Os trabalhadores brasileiros, assim como os micro e pequenos empreendedores, são um dos setores mais prejudicados pelos efeitos que a pandemia tem deixado na economia global e nacional.

 

As condições nas quais a população teve que viver nos últimos quase dois anos também se refletem na sua realidade financeira de acordo com os dados ministrados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) desenvolvida pelo organismo, 74,6% das famílias brasileiras está com dívidas, percentual que continuou crescendo em outubro com uma alta de 0,6 ponto percentual com relação ao mês anterior e de 8,1 pontos percentuais se comparado com o mesmo mês do ano passado. 

 

Para chegar a esses resultados, a Confederação contabilizou todas aquelas pessoas que registraram diversos tipos de dívidas, como de empréstimos pessoais, prestações de carro ou seguros, de cheque pré-datado ou as parcelas do cartão de crédito; também foram levadas em conta todas as formas de contratação, como as feitas nos bancos tradicionais ou a toma de empréstimos online através de aplicativos ou fintechs. Os valores representam cerca de 12 milhões de famílias brasileiras endividadas; trata-se do maior nível de endividamento registrado pelo organismo desde o começo da análise deste dado, há 11 anos. 

 

Em termos gerais, o endividamento em si mesmo não é ruim, mas alguns valores são preocupantes. Assim, por exemplo, o número de famílias inadimplentes (ou seja, com contas sem pagar e em atraso) alcançou mais um recorde com 25,6%, com incremento de 0,1 por cento com relação ao mês anterior. No entanto, 10,1% do total manifestou não ter condições para poder fazer frente àquelas dívidas.

 

Do total das dívidas registradas, as protagonistas são as ligadas com o uso do cartão de crédito: 84% das famílias endividadas denunciaram possuir compromissos ou parcelas deste tipo de financiamento, por ser o meio de pagamento mais popular no nosso país. 

 

Os motivos do alto percentual de endividamento dos lares brasileiros são muitos, mas apesar da crise, um dos fatores decisivos tem a ver com o comportamento da taxa Selic nestes últimos anos, que entre agosto de 2020 e janeiro deste ano atingiu o seu patamar mais baixo: 1,90% de acordo com o histórico informado pelo do Brasil. A é a taxa de juros básica estabelecida pelo Comitê de Política Monetária que define a variação nos juros cobrados nos serviços financeiros oferecidos no mercado. Se a taxa Selic sobe, como vem acontecendo nos últimos meses, os créditos ficam mais caros. Mas com aquela Selic em níveis tão baixos, a contratação de créditos era bem conveniente para a população, o que incentivou o endividamento na procura por estimular o consumo. 

 

O que esperar para o futuro?

 

O panorama para os próximos meses é diferente e, de fato, já está mudando. Isto porque, ainda que o endividamento continuou crescendo, o aumento vem sendo menor do que nos meses anteriores. Acontece que desde março deste ano o COPOM está aplicando aumentos na taxa Selic, que atualmente está em 7,75% mas espera-se um incremento, atingindo o valor de 9,25% em dezembro próximo

 

Com o incremento da taxa básica, o Banco Central tem o objetivo de diminuir a crescente inflação, mas ao mesmo tempo, a consequente elevação nos juros em geral vai reduzir o acesso ao crédito por parte da população, pelo fato dele ficar mais caro. Esta medida já está impactando na proporção de endividados: só entre agosto e setembro, a concessão de crédito com recursos livres para pessoas físicas caiu 2%, registrando a primeira diminuição mensal desde janeiro deste ano. 

 

Mesmo que o endividamento em excesso seja um problema, nas condições atuais, a redução de créditos e o incremento nas taxas podem gerar uma situação de instabilidade no orçamento de muitos lares brasileiros. Atualmente a taxa média no crédito livre para pessoas físicas passou de 41,3% para 43,8% ao ano, e com projeções de continuar  crescendo. É importante levar em conta que todo aumento nas parcelas a pagar faz a diferença para uma família com dívidas em atraso.

 

Será que as famílias endividadas estão em condições de fazer frente às contas?

 

A pergunta não é à toa, pois alguns indicadores econômicos, que afetam as finanças pessoais, não são alentadores: o desemprego, a renda e a inflação. 

 

Em primeiro lugar, o nível de desemprego no Brasil continua sendo elevado demais. A nossa taxa é a 4° maior entre as 19 principais economias do mundo e a União Européia (integrantes do G20) e supera em mais do dobro da taxa média global como indicou o ranking elaborado pela agência de classificação de risco Austin Rating. Para o economista-chefe da agência, Alex Agostini, o desemprego elevado no país tem a ver com uma fase prolongada de baixo crescimento e por problemas estruturais históricos da nossa economia como a baixa produtividade. 

 

A taxa atual de desemprego do Brasil é de 13,2% segundo a última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alcançando 13,7 milhões de trabalhadores. Ainda que o valor seja menor que o percentual de 14,7% atingido no primeiro semestre de 2020, resta muito para voltar aos níveis pré-pandemia de 12%. Para Agostini, a recuperação do está freada desde os últimos meses por causa de uma piora das expectativas, principalmente a respeito da inflação e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022. 

 

Em segundo lugar, apesar da leve queda do desemprego já mencionada, a renda média dos trabalhadores caiu 10,2%  em um ano. Desse jeito, a média de renda no país é de R$2.489 levando em conta todas as categorias assim como os empregos do setor público. Isto significa que, inclusive quem está com trabalho perdeu poder de compra e, claro, também capacidade para o pagamento de dívidas.

 

Finalmente, todos estes fatores têm relação direta com a inflação, ou seja, o aumento geral e constante dos preços de produtos e serviços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, utilizado como uma prévia da inflação do país, ficou em 1,17% em novembro. Com esse resultado, a inflação acumula uma alta de 9,57% no ano e com projeções de atingir o 10% antes do fim do ano. Este incremento geral tem disseminado os orçamentos domésticos e diminuído também o poder de pagamento dos compromissos financeiros já contratados. 

*Esta é uma página de autoria de O MELHOR TRATO e não faz parte do conteúdo jornalístico do MIDIAMAX.