Sindicato diz que ponto eletrônico vai ampliar ‘debandada’ de médicos

‘Procurador também não bate ponto’, diz entidade

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‘Procurador também não bate ponto’, diz entidade

Superlotação, falta de medicamentos, más condições de trabalho e três anos sem reajuste de salários são algumas das causas apontadas pelo médico Flávio Freitas Barbosa, presidente do Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) para os 136 pedidos de demissão dos médicos da rede municipal de saúde somente neste ano. E ele avisa: a instalação do registro de ponto, programada pela prefeitura, pode provocar uma debandada ainda maior de profissionais..

“Os médicos estão há três anos sem aumentos. São os menores salários do país. As unidades não têm medicação, estrutura, estão superlotadas. São as condições que estão sendo noticiadas todos os dias”, afirma Flávio, que diz ter conversado pessoalmente com o prefeito Marcos Trad (PSD) sobre o caso. O salário base oferecido pela Prefeitura aos profissionais é de R$ 2.516,72.

Segundo o presidente do sindicato, há algum tempo existiam 1392 médicos trabalhando para a Prefeitura e hoje este número está bem aquém, são cerca de 1000 profissionais. Porém, segundo ele, a defasagem é bem maior. O médico cita nota de repúdio emitida pelo Sinmed-MS que aponta a falta de 500 médicos nas unidades de saúde da capital. “Existe esse número em Campo Grande, mas eles não querem mais trabalhar [na rede pública]”, afirma.  “A Prefeitura tem que contratar’, completa. 

“Existe o bom e o mau médico. Tem médico que falta plantão? Tem. Tem médico que chega atrasado? Tem. Mas é a minoria. O problema é que os que estão trabalhando, estão desmotivados. Existe um índice de afastamento muito grande, profissionais que são agredidos e inclusive casos de suicídio. O ambiente de trabalho não é adequado”, elenca. 

Flávio defende que investimentos devem ser feitos para que as vagas possam atrair mais médicos. “O prefeito prometeu durante a campanha e disse que ia resolver os problemas. O que foi feito até agora?”, pergunta e completa: “eu sou atento a isso”.

Sobre o ponto

O Jormal Midiamax apresentou um diagnóstico de possíveis ausências em plantões nos postos de saúde de Campo Grande. Pediatras que segundo a escala deveriam estar trabalhando, não foram encontrados pela reportagem. Após repercussão da matéria, o prefeito prometeu a instalação de pontos eletrônicos para controlar a frequência dos médicos que cumprem plantão na rede pública de saúde.

O presidente do Sinmed-MS acredita que a instalação do sistema de ponto ocasionará mais pedidos de demissão por parte dos médicos que atuam na saúde pública de Campo Grande. “Com o ponto, a debandada vai ser maior ainda”, enfatiza. 

Apesar da opinião proferida, Flávio se posiciona a favor do controle. “Sou 100% a favor do ponto, mas tem que ter contrapartida da Prefeitura. Para cobrar o trabalho, tem que oferecer condições”, alega. Segundo ele os médicos que prestam serviço em escala de plantões precisam de local para descanso e alimentação. “Há mais de três anos os médicos não recebem almoço nos intervalos dos plantões. Eles não tem lugar pra ficar nos intervalos”, explica.

Flávio compara a situação vivida pelos médicos com a de procuradores. “O salário base de um procurador é R$ 20 mil. Procurador não bate ponto. E um médico, ganhando R$ 2.500?”, indaga.

Vínculos

Flávio se posicionou também sobre o fato de alguns médicos manterem vários vínculos de trabalho no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde) do Data SUS. Os excessivos vínculos poderiam indicar uma rotina sobrecarregada dos profissionais que, somada à ausência de ponto eletrônico, apontaria o descontrole das escalas pelos profissionais.

Segundo ele, o que pode explicar um profissional com tantos vínculos empregatícios seria a falta de organização. “O médico tem que atualizar o CNES. Tem médico que deixa de trabalhar em um determinado local e não pede a retirada, continua vinculado”, explica. Ou seja, o médico deixa de trabalhar em uma unidade de saúde específica, mas se não atualizar seu cadastro, para o sistema, o profissional ainda está vinculado. 

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