Importação de sêmen estrangeiro aumenta 500% no Brasil em um ano
Não há nada que impeça brasileiros de importar o material
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Não há nada que impeça brasileiros de importar o material
“O 4870 é um homem muito atraente, inteligente e impulsionado pelo sucesso. É honesto, sincero e tem uma impressionante semelhança com Bradley Cooper, além de ser extremamente atlético e escrever muito bem”. Quem é o galã? Um doador de sêmen norte-americano cujo esperma está à venda pela internet no banco de sêmen Fairfax Cryobank.
Embora a comercialização de sêmen seja proibida no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina, que regula o setor de reprodução assistida, não há nada que impeça brasileiros de importar o material.
Em um ano, a importação de sêmen de estrangeiros aumentou 541% no Brasil, segundo dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que é quem autoriza que as amostras cheguem ao país.
Em 2013, a Anvisa autorizou a importação de 32 amostras de sêmen humano de estrangeiros para tratamentos de reprodução assistida, e em 2014, autorizou 205 importações. Até 11 de junho de 2015, já haviam sido emitidas 135 autorizações. Todos os pedidos vieram de São Paulo, mas podem ter sido encaminhados para outros estados brasileiros.
Não se sabe ao certo o que causou esse boom, porém o Fairfax Cryobank, um dos maiores bancos de sêmen dos Estados Unidos, começou a operar no Brasil nesse mesmo período e o único banco de sêmen brasileiro, o Pró-Seed, também reforçou a importação de sêmen.
O Fairfax Cryobank montou um escritório nos Jardins, bairro nobre da capital paulista, batizado de Fairfax Cryobank Brasil. Desde então, importa de dez a 30 amostras de sêmen ‘gringo’ por mês para clínicas de reprodução brasileiras. Segundo José Roberto Alegretti, diretor científico da Fairfax Cryobank Brasil, cada amostra custa, em média, US$ 1.000.
“Fazemos a intermediação entre as clínicas de reprodução assistida e o banco de sêmen, facilitando o serviço. O Brasil e a América do Sul têm um público muito grande de reprodução assistida e existe essa demanda”, diz Alegretti.
O banco não comercializa o sêmen diretamente para pessoas, portanto quem quiser importar espermatozoides de estrangeiros precisa ter começado um tratamento em uma clínica de fertilização, já que a importação exige o aval de um médico.
Por que importar sêmen gringo?
Por que muitas mulheres estão optando pelo sêmen estrangeiro em vez do ‘made in Brazil’? Primeiro, porque falta competitividade ao preço do sêmen brasileiro. Além de ser apenas um pouco abaixo da amostra estrangeira, o perfil do doador vem bem menos recheado de informações do que no banco de sêmen dos Estados Unidos, onde homens liberam detalhes de sua vida pessoal para a futura mãe.
Relatórios ultradetalhados destacam características físicas e psicológicas, histórico familiar de doenças, signo, fotos da infância e quais animais de estimação eles preferem.
Nos perfis da Fairfax Cryobank, por exemplo, é possível saber esses detalhes e outros mais, como um cardápio de homens. Embora o link da página no Brasil seja em português, os perfis são todos em inglês.
No Brasil, a doação de sêmen deve ser voluntária, por isso geralmente há bem menos amostras disponíveis. Por aqui é proibido oferecer informações de ordem psicológica e a doação deve ser estritamente anônima.
Para Mário Cavagna, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, não há como proibir que brasileiras optem por doadores estrangeiros quando a demanda de doadores aqui é bem menor do que a necessária.
“Todo mundo tem liberdade de se submeter a um tratamento médico de reprodução onde quiser. Aqui no Brasil é proibido fazer o diagnóstico genético para escolher as características físicas do filho, mas se isso for feito em outro país seria ilegal impedir”.
Quem importa?
O único banco de sêmen brasileiro, o Pró-seed, importa cerca de 30 amostras de sêmen estrangeiro por mês para suprir os pedidos das clínicas. Segundo a diretora Vera Beatriz Feher Brand, a procura pelo sêmen de estrangeiros aumentou 40% em 2015 comparado ao ano passado. Mulheres solteiras, casais heterossexuais e casais de lésbicas encabeçam a lista, nesta ordem.
“Vem aumentando a procura pelas características dos doadores de fora do Brasil pela falta de doadores daqui. Por isso já importamos até de um banco de sêmen da Dinamarca”, afirma Brand.
Os pedidos feitos ao Pró-Seed são, em sua maioria, por doadores de alta estatura, de pele e olhos claros. “Atualmente temos 170 doadores fixos entre brancos, negros e orientais cujo sêmen espalhamos para o Brasil inteiro. Antigamente chegamos a ter 500 doadores”, conta Brand.
A Clínica Huntington, em São Paulo (SP), importou cem amostras de sêmen de estrangeiros no ano passado. Até junho deste ano, já foram feitos 40 pedidos.
Segundo Thais Domingues, especialista em reprodução humana da Huntington, quem mais procura por este tipo de sêmen são mulheres cujos maridos têm problemas de infertilidade, mulheres que querem uma gestação independente ou casais de mulheres. A grande maioria é de classe média alta e se preocupa em achar um doador com características físicas semelhantes a de suas famílias e com grau de instrução mais elevado.
“A maioria procura por uma pessoa mais instruída, culta, mas é importante ressaltar que a qualidade do sêmen não tem a ver com grau de instrução e nem causa uma menor taxa de gravidez”, diz Domingues.
Segundo Domingues, a maioria das mulheres que opta por importar são brancas e têm mais de 35 anos. Elas procuram mais por doadores caucasianos, ou seja, também de pele branca.
Na clínica Vivitá, em São Paulo (SP), houve um grande aumento na procura pelo sêmen de estrangeiros no ano passado. Atualmente 70% do sêmen usado nos tratamentos da clínica é importado, de acordo com o ginecologista e diretor da clínica George Fassolas.
“Além de ter mais opções de doadores, o grande motivo que fez aumentar a procura pelo sêmen importado é porque desse jeito há mais informações sobre o doador. Você não ficaria mais confortável quanto mais informação tivesse do doador do sêmen antes de ter o filho? Eu iria querer saber tudo se tivesse essa opção”, afirma Fassolas.
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