Câncer de ovário: Cirurgia de Angelina Jolie traz riscos

Cirurgia preventiva é invasiva e traz riscos à paciente

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Cirurgia preventiva é invasiva e traz riscos à paciente

Angelina Jolie fez uma cirurgia na semana passada para retirar ovários e trompas de falópio depois que os médicos detectaram sinais precoces de câncer. O câncer de ovário  é responsável por volta de 6% dos cânceres das mulheres, mas possui alto índice de mortalidade. Isso se deve por ser descoberto, na maioria das vezes, em fases avançadas (75% dos casos) e por estar dentro da cavidade abdominal, com capacidade de invadir órgãos próximos.

Existem vários tipos de cânceres de ovários, com diferentes expressões clínicas e agressividade. Quando o tumor cresce, pode se espalhar pelo peritônio, tecido que reveste a cavidade abdominal, levando a um extravasamento de líquido chamado de ascite, que pode acontecer em diversos graus. Os principais sintomas da doença são: dor pélvica e nas costas, aumento do volume abdominal pela ascite e/ou tumor e desconforto urinário e intestinal. Não existe até o momento nenhum exame para detectar o tumor precocemente.

Todas as condições que mantenham os ovários em repouso diminuem os riscos da doença, como gestações, pílulas e outros medicamentos que levam a mulher a ficar no estado de anovulação. Obesidade, fatores dietéticos com aumento do peso, principalmente na adolescência, aumentam o risco. A reposição hormonal na menopausa não apresenta estudos conclusivos desta relação.

Por volta de 80% dos casos de cânceres são esporádicos e por volta de 20% têm ligação familiar, isto é, podemos encontrar uma frequência maior em determinadas famílias, mas não conseguimos “ligar” os parentes com câncer. Os casos genéticos ocorrem de 5% a 10% dos casos e, nestes, podemos observar na árvore genealógica familiares acometidos em diversas gerações, principalmente jovens (antes dos 50 anos), homens com câncer de mama, cânceres de mama bilaterais ou concomitantes. Os principais genes que estão envolvidos no crescimento, divisão e reparação dos genes alterados das células são o BRCA 1 e 2. As pacientes que apresentam estas alterações podem ter chance de até 40% para câncer de ovário e 65% de câncer de mama durante a vida, além de outros tipos.

Portanto, a alteração destes genes leva a maior frequência de câncer de ovário e mama nestas famílias.

Conhecendo o risco

Quando se suspeita destas mutações, a paciente e familiares devem ser orientados e deve ser oferecido testes para a avaliação genética. Podemos usar algumas medidas para diminuir os riscos com impacto final muito pequeno, como não ganhar peso, diminuir consumo de álcool e fazer exercícios. O método mais eficaz atualmente para evitar o câncer de ovários, ainda que não totalmente, são as cirurgias profiláticas. São cirurgias mutiladoras, que devem ser feitas o mais precocemente possível – antes dos 50 anos, principalmente quando a prole já estiver formada. Caso a mulher ainda queira ter filhos, pode-se guardar óvulos ou embriões congelados (criopreservação). Estas cirurgias devem ser avaliadas por uma equipe multidisciplinar e com tempo de conscientização para evitar decisões precipitadas.

Para a prevenção do câncer de ovário, a retirada das trompas já diminui o risco, mas para maior eficácia a cirurgia completa é a retirada dos ovários, trompas e útero. Devemos avaliar os efeitos da falta de hormônios, que podem levar a osteoporose, ondas de calor, amento dos riscos cardíacos, falta de libido, secura vaginal e outros sintomas com perda da qualidade de vida. E é importante que a paciente seja informada sobre isso, mas há medidas para tentarmos contornar estes problemas.

A avaliação multiprofissional é fundamental para a melhor tomada de decisão em relação ao tratamento cirúrgico profilático e suas consequências para a saúde da mulher.

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