Utilização oferece maior consciência ambiental e preocupação com a higiene

Falar de menstrução ainda é um tabu para muitas pessoas, algo cercado de mitos ou considerado um papo desagradável para se comentar durante o dia a dia. Quando o assunto não é gravidez, pouco se discute. Mas o assunto tem vindo à tona nos últimos meses, com o número crescente de brasileiras que têm defendido uma nova causa: um produto alternativo ao absorvente. Seja por considerar o produto não sustentável, caro ou desconfortável, muitas mulheres têm optado pelo coletor menstrual. 

O produto íntimo – e de uso interno -, ajuda a reter o sangue por até doze horas e pode durar até dez anos. Sua venda tem gerado emprego – o produto também é vendido porta a porta – e movimentado empresas. A Inciclo, por exemplo, única fabricante nacional do coletor, diz ter contabilizado um crescimento de 938% nas vendas do produtos nos últimos doze meses. A companhia, no entanto, não revela o número de unidades vendidas. Cada coletor custa R$ 79. Além disso, dobrou o número de revendedores – pessoas físicas e grandes redes ou lojas – desde dezembro. Hoje, eles são mais de 200, sendo metade pessoas físicas e o restante redes de farmácia e lojas, como especializadas em produtos antialérgicos. “O produto está gerando renda a muitas usuárias, que passaram a ser revendedoras. Elas fazem encontros dentro das casas das pessoas, oferecendo um serviço mais pessoal e tirando dúvidas”, afirma Mariana Betioli, fundadora da Inciclo. 
 
A empresa vende o coletor em dois tamanhos, que depende da idade da mulher e se ela já teve filhos. Ao colocá-lo dentro da vagina (o que exige dobrá-lo ao meio), o sangue será armazenado por até doze horas, quando é recomendado retirá-lo, esvaziá-lo e lavá-lo com sabonete neutro antes de reinserir. Entre um ciclo e outro, a recomendação é fervê-lo em uma panela. O tempo de uso, dependendo do ciclo menstrual da mulher e de fatores intrísecos, pode chegar a dez anos. A Inciclo, por exemplo, recomenda um uso de até três anos. 

A jornalista Fernanda Carpegiani, de 27 anos, é uma das brasileiras que largou o absorvente. Ela começou a utilizar o coletor em fevereiro do ano passado, motivada por uma questão ambiental. “Li que a produção de lixo gerado pelo absorvente era extremamente alta”. Foi buscar alternativas, encontrou blogs e fóruns e descobriu a existência do coletor. No começo, afirma ter sentido alguma dificuldade para encaixá-lo e conter o vazamento, mas, segundo ela, é apenas uma “questão de adaptação física”. “No final, com o copinho, descobri que a quantidade de sangue da menstruação que nós pensamos sair é muito maior”, afirma. 

Para a Inciclo, o aumento do uso do coletor no último ano deve-se à maior informação disponível sobre o produto e ao fato de as mulheres estarem buscando mais alternativas para diversos aspectos de sua vida. “Tem a questão de maior consciência ambiental: o absorvente não é sustentável. Mas há também o fato de que as pessoas procuram alternativa para tudo que fazem. Seja na sacola do supermercado ou nos alimentos que optam comprar”, afirma Mariana. Entre as vantagens do uso do coletor e as que a levaram a abrir a empresa há quatro anos, estão o fato de o produto ser mais econômico, ecológico e, para as usuárias, mais prático que o absorvente. 

O produto pode estar começando a aparecer no Brasil, mas já é utilizado aos moldes atuais em países europeus, Canadá e Japão há ao menos quinze anos. Antes de ser feito de silicone – material, segundo a Inciclo, utilizado pela grande maioria das fabricantes mundiais – era feito de látex, o que gerou muitas reclamações referentes a alergias.  A Inciclo afirma que, entre as reclamações que recebe hoje, não houve nenhuma referente a este problema. A maioria vem de mulheres que tentam utilizar uma vez e não se sentem confortáveis, segundo a empresa.

Entre os maiores custos de produção do produto, estão o silicone (importado) e, principalmente, a divulgação. “A gente está em 2015 já e tem gente que ainda não fala sobre menstrução. Essa é a dificuldade”, afirma Mariana. Fernanda também concorda.  “A maior barreira é a questão do tabu da menstruação e das pessoas não conseguirem ficar em contato com seu corpo. Minha família acha um absurdo. A maior resistência é isso”, diz Fernanda.

A estratégia de crescimento da Inciclo só deu certo, em sua avaliação, porque a empresa focou os esforços iniciais em públicos alternativos, “que são mais abertos a certos assuntos”. Ao conseguir aderência de alguns grupos, o “boca-a-boca” entre mulheres fez o resto. “Começamos muito pequenos. Encontramos resistências que começavam no fato de o ginecologista nem saber da existência do produto. Aí procuramos públicos mais ligados a sustentabilidade ou mulheres feministas”, afirma. 

Com maior uso e divulgação de informações, foram surgindo grupos de apoio nas redes sociais. O “Coletores Brasil”, fundado no ano passado, traz dicas e promete tirar dúvidas de mulheres que não sabem usar o coletor. Com 1,5 mil pessoas, as postagens defendem o lado sustentável do produto e dão dicas de onde ele é vendido. Uma lista mostra que, além da Inciclo, há 30 empresas estrangeiras que comercializam o coletor e entregam no Brasil: oriundas de diversos países, que vão desde a República Checa, Nigéria até a Índia.