Professora viu colegas serem agredidos por PMs

Se pudesse definir o dia 29 de abril de 2015 em Curitiba em uma palavra, qual seria? A professora de ensino fundamental Carla Stiegler, de 37 anos, pensa um pouco, como que escolhendo entre algumas várias delas, e diz, em um misto de segurança e revolta: “Humilhação. Para nós, servidores estaduais, aquilo foi uma humilhação”.

 “Aquilo” foi a reação da Polícia Militar paranaense a um grupo de professores estaduais em greve que tentava acessar o prédio da Assembleia Legislativa. Eles tentavam acompanhar a votação de um projeto de lei encaminhado à Casa pelo governador Beto Richa (PSDB) e que mudaria substancialmente o regime de previdência não apenas da categoria, mas do funcionalismo público estadual. A PM reagiu, mais de 200 pessoas se feriram com balas de borracha e estilhaços de bombas, o projeto passou e já foi sancionado por Richa.

Carla estava no ato dos professores, na quarta, mas conta que saiu fisicamente ilesa do episódio. No último sábado (2), 72 horas depois das cenas que correram o Brasil e o mundo, ela voltou à frente da Assembleia com o marido e os dois filhos para mostrar a eles, de perto, um mínimo do que de fato teria sido o 29 de abril. O filho mais velho, Lucas, de dez anos, já sabe que carreiras não pretende seguir, quando chegar a hora: “Não quero ser nem policial, nem professor. Fiquei com medo quando vi aquelas imagens na TV e não quero passar por isso também”, contou o garoto.

Leia, a seguir, o relato da professora ao Terra

Sou de Prudentópolis, estava aqui na quarta-feira. Quis voltar e trazer meu marido, que acompanhou tudo de casa, pela TV, e meus filhos, principalmente eles. Meu filho mais velho é meu aluno na rede estadual; queria trazê-lo para ele sentir esse clima aqui. Esse campo de batalha que a gente enfrentou na quarta-feira.

Houve muito confronto, mas um confronto desonesto, porque as nossas mãos estavam limpas, e eles, os policiais, estavam extremamente armados, extremamente. O Brasil inteiro viu, o mundo viu.

Quando olho para essas faixas, dói meu coração. Eu, graças a Deus, não saí com nenhum machucado externo. Meus amigos, sim, os que estavam na frente. Mas o meu sentimento é de uma dor interna, um pânico, e dá um desespero saber que uma hora eu vou ter que voltar para a sala de aula e encarar tudo e todos. Não é fácil.

O que nós vivemos aqui na quarta-feira não tem explicação. É dor, é revolta, é desesperador. Já se passaram 72 horas e, quando eu fecho os olhos, revivo aquilo: as bombas, o ar pesado, em que não se podia respirar, os cachorros latindo.

Acho que a imagem mais forte que ficou desse dia foi a das pessoas mais idosas, os professores mais idosos que estavam junto com a gente. Daqueles que foram meus professores e que estavam aqui junto comigo. Essa é a imagem que mais me dói: a de ver as pessoas que estão 25, 30 anos no magistério tendo que passar por essa humilhação. Eu estou há 11 anos no magistério.