Revista ‘Nature’ coloca brasileira entre os 10 cientistas mais influentes de 2016

Celina Turchi foi uma das pesquisadoras que contribuiu para provar relação entre zika e microcefalia

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Celina Turchi foi uma das pesquisadoras que contribuiu para provar relação entre zika e microcefalia

A brasileira Celina Turchi, especialista em doenças infecciosas da Fiocruz Pernambuco, foi escolhida nesta segunda-feira (19)como uma das dez cientistas mais importantes de 2016 pela revista britânica “Nature”, pela pesquisa que descobriu a relação entre a microcefalia e o vírus da zika.

Para realizar o estudo, Celina entrou em contatos com cientistas de todo o mundo para pedir ajuda. Ela formou uma força-tarefa de epidemiologistas, especialistas em doenças infecciosas, pediatras, neurologistas e biólogos especializados em reprodução.

“Nem no meu pior pesadelo eu imaginei uma epidemia de microcefalia em bebês”, lembrou a pesquisadora em entrevista à “Nature”, dizendo acreditar que o Brasil estava vivendo uma emergência de saúde pública com o surto da doença.

Celina disse que o trabalho foi um desafio por não haver testes confiáveis sobre o vírus e nenhum consenso em relação à definição de microcefalia. Mas o intenso contato dentro da rede de especialistas formada por ela permitiu gerar evidências suficientes para ligar a infecção por zika e a doença no primeiro trimestre da gravidez.

Em entrevista à agência de notícias Lusa, Turchi atribuiu a indicação da Nature a todo o grupo de pesquisadores que participou da investigação sobre o zika. “São cientistas que têm muito interesse, que se empenharam muito, trabalharam em equipes multidisciplinares, com múltiplas universidades e institutos de pesquisa. Esta distinção é para todos os componentes desse grupo. Sinto que estou só representando um grupo de cientistas e profissionais de saúde do Brasil”, disse.

A pesquisa

Os resultados preliminares do estudo, publicados em setembro pela revista Lancet Infectious Diseases, demonstram que a epidemia de microcefalia registrada no Brasil em 2015 é resultado da infecção congênita pelo vírus zika.

O estudo comparou os 32 recém-nascidos com microcefalia nascidos em oito hospitais públicos do Recife, em Pernambuco, entre janeiro e maio deste ano, com 62 bebês nascidos sem microcefalia nos mesmos hospitais e no mesmo período. Os cientistas recolheram amostras de sangue dos dois grupos e amostras de líquido céfalo-raquidiano dos bebês com a doença, que foram submetidas a análises para o vírus zika e os anticorpos para o mesmo vírus.

A conclusão foi que 13 dos 32 casos (41%) tiveram resultados positivos para a presença do vírus no sangue ou no líquido cefalorraquidiano, contra nenhum dos 63 bebês saudáveis. “Concluímos que a epidemia de microcefalia é o resultado da infecção congênita por zika”, escreveram os autores no artigo então publicado.

O estudo continua em curso e deverá incluir 200 casos de recém-nascidos com microcefalia e 400 sem a doença, o que permitirá quantificar o risco com maior precisão e investigar o papel de outros fatores na epidemia de microcefalia.

“Pensar que em menos de um ano se estabelece o vínculo causal com uma doença e se levanta a hipótese e se consegue estabelecer o vínculo de associação entre a infecção congênita e a doença. É um novo capítulo da medicina”, disse Turchi, lembrando que esse conhecimento é útil para que se invista na prevenção.

A cientista brasileira, no entanto, lamentou o fato de que a mesma rapidez não se verifica do ponto de vista da saúde pública.

“Do ponto de vista das ações e aporte de recursos, ainda não temos a preparação suficiente para respostas imediatas. Do ponto de vista da sociedade, ainda é precário. [A microcefalia] é uma carga social e para os serviços de saúde”, disse, comentado a incapacidade provocada pela doença nas crianças, o peso para as famílias e o aumento da procura dos serviços de saúde.

Cientistas influentes

Outros escolhidos pela “Nature” foram a argentina Gabriela González, por uma pesquisa inovadora sobre ondas gravitacionais, e o espanhol Anglada Defendi, que entrou na lista por ter descoberto um planeta parecido com a Terra próximo da estrela Alpha Centauri.

O cocriador da empresa de inteligência artificial DeepMind, Demis Hassabis, entrou no ranking por ter desenvolvido o programa AlphaGo, que foi capaz de vencer o campeão mundial do “Go”, conhecido como “xadrez oriental”.

O nascimento do primeiro bebê do mundo por meio de uma técnica de reprodução assistida que usa o DNA de três pais diferentes também se tornou realidade neste ano, o que fez a “Nature” incluir na lista de personalidades o especialista em fertilidade John Zhang.

Outro que está na relação é Kevin Esvelt, que obteve o reconhecimento da revista pela descoberta dos possíveis efeitos negativos de uma polêmica técnica, que ele mesmo ajudou a criar, que usa a edição genética CRISPR para fomentar ou suprimir a expressão de certos genes em populações de uma espécie para perpetuar um traço entre os indivíduos.

De acordo com o redator da “Nature” Richard Monastersky, os cientistas que aparecem na lista deste ano compõem um “grupo muito diverso”, mas todos tiveram um papel muito importante nos principais eventos científicos de 2016.

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