Não é surpresa para ninguém que 2021 teve incremento de preços nos produtos e serviços sendo que o ano passado fechou com uma inflação de 10,6% de acordo com o IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística). Essa subida geral nos valores foi sentida nos orçamentos familiares, especialmente pelo fato dos salários não terem acompanhado os incrementos no mesmo ritmo, e porque ainda a taxa de desemprego se mantém alta. 

 

Ainda assim, as variações nos preços de alguns setores são mais preocupantes do que outras. Esse é o caso do seguro de automóvel. No mercado, já é possível verificar uma alta de 20% nas apólices, quase que dobrando o percentual de inflação. Na verdade, esse é um fenômeno que vem se manifestando ao longo de vários meses. Um estudo da insurtech Tex mostrou o quanto tem se acrescentado o Índice de Preços do Seguro Automóvel (IPSA). Para ter uma referência vamos ver este exemplo: uma apólice tradicional para um carro de R$50 mil, em média, era de R$2500 em outubro do ano passado. Já em novembro a mesma passou para R$2.550, subindo para R$2.650 no último mês do ano.

 

É claro que esses aumentos geraram desconforto nos clientes devido a que, ao longo da pandemia, o custo dos seguros tinha até registrado certas quedas, principalmente motivadas pela falta de movimentação. Apesar dos aumentos já percebidos neste tipo de serviços, os empresários consideram que ainda terá mais um reajuste de 15% daqui a pouco.

 

Quais são os motivos dos aumentos nos seguros?

 

É óbvio, como já foi dito, que a inflação não é o único fator que influencia nessa forte subida, e nem é a mais importante. Em primeiro lugar, é importante considerar que, desde a chegada do no mundo, foram muitos meses de mínima circulação de veículos pelas ruas, não apenas pelas restrições e a população estudando e trabalhando desde casa, mas também porque muitos optaram por escolher outros meios de transporte como a bicicleta cujas vendas em 2020 registraram uma alta de 50% em comparação com o ano anterior, chegando a 66% em cidades como São Paulo.

 

Seja como for, o fato é que, com a maioria dos carros nas garagens das casas ou dos prédios, muitos clientes decidiram abrir mão do seu seguro, por considerá-lo uma despesa desnecessária numa época de crise. Desse jeito, com uma queda na demanda, os seguros reduziram também os seus valores para obter maior captação. Como era de se esperar, nesses últimos meses a circulação veio em aumento e o valor das apólices começou a sua retomada. 

 

Mais um aspecto a contabilizar no que tem a ver  com o incremento dos preços, ligado ao anterior, é o crescimento do número de acidentes de trânsito no último tempo. Apenas no estado de São Paulo foram registrados 184.726 acidentes não fatais, significando um incremento de 7,9% se comparado com 2020, o que indica que os valores voltaram para os níveis próprios da época anterior à pandemia. Mas o que é que isso tem a ver com o mercado de seguros? Muito. O valor das apólices tem um componente estatístico pelo qual é considerada a probabilidade de ocorrência de um sinistro. A maior probabilidade, mais elevado é o preço da apólice. Assim, com o aumento nos acidentes, as seguradoras assumem maiores riscos de ter que pagar indenizações, trasladando isso para o valor final cobrado aos usuários.

 

Apesar das causas anteriores, talvez a mais importante de todas tenha a ver com a supervalorização dos carros usados no Brasil. Esse tem sido um período de benefícios para as concessionárias e de dores de cabeça para quem está na procura de comprar um carro pela primeira vez ou de trocar de modelo. Tudo parece ter começado com a desorganização global nas cadeias de produção desde a irrupção do Covid-19, o que gerou a perda de estoque de modelos novos à disposição para a venda no Brasil. Ao longo dos meses esse problema se manteve devido à famosa “crise dos chips” (pequenos componentes fundamentais para a montagem dos circuitos eletrônicos presentes em todos os carros). Se a pessoa conseguia comprar um 0km, até podia ter um prazo de entrega por volta dos 180 dias. Neste cenário, com uma demanda que se mantinha aquecida, os clientes se voltaram para o mercado dos usados e seminovos, disparando o preço deles em 2021 com incrementos históricos de até 34%. Para entender o quanto esse aumento foi drástico, só basta saber que no ano anterior a alta foi de 5,8%.

 

Esses preços foram refletidos pela lista elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, mais conhecida como Tabela Fipe, utilizada como referência na negociação de carros no país e, claro, no mercado dos seguros. Assim, sendo que o valor dos carros registraram um aumento sem precedentes, as companhias, que consideram essa cotação para eventuais indenizações, também precisavam se ajustar para não perder lucro.

 

Como economizar sem deixar de ficar protegido?

 

Como explicam muitos assessores do setor, há muito desconforto nos clientes por esses incrementos e, portanto, o desafio é oferecer alternativas nos serviços que permitam manter certa cobertura economizando no preço.

 

Foi precisamente com essa intenção que em agosto de 2021 foi publicada a Circular N°639 da Susep (Superintendência de Seguros Privados) que flexibiliza certas regras nos seguros de carro permitindo que seja o próprio cliente quem possa escolher entre os diversos riscos a serem protegidos e ainda determinar o valor de indenização em caso de perda ou destruição total.

 

Mesmo que não seja suficiente, parece que medidas como essas estão no caminho certo. Após meses de vigência é possível observar que as companhias seguradoras  já estão oferecendo este tipo de apólices flexíveis com preços, em média, 33% mais baixos do que os seguros tradicionais. A modo de exemplo, perante uma cobertura padrão de R$2 mil por ano, a sua alternativa econômica é oferecida por um valor de $1.650.

 

*Esta é uma página de autoria de O MELHOR TRATO e não faz parte do conteúdo jornalístico do MIDIAMAX.