“Aquela vagabunda, entendeu? Defensora de aborto, de gênero. Vagabunda.”

Um áudio gravado na última quinta-feira (20) em uma aula do professor do curso de Direito a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Samuel Milet, está repercutindo nas redes sociais. Ele usa os termos “vagabunda”, “bostinha”, “cocô”, para se referir à Sinara Gumieri, advogada e mestra em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética.

Sinara foi convidada para participar do evento “Por que é preciso falar de gênero no Direito?”, no dia 13 de outubro organizado pelo centro acadêmico do curso. A palestra era discutir como o gênero se relaciona com a pesquisa e prática jurídicas.

Um semana depois, a palestra foi discutida em uma aula de Direito das Sucessões, ministrada por Milet. Questionado por uma de suas alunas, que prefere não se identificar, o professor não se conteve em seu discurso machista e partidário. A estudante gravou um áudio de 15 minutos do debate, a pedido do .

 

 

Além do aborto, “Lei Maria da Penha”, transgêneros, violência com minorias, também foram discutidos. O professor ainda diz que gays são “humanos” e tem “direitos”, mas que a discussão sobre gêneros é uma “invenção do PT que afasta as pessoas”.

'Sapatona doida': professor de Rondônia ofende palestrante em faculdadeA ofensa de Milet à advogada repercutiu nas redes sociais. O Centro Acadêmico de Direito 5 de Outubro publicou uma nota no Facebook em que explica que o posicionamento de Milet “passou dos limites”.

“Consideramos que esta atitude extrapolou os limites da boa convivência e relação professor-aluno e que agressões direcionadas a grupos específicos, como LGBTs, mulheres ou posições políticas, não devem fazer parte de um cotidiano democrático, muito menos em uma universidade. Reforçamos que o ocorrido parece apenas reafirmar a importância do discutido na palestra (que infelizmente o dito professor não acompanhou até o fim) de se discutir, no direito e em qualquer área, todo e qualquer tipo de assunto, inclusive gênero.” 

Confira a nota na íntegra.

Debora Diniz, professora da UNB, publicou um vídeo de manifesto em que ela exige que Milet peça desculpas públicas a Sinara Gumieri.

“Sinara falava de temas que eram moralmente intensos ao senhor. Mas isso não importa. Nós dois somos professores. Somos treinados para lidar com a controvérsia. Devemos ser capazes de acolher e acima de tudo de jamais discriminar.”

O professor publicou um vídeo no Facebook, onde se defende e explica que a palavra “vagabunda” foi usada por ele para se referir a uma pessoa “desocupada”. Ele afirma ser um defensor da “família”, “da vida” e da “moral”.

 

 

“Estou sendo o centro de achocalhamento. Estou sendo acusado de machismo, homofóbico, simplesmente porque defendo a família, a vida e a moral. Em defesa desses valores, fui atacado por uma acadêmica em sala de aula, uma acadêmica ligada ao Centro Acadêmico, um grupinho de esquerdopatas. […] Foi uma expressão mal compreendida quando eu faço uso da palavra vagabunda. Vagabundo para nós é a pessoa desocupada. Nunca tive e nem tenho a intenção de atingir a honra de ninguém.”

Ele ainda diz que a gravação foi feita a pedido dele, mas que o áudio publicado está fora do contexto.

“Os esquerdopatas tem feito uso errôneo desta gravação de modo a atingir a minha dignidade. Recebo milhares de pessoas que apoiam a minha luta pela vida e pela família. Ninguém calará essa boca.”

De acordo com informações do HuffPost Brasil, a advogada de Sinara Gumiere, Gabriela Rondon, tomará as medidas cabíveis contra Milet.

“O que ela sofreu foi uma violência grave e por isso vamos entrar com um processo em nome dela contra o professor. Para além da motivação individual da Sinara, o caso é muito maior. A gente quer provocar uma discussão do que aconteceu naquela sala de aula. Foi um discurso atentatório ao bom debate em uma sala de aula, uma liberdade de expressão, e totalmente contra a ideia de uma universidade sem ódio. Vamos trabalhar em duas frentes e reagir com as medidas cabíveis.”

A UNIR publicou em nota oficial que irá apurar o caso.

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O grupo Isso Não É Direito criou uma petição online, para que a universidade se responsabilize pela postura do professor.