Ciência avança, mas idiomas barram divulgação do conhecimento
É o que afirma um estudo da Universidade de Cambridge
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É o que afirma um estudo da Universidade de Cambridge
Uma reportagem do El País Brasil desta terça-feira (3) aborda um assunto inusitado: o entrave dos idiomas para a efetivação dos avanços científicos. Entre os idiomas menos difundidos, apesar dos avanços científicos, está o mandarim, falado na China. É o que comprova um estudo da Universidade de Cambridge.
“Em janeiro de 2004, quando alguns vírus perigosos da gripe aviária reapareceram de maneira generalizada no planeta, cientistas chineses descobriram que uma das cepas, a H5N1, havia infectado porcos. Era uma novidade alarmante, porque alguns especialistas acreditam que foram os suínos que serviram de trampolim para o homem na pandemia de gripe de 1918, que matou mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas poucos estudiosos ficaram sabendo dessa descoberta inquietante. Estava em chinês”, explica o El País Brasil.
Apesar da descoberta inovadora dos chineses, as intituições de saúde mais importantes só souberam do alerta mais de seis meses depois, a exemplo da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). “A humanidade esteve sob maior risco por causa de barreiras linguísticas”, afirma o portal.
“Trata-se de um exemplo clássico”, afirma o biólogo espanhol Juan Pedro González Varo, da Universidade de Cambridge (Reino Unido). A equipe do pesquisador acaba de mostrar que os idiomas continuam sendo “um obstáculo significativo” para a ciência mundial. Os pesquisadores buscaram no Google Acadêmico todos os documentos científicos — estudos, livros, relatórios e teses — relacionados com a preservação do meio ambiente, publicados em 2014 nos 16 principais idiomas do mundo. O resultado foi “bastante surpreendente”, em suas próprias palavras: dos mais de 75.000 documentos, apenas 64% estavam em inglês, a língua franca da ciência. O restante aparecia em espanhol (13%), português (10%), chinês (6%) e francês (3%), principalmente.
“Em tese, concentrar-se apenas na ciência escrita em inglês poderia omitir 36% do conhecimento existente”, alertam os autores em seu estudo, publicado na revista PLOS Biology. Além disso, o desconhecimento do inglês ainda representa uma barreira para se ter acesso à ciência de ponta. “Uma pesquisa realizada pelos mesmos autores junto a 24 diretores de reservas naturais na Espanha revelou que 54% identificaram o idioma como um obstáculo na hora em empregar os últimos conhecimentos científicos no manejo de seus territórios”, declara o El País.
A Fundação para a Preservação e o Uso Sustentável das Zonas Úmidas, da Argentina, elaborou um documento abrangente sobre o papel das turfeiras na mitigação das mudanças climáticas. Ainda, assim, Gonzélez declara que o relatório só está disponível em espanhol. “Essa informação é muito valiosa, mas poderia ser perdida se um cientista escocês, por exemplo, fizer uma compilação das informações disponíveis”.
Tatsuya Amano, joponês que também é autor do novo na Universidade de Cambridge, destaca que o Ministério do Meio Ambiente do Japão possui uma base de dados de biodiversidade com um milhão de registros de espécies, disponível apenas em japonês. Na opinião ddos estudiosos, “as barreiras linguísticas são um problema particularmente grave nas ciências ambientais”.
“Os autores alertam para o possível surgimento de preconceitos. Os resultados positivos, como as estratégicas de preservação bem-sucedidas, são publicadas com maior facilidade nas revistas científicas de maior impacto, em inglês. Mas se forem apenas buscados resultados neste idioma, muitos fracassos podem passar despercebidos, por exemplo. Pode haver uma super-representação dos êxitos”, alegam.
“Queremos enfatizar que as revistas científicas devem se envolver”, diz o biólogo espanhol, que até 2015 trabalhou na Estação Biológica de Doñana, na Andaluzia. Sua equipe propõe que as revistas especializadas publiquem em seus sites resumos promocionais traduzidos para os principais idiomas, sobretudo dos artigos com resultados relevantes para a gestão de reservas naturais.
“Traduzir custa dinheiro. As revistas podem pedir esse dinheiro aos autores ou oferecer o serviço para eles, se demonstrarem que não têm recursos suficientes”, sugere González Varo. Os autores reconhecem que não se trata de um objetivo fácil, mas atingi-lo trará “amplos benefícios” na hora de enfrentarmos os problemas ambientais.
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