Pesquisadores chineses tentaram modificar gene que levaria a doença

Em um experimento sem precedentes, cientistas chineses relataram terem modificado o genoma de um embrião humano. Os resultados da experiência, publicados no dia 18 de abril na revista “Protein & Cell”, levaram os cientistas a iniciarem um debate ético e motivaram a publicação de um artigo sobre o tema na prestigiosa revista “Nature” nesta quarta-feira (22).

Com a pesquisa, os cientistas da Universidade Sun Yat-sen, na cidade de Guangzhou, na China, tentaram modificar o gene relacionado à talassemia beta, doença que leva à anemia devido à malformação das hemácias. Para isso, usaram uma técnica de edição de DNA chamada CRISPR/Cas9.

Este foi o primeiro registro do uso dessa técnica em embriões humanos. Os autores do estudo dizem que os resultados mostraram que ainda não é possível utilizar o método para fins médicos porque a técnica ainda está “muito imatura”.

Conflito ético
A comunidade científica levantou a questão de que a possibilidade de manipular genes antes de o bebê nascer para evitar doenças genéticas pode levar a um uso antiético da técnica. Para especialistas, não é possível saber quais consequências essas modificações terão quando forem transmitidas para as gerações futuras.

Os cientistas chineses amenizaram os conflitos éticos ao assegurarem que os embriões utilizados no experimento não seriam viáveis para o implante, ou seja, não poderiam resultar em uma gestação e no nascimento de um bebê. Eles foram obtidos em clínicas de fertilização locais.

De qualquer forma, os resultados mostram que a técnica está longe de ter uma aplicação bem-sucedida. Os autores do estudo relataram que a técnica só funcionou em uma pequena parcela dos embriões que receberam o procedimento. “Se quisermos fazer em embriões normais, teríamos que ter quase 100. É por isso que paramos. Achamos que ainda está muito imaturo”, afirmou o cientista Junjiu Huang, um dos autores, à revista “Nature”.

Além disso, outras mutações não previstas também foram identificadas, o que sugere que a “edição” age em outras partes do gene.

Em resposta à publicação da pesquisa, a Sociedade Internacional para Pesquisas de Células-tronco pediu a suspensão das tentivas de modificações do genoma de embriões humanos até que se concluam análises científicas mais conclusivas sobre os riscos potenciais e que se realizem debates com a sociedade para discutir a questão ética.

Seleção genética já é feita
Atualmente, o que a medicina já permite é seleção genética de embriões. Essa técnica prevê uma análise dos cromossomos dos embriões para verificar se possuem alguma alteração. Anomalias cromossômicas podem determinar síndromes como a de Down ou a de Turner, por exemplo. Com base nos resultados dessa análise, é possível selecionar aqueles embriões livres desse tipo de falha para implantá-los na fertilização in vitro.

A estratégia pode ser usada por casais que já têm um filho com uma síndrome genética e buscam diminuir os riscos de que o próximo filho tenha o mesmo problema. Também pode ser usada para que o bebê tenha compatibilidade com um irmão mais velho que tenha alguma doença que necessite de transplante de medula óssea, por exemplo.