Apps agem mesmo quando não estão ativos

A suspeita de que Google, Facebook e Apple ouvem nossas conversas — mesmo quando não estamos usando nossos smartphones — é antiga e tem fundamentos. Agora, conforme noticiado recentemente pelo New York Times, inocentes jogos estão rastreando o que assistimos na TV e locais que visitamos para direcionar publicidade específica.

Mais de 250 jogos disponíveis na Google Play, e alguns até na App Stores, usam um software da Alphonso, start-up que coleta informações de exibição de TV para anunciantes. Tais aplicativos, uma vez instalados no celular, podem captar o que seus usuários — muitas das vezes, crianças — assistem.

Mesmo que o celular não esteja ativo, através do microfone dos dispositivos móveis, o software pode saber o que as pessoas estão assistindo, ao identificar sinais de áudio emitidos por programas e comerciais de TV. É possível até combinar as informações armazenadas com os locais visitados obtidos pela geolocalização. Assim, a publicidade pode ser direcionada com mais precisão, podendo permitir até avaliar o que leva um consumidor a escolher determinado estabelecimento ou produto.

Em resposta ao New York Times, a Alphonso explica que o software não grava conversas e está descrito nas políticas de privacidade dos aplicativos dos quais o algoritmo faz parte. Ainda, a empresa alega que não tem acesso aos microfones e localização dos dispositivos de seus usuários sem a devida autorização.

Os celulares têm ouvidos! Como aplicativos captam áudios à nossa volta

A start-up não informo também os nomes dos aplicativos que incluem a funcionalidade, mas revelou que, ao todo, cerca de 1000 aplicativos, entre jogos e mensageiros, contam com o algoritmo da Alphonso. No entando, o New York Times menciona que encontrou diversos realizando buscas no Google Play Store pelos termos “Alphonso automated” e “Alphonso software”.

Os apps nos ouvem

Diversas histórias rodam a internet sobre anúncios apresentados sobre conversas. Google, Facebook e Apple figuram entre as empresas cujos usuários suspeitam ouvirem o que falam para direcionarem publicidade.

Alguns casos foram abordados pela BBC em 2016. Uma jovem passou a ser seguida no Twitter por um grupo de apoio a pacientes que sofrem de enxaqueca após ter reclamado de ter tido uma crise pela primeira vez. Em outro caso, após uma conversa sobre impostos, o Facebook passou a recomendar serviços de especialistas na área fiscal. E situações de pessoas que conversam sobre determinados produtos ou destinos de férias e depois receberam publicidade sobre o tema.

Além disso, o site Reddit está cheio de histórias similares, como a de um usuário que tem pavor de baratas e foi apresentado a empresas de dedetização após um inseto ter aparecido na sua casa e ele ter berrado que precisava dos serviços de uma empresa do ramo.

À BBC, as empresas negaram captar conversas para direcionar publicidade. O Google reconheceu utilizar a funcionalidade de reconhecimento de voz e que não compartilha áudios adquiridos com terceiros.

O Facebook explicou que o direcionamento dos anúncios veiculados na rede social é baseado unicamente na informação compartilhada pelos usuários e seus hábitos de navegação. A empresa disse à BBC que não permite às empresas usar dados obtidos por meio do microfone e nunca compartilha informações com terceiros sem seu consentimento. Outras gigantes de tecnologia também negaram usar o recurso.