depois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva —que, preso em Curitiba, não tem como representar o partido— e como o articulador de uma frente de resistência ao governo de Jair Bolsonaro.

“Fernando Haddad tem um papel muito importante e relevante nesse processo, é um papel muito maior que o PT. Porque ele sai depositário da esperança e da luta do povo pela democracia e o PT dará todas as condições para que Haddad possa exercer esse papel de articulador junto com outras lideranças sociais e de partidos para consolidar essa frente de resistência”, disse a presidente do partido, .

Haddad não tem hoje um cargo na Executiva do partido, e essa é uma das questões que o PT ainda tem a discutir. Mesmo entre os partidários de Haddad há quem defende que o ex-candidato assuma um cargo na Executiva nas eleições que acontecem em julho, outros acreditam que ele deve ficar solto das amarras da burocracia partidária.

Haddad, no entanto, conseguiu pelo menos atingir uma quase unanimidade dentro do PT que nunca antes tivera. Até ser indicado a ser vice de Lula, o ex-prefeito de São Paulo era extremamente contestado e tratado por alguns como alguém sem traquejo político e jogo de cintura. A impressão agora mudou.

“Não tenho dúvida que ele emerge como uma grande liderança do PT. Depois de Lula ele é uma grande liderança, é o depositário de 47 milhões de votos, tem muita legitimidade de articular e liderar”, disse Gleisi, uma das que resistia inicialmente a Haddad.

A presidente do PT, convocou a reunião da Executiva para esta terça para que o partido fizesse uma avaliação do cenário político. No entanto, como mostrou a Reuters, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, de Curitiba, que o partido precisa “esperar a poeira baixar” e ter calma para se reorganizar e ter cuidado na oposição a Bolsonaro.

A avaliação do ex-presidente, levada ao encontro pelos membros da sua tendência, a Construindo um Novo Brasil (CNB) é que o PT não pode passar a impressão de que está contestando o resultado das urnas e a oposição deve ter prática, a temas específicos.

Gleisi, no entanto, não se furtou a reclamar do processo eleitoral, que classificou de “eivado de vícios e fraudes”. Ao ser questionada se o PT questionada o processo, lembrou que existe uma investigação eleitoral em curso no Tribunal Superior Eleitoral e que caberá ao TSE decidir se é o caso de punição ou não a chapa.

De acordo com a presidente do PT, o partido quer organizar uma frente de oposição a Bolsonaro que seria articulada e liderada por Haddad. Seria, segundo Gleisi, uma frente para “defender os direitos mínimos”, da população, os direitos humanos, civis, de manifestação, de livre expressão.

Apesar de dizer que espera que o governo de Bolsonaro cumpra a Constituição, o partido estaria se preparando “para o pior”. “Não podemos prescindir de estar preparado para defender direitos”, afirmou.

O PT vê em Haddad a figura para liderar essa frente multipartidária. O ex-prefeito de São Paulo conseguiu, reconheceu Gleisi, atrair apoios na reta final da eleição que não eram ao PT, mas em favor da democracia, e pode continuar esse trabalho, mesmo que nem todos tenham exatamente a mesma agenda – especialmente em relação à defesa da liberdade de Lula.

“Ninguém é obrigado a apoiar todas as causas que apoiamos, mas não vamos abrir mão nunca de defender liberdade de Lula. Pode ser que tenha gente na frente que não esteja no Lula Livre, mas está na defesa de democracia. A frente é pela democracia”, disse Gleisi. (Foto: Pedro França/Agência Senado)