Como cogumelos alucinóginos, LSD e MDMA podem mudar o tratamento de doenças mentais
Uma nova análise de estudos descobriu que o LSD, e o MDMA têm potencial para tratar doenças mentais
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Uma nova análise de estudos descobriu que o LSD, e o MDMA têm potencial para tratar doenças mentais
Será que a medicina americana está à beira de uma revolução psicodélica?
Parece cada vez mais possível. Uma análise cientifica de pesquisas existentes sobre as aplicações terapêuticas das drogas chamadas de “psicodélicas”, publicados semana passada no Jornal da Associação Médica Canadense, destaca enorme potencial em substâncias como o LSD, a psilocibina (cogumelos alucinógenos) e o MDMA (o ingrediente ativo no ecstasy) no tratamento de várias doenças mentais, inclusive de transtornos de estresse pós-traumático, vício e ansiedade associada com doenças terminais e depressão.
Embora a pesquisa ainda esteja no início, pequenos estudos preliminares na análise mostraram que resultados positivos podem surgir em um curto tempo — ou até em sessões únicas – de terapia psicodélica-assistida.
“Os estudos estão mostrando grandes efeitos”, disse o Dr. Matthew Johnson, farmacólogo comportamental da Universidade Johns Hopkins e um dos autores do estudo. “O mais animador não é apenas que essas drogas funcionem para algo que nós já temos tratamento. É que elas estão conseguindo grandes efeitos em transtornos para os quais temos um tratamento bem ruim”.
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O HuffPost Science conseguiu falar com Johnson, quem conduziu a extensa pesquisa sobre as aplicações terapêuticas da psilocibina e outros alucinógenos, para saber mais como as substâncias psicodélicas podem mudar completamente o tratamento das doenças mentais.
Algumas pessoas estão chamando as drogas psicodélicas de uma“mudança de paradigma” no atendimento psiquiátrico. Você concorda?
A “mudança de paradigma” é um termo apropriado. Frequentemente, esse termo é usado demais na ciência, mas aqui cabe bem. Existem diferenças fundamentais na abordagem das drogas existentes e dos tratamentos psicodélicos; sendo assim, é por isso que nós as chamamos de um paradigma diferente.
Essa é verdadeiramente uma terapia com ‘medicamento facilitado’. Muitos dados sugerem que dependendo da natureza da experiência subjetiva obtida sob os efeitos das substâncias que se determina os benefícios a longo-prazo – não basta apenas tomar as substâncias. As drogas psicodélicas abrem a porta da mente e, desta forma, o que está atrás dessa porta depende dos participantes e da intenção que eles trazem para a sessão.
O fato de os efeitos durarem além do tempo em que a droga foi tomada– é o que fazem disso um novo paradigma na psiquiatria.
A pesquisa tem observado os tratamentos psicodélicos para uma série de doenças mentais. Existem certas áreas nas quais você está mais animado ou que parecem mais promissoras?
Eu detesto ter que falar tudo! [risos] Estou bem impressionado com a pesquisa em três grandes categorias – a psilocibina e o LSD para ansiedade e depressão relacionada ao câncer e depressão, a psilocibina para vícios e o MDMA para TEPT (Transtorno de Estresse Pós Traumático). Existem ainda algumas pesquisas preliminares e limitadas sobre o transtorno obsessivo-compulsivo que parecem promissoras.
O estudo que conduzimos sobre a psilocibina e o vício do cigarro no Johns Hopkins teve uma taxa muito grande de sucesso — 80% das pessoas ficaram em abstinência após seis meses, o que é bem fora de qualquer parâmetro se comparado com tratamentos típicos. Já com o alcoolismo, um estudo piloto encontrou um forte efeito também.
É realmente a magnitude desses efeitos que é animador.
Esses estudos têm mostrado que os pacientes frequentemente conquistam resultados duradouros depois de algumas sessões e um estudo até encontrou que uma única sessão de psilocibina produz mudanças duradouras de personalidade. Como é que essas substâncias podem ter tais efeitos poderosos? O que acontece no cérebro?
Não sabemos bem ainda, mas suspeitamos [que existam] algumas mudanças duradouras na forma em que diferentes áreas e processos cerebrais se comunicam ou sincronizam uma com a outra. Suspeitamos que exista uma reorganização fundamental em cada nível.
Quais são os potenciais perigos de usarmos essas drogas? Será que as “bad trips” podem ser um motivo de preocupação?
Existem riscos em todas as intervenções médicas, então a questão relevante aqui é, “Qual é o equilíbrio entre o possível benefício e o risco?”
Em termos das chamadas “bad trips”, nós realmente incentivamos os participantes dos nossos estudos a considerarem esses efeitos desafiantes como aprendizado e integrar essas difíceis experiências psicológicas.
Acontece, mas são relativamente raras. Estamos bem conscientes, e como campo, somos bem responsáveis ao monitorar e proteger essas sessões.
Cerca de um terço dos participantes que tomam uma alta dose de psilocibina irá, em algum momento durante a sessão, ter o que pode ser chamado uma “viagem ruim”. Vai ser aversivo — a pessoa pode ficar bem assustada – mas no contexto deste tipo de teste, quando eles estão no sofá e estão sendo monitorados, a pessoa não pode fazer nada estúpido. Mas não vimos qualquer evidência de uma reação ou dano prolongado psiquiátrico, ou da pessoa “não voltar”.
Entretanto, uma pessoa com transtornos psicóticos ativos ou uma forte predisposição para tal não deveria receber esses tratamentos. Nós conseguimos selecionar de forma confiável os indivíduos que participam através de uma cuidadosa avaliação psiquiátrica.
Essas drogas foram pesquisadas extensivamente nos anos 1950 e 1960, mas o financiamento parou quando as substâncias foram classificadas como perigosas e sem valor médico. Os cientistas ainda estão enfrentando esses desafios?
Este é realmente o maior desafio, mas eu não estou preocupado, porque tudo está nos trilhos agora. Existe pouco financiamento governamental para pesquisas com esses tipos de compostos terapêuticos, mas estamos otimistas e pensamos que é bem provável que isso mude.
Essa é uma área bem nova, então sabemos que existe uma relutância inicial e vamos deixar as informações falarem por si mesmas. Leva tempo.
Além do Johns Hopkins, que outros tipos de instituições estão liderando? Se as pessoas estiverem interessadas em participar em testes clínicos, o que elas poderiam fazer?
Hopkins tem conduzido até agora a pesquisa mais extensa em psilocibina nos Estados Unidos. A UCLA publicou um estudo com 12 pacientes de câncer e a NYU recentemente conduziu um estudo com cerca de 30 pacientes de câncer. A Universidade do Alabama em Birmingham iniciou um teste de psilocibina para dependentes de cocaína com algumas dezenas de pessoas.
No Hopkins, administramos mais de 500 doses de psilocibina nos últimos 15 anos. Falando sobre psilocibina fora dos Estados Unidos, centenas de voluntários tomaram a substância na Universidade de Zurich e a Univerdade Imperial de Londres recentemente publicou alguns pequenos estudos.
Se você está interessado em participar dos testes clínicos, informe-se sobre a psilocibina ou o MDMA no site americano clinicaltrials.gov.
Nós estamos ainda nas fases iniciais de pesquisa. Quanto falta exatamente para que os psiquiatras sejam capazes de usar a terapia psicodélica-assistida com seus pacientes?
No contexto de testes bem controlados terapeuticamente a resposta é “agora”. Em termos de tratamento clínico padrão, depende do contexto. Estamos bem avançados na pesquisa com a psilocibina para a ansiedade e a depressão relacionadas ao câncer. É o mais próximo da fase 3 do estudo que estamos e que, sendo bem-sucedido, poderia nos levar a drogas aprovadas para uso sob condições bem restritas.
Outra pesquisa mais profunda exploraria até que ponto esse tipo de tratamento poderia existir.
[Nota do Editor: Os testes da Fase 2 ocorrem quando a droga é dada para um grupo maior de pessoas, maior do que em um teste inicial, para monitorar sua eficácia e segurança. Os testes na Fase 3 são usados para confirmar a eficácia, estudar melhor os efeitos colaterais e determinar as normas de uso.]
Sobre os vícios. Os testes iniciais para o vício do cigarro e do álcool foram conduzidos e parecem promissores. Então os próximos passos são testes da fase 2, que estão acontecendo agora.
Não é tudo “preto no branco”, mas espero que dentro dos próximos 10 anos exista um uso receitado [para a psilocibina e o LSD], pelo menos para indicações relacionadas ao câncer.
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