‘Antes, para ser bonita, era preciso ter pele branca e olhos claros’

Negra e de origem humilde, Bárbara Reis, de Sinop, vai concorrer a coroa nacional em junho, em SC

A estudante de Direito Bárbara Reis, 19 anos, se tornou na semana passada a nova Miss Mundo Mato Grosso 2017.

A jovem, que é de Sinop (500 km ao Norte de Cuiabá), deixou de lado os estereótipos da mulher negra e de origem humilde para provar que todas as mulheres podem conquistar o que quiserem.

E fez melhor: além de se tornar a representante do Estado no concurso que irá escolher a Miss Mundo Brasil, em junho, Bárbara vai representar também milhares de meninas que se sentiam excluídas do que era tido como um “padrão de beleza”.

“Antes, para ser bonita, você precisava ter pele branca e olhos claros. Hoje em dia não, a beleza não segue mais um padrão. O bonito é muito individual e isso deve ser respeitado”, disse.

O sonho de se tornar miss, segundo Bárbara, vem de longa data. O primeiro concurso de beleza de que participou foi aos 14 anos, quando acabou escolhida rainha da Expoxingu, no Pará.

De lá para cá, lutou para atingir esse objetivo, driblando os obstáculos da falta de tempo e de dinheiro.

“Ser miss, para mim, sempre foi uma grande paixão. Eu sempre sonhei em seguir essa careira. Então, nunca desisti”.

Com a ajuda de empresários e amigos da faculdade, Bárbara conquistou, em outubro do ano passado, o título de Miss Comércio Sinop e garantiu a vaga no concurso estadual.

“Eu trabalho em uma loja durante o dia. Então usava meu horário de almoço para correr atrás de patrocínio. À noite, ia para a faculdade e, quando saía de lá, ia direto para a academia me preparar para o concurso. Meu dia só acabava depois da 1h da madrugada”, relembra.

Na Capital, o desafio era outro: encarar a ansiedade e disputar com outras 16 candidatas o posto de mulher mais bonita de Mato Grosso.

“A concorrência era enorme. Eu admito que fiquei com muito medo quando vi as meninas. Mas decidi que aquele era o meu momento. Eu sabia o que tinha que falar e fui em frente”, afirmou.

No palco, Bárbara desfilou em trajes de gala, social e banho. Além disso, a miss precisou responder ao corpo de jurados por que ela merecia se tornar Miss Mundo Mato Grosso.

“Eu contei a minha história, do sonho que eu estava realizando em pisar naquele palco, do privilégio que era participar do concurso e representar o Estado. Eu quero levar a beleza de Mato Grosso para todo o Brasil”.

Após ganhar o concurso, Bárbara afirma que chegou a sofrer com alguns comentários preconceituosos nas redes sociais. Mas afirma que sua vitória vem justamente para romper este tipo de pensamento.

“Eu sou muito bem resolvida. A minha autoestima é muito elevada. Eu só absorvo aquilo que é bom para o meu coração e o que não for eu ignoro”, rebateu.

Agora, o foco está totalmente voltado para a preparação do Miss Mundo Brasil. Nesta etapa, Bárbara vai contar com a ajuda dos coordenadores do evento em Mato Grosso.

O principal desafio, para ela, é a exigência do concurso de que as candidatas falem uma língua estrangeira.

“Eu tenho que falar inglês, é obrigatório. Então, já vamos começar a preparação nesse sentido. Me encaixar nas medidas acredito que não será a maior dificuldade, sou bastante disciplinada”.

Inspirada na atual Miss Brasil, Raíssa Santana – que entrou para a história sendo a segunda mulher negra coroada no concurso –, Bárbara está confiante em trazer a faixa do Miss Mundo Brasil este ano.

O concurso nacional está previsto para acontecer no dia 24 de junho, em Jurerê Internacional, em Florianópolis (SC).

O Brasil já teve duas representantes de Mato Grosso em um dos concursos que elegem a mais bela mulher do mundo, uma delas de Sinop.

No ano de 2000, Josiane Kruliskoski venceu todas as etapas e representou o país no Miss Universo.

Em 2014 a Miss Rondonópolis Jakelyne Oliveira também foi eleita a mais bela do País e pôde levar a beleza mato-grossense para o mundo, também no Miss Universo.

Diferenças

O Miss Mundo e Miss Universo são eventos diferentes, organizados por empresas distintas, que faturam milhões de dólares vendendo os direitos de transmissão para todo o planeta.

O primeiro surgiu em 1951 na Inglaterra, idealizado pelo britânico Eric Mosley. Já o Miss Universo veio um ano depois, na Califórnia, Estados Unidos. Em 1996, a franquia foi comprada pelo milionário Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos.

Na América Latina – incluindo o Brasi -, o Miss Universo é mais valorizado. Já o Miss Mundo tem mais prestígio na Europa e Ásia.