MPE investiga funcionária do Hospital do Câncer por cobrar tratamento ‘por fora’
Funcionária foi demitida pelo Hospital, que levou caso à polícia
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Funcionária foi demitida pelo Hospital, que levou caso à polícia
O MPE (Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul) abriu inquérito civil para investigar suposta cobrança ‘por fora’ para atendimento no Hospital de Câncer Alfredo Abrão, em Campo Grande. O caso ocorreu em 2014 e foi denunciado por uma filha do paciente à entidade, que demitiu a suspeita e levou o caso à polícia.
Segundo a denúncia, a família teria pagado R$ 3,8 mil a uma antiga funcionária do hospital. A cobrança foi feita por Lana Machado, funcionária do hospital. De acordo com Eledir Batista de Souza, filha do paciente, depois de descobrir a irregularidade, a direção do Alfredo Abrão, demitiu Lana, funcionária do hospital havia 17 anos.
Agora, a situação é apurada pela 49ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público, das Fundações e Entidades de Interesse Social da Comarca de Campo Grande/MS, coordenada pelo Promotor de Justiça Gevair Ferreira Lima Júnior, que deve apurar eventual participação de médicos no esquema.
Fraude
No inquérito, Eledir explica que em setembro de 2014, o pai Waldomiro estava internado no hospital, com quadro inicial de “neoplasia maligna do estômago não especificado”.
O diretor financeiro do hospital, Carlos Osório Machado, afirma, no documento, que Waldomiro foi classificado como paciente particular e o hospital cobrou R$ 684 reais, sob supervisão do médico Fabrício Colaciono.
Ao notar a piora no quadro, Eledir teria solicitado a transferência do pai para um quarto particular, solicitação conduzida por Lana, funcionária do hospital.
“A Sra. Lana disse que neste quarto que meu pai seria transferido, era na frente do posto médico e que por este motivo era para a família não fazer tumulto, era para sermos discretos, mas que poderíamos entrar [visitar o paciente] a qualquer momento conforme era o desejo da família. Ela [Lana]disse também que não iria cobrar o valor de uma diária de apartamento, pois neste quarto que ela conseguiu para meu pai não tinha as mesmas acomodações de um apartamento, disse ainda que todas a despesas seriam pelo particular, inclusive os honorários médicos. mas me garantiu que não passaria de uns R$ 500,00 por dia, incluindo tudo”, afirmou a filha do paciente.
Ainda segundo o inquérito, Eledir teria ouvido da funcionária que não precisaria pagar o valor total, podendo acertar a conta aos poucos. “Perguntei se poderia passar cartão de débito, e ela disse que o hospital não trabalhava com cartão, que eu tinha que pagar com cheque ou dinheiro, disse que tudo bem, pois neste momento de desespero estava aceitando qualquer situação”, afirmou a filha de Walmomiro.
Já nos próximos dias, o fluxo de visitantes ao quarto onde o idoso estava internado, chamou atenção de funcionários, entre eles uma assistente social, que questionou o suposto ‘uso particular’.
“…esta situação foi comunicada à assistente social que foi até o quarto na parte da tarde e perguntou para minha irmã Eni Maria : ‘vocês estão pagando alguma coisa por este quarto?’ Minha irmã respondeu que sim, e a assistente social respondeu que pagamento que não deveria ser feito”, disse Eledir, segundo o inquérito.
Eledir, então, teria conversado pessoalmente com a assistente social, que teria ligado para a enfermeira chefe, identificada no documento como Amanda. A enfermeira teria questionado o uso do local: ‘vou ser sincera, o que está acontecendo é que vocês estão ern uma situação privilegiada porque seu pai está em quarto sozinho e todas as despesas está sendo pelo SUS’.
A enfermeira ainda teria questionado os valores cobrados. “Acontece que eles só pensam na parte financeira do hospital e tem mais , se seu pai estivesse pelo particular vocês não iriam gastar só R$ 500,00 por dia. Por exemplo, seu pai esta tomando um remédio para recuperar as funções renais, que cada dose é mais de R$ 400,00 e a cirurgia que ele fez para colocar o dreno seria uns R$ 4 000.00 no particular e eu não poderia chamar um médico do SUS para atender seu pai, e todos os profissionais que estão atendendo ele estão pelo SUS , este quarto que seu pai está não é de uso particular e sim uma área de isolamento do hospital e todos os pacientes que entram aqui é pelo SUS”.
Ainda segundo o inquérito, Waldomiro morreu no dia 28 de setembro, e Eledir teria ouvido da enfermeira chefe que não deveria arcar com nenhuma despesa. “Ela disse que não tinha que acertar nada e que estávamos liberados, agradeci, dei um abraço nela pela atenção que dispensou ao meu pai”, diz trecho do inquérito.
No início de outubro Eledir teria recebido ligações de Lana Machado, cobrando pelo uso do quarto particular que, de fato, era exclusivo para pacientes do SUS.
“A Sra Lana disse neste momento que estas pessoas não entendiam da administração do hospital e saiam falando bobagens sem conhecer e acaba confundindo as pessoas, mas que estava tudo certo’.
Confusa, a filha de Waldomiro ligou para outra funcionária, identificada como D. Alberta. A funcionária havia assegurado, antes do falecimento do paciente, que o serviço era encargo do SUS, conforme citado no inquérito.
Ao conversar novamente com Eledir, no entanto, ela teria declarado que o serviço era particular. “ A D. Alberta me retornou dizendo apenas que estava tudo certo e que eu deveria pagar mesmo, pois estava tudo correto e que o hospital iria até emitir uma nota fiscal”.
Eledir ainda teria conversado via WhatsApp com Lana Machado sobre a cobrança. “Recebi uma mensagem da Sra Lana através do whatsapp que a nota fiscal já estava emitida. Liguei e disse a ela então que estava indo no hospital ainda naquele dia. Mais tarde a Sra Lana me enviou uma mensagem dizendo que eu deveria ir no outro dia. Achei estranho, porque outra pessoa do fínanceiro não poderia receber?”, questionou Eledir, segundo o inquérito.
“Porque nos documentos que assinei no dia 23/09/2014 transferindo meu pai para o particular consta que meu pai ficaria no apartamento 02, mas ficou na enfermaria H, que soube que era uma área de isolamento do SUS? Este valor que paguei ao hospital foi devidamente registrado na contabilidade do hospital, consta nos registros contábeis? Toda receita tem que ter um documento fiscal correspondente, se anota foi cancelada como este valor foi registrado no livro diário?, conclui Eledir.
No inquérito, além de anexos das conversas de WhatsApp e emails, constam documentos com os valores cobrados pelo hospital. Uma delas, da Fundação Carmen Prudente, que administra o Hospital do Câncer, totalizando R$ 3,828 mil.
Após investigação conduzida pela Polícia Civil, Lana Machado foi demitida. Em documento, anexo ao inquérito, o diretor do hospital, Carlos Alberto Coimbra, afirma estar “a disposição de quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários”.
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