Crise hídrica: em busca do tempo perdido

Sudeste passou por crise parecida em 2003

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Sudeste passou por crise parecida em 2003

A grave crise hídrica no Sudeste pode ser encarada como uma combinação de má gestão e inércia diante de um problema que já se anunciava há tempos.

O professor de Geografia e do Laboratório de Geografia Física da Universidade Federal Fluminense (UFF), Flávio Nascimento, destacou que a última grande crise pela qual a região passou foi em 2003.

 No entanto, nada foi feito para evitar que o problema se repetisse. “De 2003 para cá pouco ou quase nada foi feito. Os reservatórios não têm manutenção, estão morrendo” disse Flávio. “Os governos, em suas três esferas, têm que se mexer, executar seus papeis em relação à questão da água. E a sociedade tem que acordar de modo a ser cidadã e engajada com a questão”, completou o professor.

O especialista explica que a demanda per capta aumentou e a oferta dos reservatórios diminuiu. No entanto, para ele não é somente a falta de chuvas que justifica a queda das demandas. “Mesmo que as chuvas se regularizem, a capacidade de armazenamento está sendo muito reduzida ano a ano. É fundamental que isso seja revisto”, disse o professor. Ele destaca a importância do gerenciamento. “A gestão, ofertas, usos múltiplos das águas, preservação e usos complementares devem ser trabalhados de modo prioritário”, disse.

 

O professor explicou que o Rio de Janeiro, dentro de um contexto nacional, é o município que mais desperdiça água em todo país. Ele afirma que o país deve trabalhar o gerenciamento hídrico, o que classifica como construção de novas represas, a manutenção das já existentes, recuperação das que estão em operação e a recuperação de canais e rios.

A coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, acrescenta afirmando que a sociedade precisará se reinventar para conseguir lidar com os problemas que podem vir. “Nós vamos ter que adequar nosso comportamento, vamos ter que nos reinventar para que as regiões mais industrializadas não percam com a falta dos recursos hídricos. Temos tecnologia e estudos, devemos cobrar dos governantes atitudes.”

Malu Ribeiro destaca que crises como essa servem para a população aprender e se adaptar a situações críticas. “Na visão da SOS Mata Atlântica, crises graves como essa levam a oportunidades, para fazer com que as pessoas e as autoridades acordem para o que estamos falando há mais de vinte anos”, disse. A política necessária, de acordo com Malu, para que as crises sejam amenizadas é a conservação das florestas e do meio ambiente.

O professor Flávio Nascimento concorda com a coordenadora. “O Estado precisa investir em limpeza de rios, saneamento básico e reconstrução das matas ciliares, recuperação de rios e bacias. É preciso trabalhar com investimento em dinheiro e políticas públicas para a recuperação desses rios e reservatórios, porque a demanda é crescente, a população cresce. As indústrias, os serviços se diversificam e a água é elementar”, explicou.

 

O gerente de Águas Subterrâneas da Agência Nacional de Águas (ANA), Fernando de Oliveira, destacou também que, se as canalizações de transporte de águas fossem consertadas e apenas 15% das perdas no transporte fossem diminuídas, os ganhos para a população seriam notáveis.

 “Se você reduzir as perdas da rede e tratar o esgoto, se resolve praticamente todo o problema da crise, aumentando a oferta. Se diminuir 15% das perdas de água já melhora muito a situação. No entanto, esse investimento é caro e a longo prazo. É preciso trocar toda a tubulação, acabar com os chamados gatos. Conscientizar a população para a necessidade real do uso”, afirmou.

A ANA destacou que a seca da região Sudeste é a pior dos últimos 85 anos e que, independentemente das políticas públicas feitas, é necessário que se chova para que haja o reabastecimento dos reservatórios.

O gerente Fernando de Oliveira acrescentou que o Brasil tem utilizado as águas de aquíferos presentes no subsolo do nosso território. No entanto, explicou que a utilização dessa água por toda população é inviável. De acordo com o gerente, em algumas áreas as águas estão em posições muito profundas e cercadas por rochas cristalinas, ou seja, a perfuração seria demasiado cara para ser feita. No entanto, segundo ele, algumas áreas do país como Ribeirão Preto, em São Paulo, são completamente abastecidas por águas subterrâneas.

“Se não tivéssemos utilizando essas águas subterrâneas, a situação no país seria muito pior. Setenta e dois porcento dos municípios de São Paulo são abastecidos também por águas subterrâneas”, disse Fernando Oliveira. “Se tivesse chovido na média nos últimos dois anos, os problemas não seriam tão graves. Não é possível colocar a culpa toda somente na gestão, São Pedro também não tem ajudado bastante”, afirmou.

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