Em áudio, assessor confirma que Beto Pereira pediu para nomear membro de esquema no Detran-MS
Tuta ganhou cargo na Segov no mesmo dia que irmão de Beto Pereira, e se ‘desculpa’ por demora em nomeação para esquema no Detran-MS
Gabriel Maymone –
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Enquanto aguarda decisão do MPMS (Ministério Público de MS) sobre um acordo de colaboração para detalhar suposto esquema no Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul), o despachante David Cloky Hoffaman Chita apresenta mais provas da denúncia que aponta o deputado federal Beto Pereira, candidato do PSDB a prefeito de Campo Grande, como suposto chefe da corrupção.
Assim, áudio enviado pelo secretário-executivo de gestão política-interior da Segov (Secretaria de Estado de Governo), Eder Uilson França Lima, o Tuta, confirma que o deputado federal Beto Pereira (PSDB) pediu nomeações no Detran-MS para facilitar a operação do grupo que, segundo David Chita, cobrava propina para alterar registros de veículos e repassava o dinheiro para a campanha de Beto Pereira à Prefeitura da Capital.
Hoffaman operava o esquema de corrupção e está foragido porque acha que será morto caso se entregue para ficar em uma prisão sul-mato-grossense. Além disso, ele garante que foi ‘recrutado’ por Beto Pereira para atuar com blindagem que o deputado federal tucano garantiria em troca de parte da propina.
David fez oficialmente no último dia 24 um pedido de acordo de colaboração e afirma que, com a delação, poderia ajudar o MPMS a chegar aos poderosos por trás do esquema de corrupção no Detran-MS.
Ele garante que tem rico material probatório, mas acha que existe resistência porque a ordem seria para ‘blindar’ Beto Pereira, servidores, empresários e outros políticos ligados ao grupo.
David: “Beto queria dinheiro do esquema no Detran-MS para caixa de campanha”
Oficialmente, Beto Pereira continua calado sobre as acusações. Ele não respondeu nenhuma das tentativas de contato da reportagem e foi às redes sociais dizer que a denúncia é eleitoreira. No entanto, Beto nunca ousou negar publicamente as acusações detalhadas e muito menos rebater as informações já liberadas por David Chita.
O despachante diz que considerou Beto Pereira um ‘parceiro essencial’ para aumentar os ganhos ilegais no Detran-MS. Assim, Hoffaman tem mais de um ano e meio de trocas de mensagens, conversas gravadas, vídeos, fotos e até comprovantes de Pix que comprometem os integrantes do grupo.
Tuta e irmão de Beto Pereira foram nomeados no mesmo dia
Em uma das mensagens, o então assessor apontado como braço-direito de Beto Pereira, Thiago Gonçalves, encaminha para David Hoffaman um áudio que recebeu diretamente de ‘Tuta’. Ele assumiu, junto com o irmão de Beto, Gustavo Pereira, um cargo de secretário-executivo na Segov.
O irmão de Beto cuida de ‘gestão política na Capital’, enquanto Tuta cuida da ‘Gestão Política do Interior’. Os dois foram nomeados para os cargos no mesmo dia, 13 de fevereiro de 2023, na mesma página do Diário Oficial.
Falando com Thiago por mensagem de áudio no WhatsApp, Tuta chega a pedir desculpas e justifica o atraso nas nomeações. Descuidado, ainda detalha que Thiago estava havia dias cobrando. “Por ser um pedido do deputado Beto Pereira, vai ser atendido sim”, conclui.
Por fim, pede ‘paciência’ ao então braço-direito de Beto e promete que a nomeação sai até a “semana que vem”.
À reportagem do Jornal Midiamax, em conversa gravada, Tuta negou que tenha providenciado nomeações a pedido de Beto Pereira. Apesar de ser secretário de gestão do interior, negou que seja de sua alçada esse tipo nomeação e disse que não recebeu o pedido de nomeação de Beto.
Ao saber que existem áudios vazados, Tuta desconversou e disse que não tinha nada mais a declarar.
Eder Uilson França Lima, o Tuta, foi prefeito de Ivinhema entre 2013 e 2020 e entrou no PSDB em fevereiro de 2016 para a reeleição. Após o segundo mandato, foi nomeado, desde março de 2021, no cargo de assessor especial da Segov (Secretaria de Estado de Governo), na gestão do ex-governador Reinaldo Azambuja.
Despachante foragido diz que tem como provar tudo ‘se MPMS quiser’
O arquivo que Tuta jura não existir faz parte do rol de provas que o despachante David Chita tem preparado para entregar ao MPMS e, segundo ele, comprovar que o candidato a prefeito de Campo Grande pelo PSDB, Beto Pereira, seria o verdadeiro chefe da organização criminosa.
David é velho conhecido da polícia sul-mato-grossense, mas sempre ‘sobreviveu’ às denúncias e investigações em diversos episódios envolvendo figuras importantes do cenário político de MS. Agora, ele afirma que, se pisar em MS, corre grande risco de ser morto porque sabe demais.
O esquema de corrupção no Detran-MS envolvia nomear ‘aliados’ em cargos estratégicos em unidades do interior do Estado. Para isso, Beto Pereira usaria sua influência para garantir a ampliação das fraudes, que tinha como objetivo levantar fundos para o caixa não oficial da sua campanha para prefeito de Campo Grande.
Assim, em 21 de agosto de 2023, Thiago, que então ainda atuava como braço-direito de Beto Pereira, envia ao despachante que Beto diz na propaganda eleitoral ‘nem conhecer’ até uma cópia do ofício “01577GABDETRAN2023”
Leia também – Nomeações e blindagem: corrupção no Detran-MS ganhou ‘fôlego’ com Beto Pereira no esquema, revelam servidores
Todos se calam sobre esquema no Detran-MS
A reportagem também procurou Thiago Gonçalves para se manifestar sobre o áudio, mas não fomos respondidos até esta publicação.
Beto Pereira e sua assessoria também foram acionados pela reportagem, mas não obtivemos retorno.
Neto disse apenas que “desconhece o assunto” e não respondeu aos demais questionamentos da reportagem
Ao Jornal Midiamax, o Detran-MS enviou nota. Não respondeu sobre possível influência política em nomeações, mas sobre as denúncias de corrupção, informando que colabora com todos os órgãos de controle para garantir a punição de servidores envolvidos em irregularidades. Por fim, sobre as denúncias, limitou-se a dizer que “não fomos notificados em nenhuma denúncia em quaisquer processos de delação”.
Vale ressaltar que o espaço segue aberto para posicionamentos.
Beto Pereira: elo entre operadores do esquema
Todos os nomes apontados por Chita como membros do esquema chegam a um denominador comum: Beto Pereira. O despachante é réu por fraudes ao sistema do Detran-MS junto com o primo de Beto, Joaci Nonato Rezende.
Além disso, no período em que Chita afirma que o esquema começou a operar a favor de Beto Pereira, saíram nomeações para cargos na cúpula do Detran-MS, que teriam como objetivo facilitar o esquema – além de também receberem propina para isso, conforme denuncia do despachante.
Assim, em janeiro de 2023, a prima de Beto Pereira, Priscila Rezende de Rezende – também de Rio Negro -, foi nomeada para diretora de registro e controle de veículos. E, dias depois, colega de PSDB e de Assomasul (Associação dos Municípios de MS), Juvenal de Assunção Neto, assume como número 2 do órgão, para o cargo de diretor-adjunto.
Por fim, Yasmin Osório Cabral é colocada no Detran-MS, em fevereiro daquele ano. Depois, com influência de Beto Pereira, ela vai para a Cotra (Corregedoria de Trânsito), onde opera o esquema seguindo ordens de Thiago. Ela chegou a ser presa pelas fraudes e atualmente está em regime domiciliar, com tornozeleira eletrônica.
Saiba mais – Mesmo esquema: primo de Beto Pereira é réu com despachante que tenta delatar corrupção no Detran-MS
Corrupção no Detran-MS ganhou ‘fôlego’ com Beto Pereira no esquema, revelam servidores
Apesar de ser palco de escândalos de corrupções sistêmicas e consecutivas de fraudes, o Detran-MS tornou-se alvo de operações policiais principalmente a partir de 2023, quando Beto Pereira teria assumido o comando do esquema, segundo confirmado por servidores do órgão ouvidos pela reportagem.
Conforme relatos dos funcionários do órgão, o esquema de fraudes já existia há muito tempo e David era figura conhecida por lá. Assim, as fraudes ganharam sobrevida com a suposta chegada de Beto Pereira no comando do esquema, justamente quando a ‘turma’ do deputado ganha cargos estratégicos no Detran-MS, confirmando a versão apresentada pelo despachante.
Fontes dentro do Detran-MS revelaram que o assessor direto e ‘braço direito’ do parlamentar tucano, Thiago Gonçalves, ‘não saía de dentro’ do órgão e se tornou figura comum nos corredores, mesmo não sendo nomeado.
Despachante tenta delatar Beto Pereira ao MPMS
Na semana passada, o Jornal Midiamax revelou que David propôs pedido de colaboração premiada ao MPMS. O requerimento foi encaminhado pelo PGJ (Procurador-Geral de Justiça), Romão Ávila Milhan Júnior, ao Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção).
Apesar de o Jornal Midiamax ter solicitado informações ao MPMS sobre o andamento do requerimento desde a manhã da última quinta-feira (26), o órgão se mantém calado. No entanto, neste fim de semana, estranhamente, ‘vazou’ cópia do ofício do PGJ, datado do dia 27 de setembro, para veículos ligados à campanha de Beto Pereira.
No documento, ao afirmar não ser de atribuição do PGJ, Milhan alega que não viu fato novo, mesmo com o pivô das operações dizendo que existe um conluio entre o MPMS, delegados e políticos para blindar o suposto chefe do esquema, que seria Beto Pereira. “Não há indicação de qualquer fato e de qualquer pessoa com prerrogativa de foro que traria atribuição a este PGJ para análise“, diz ao encaminhar o requerimento de colaboração premiada ao Gecoc.
Ainda, durante o fim de semana, ‘vazou’ suposto ofício em que Beto Pereira pede ao Promotor de Justiça, Fábio Ianni Goldfinger, que ateste se há investigação contra o candidato em processos relacionados à denúncia de Chita, sendo que o ofício do PGJ foi encaminhado ao Gecoc – comandado pelo promotor Adriano Lobo Viana de Resende.
Titular da 30ª Promotoria de Justiça, Goldfinger assumiu a promotoria em setembro de 2020, após seu antecessor, Marcos Alex Vera de Oliveira, bater de frente com a cúpula do PSDB. No mesmo dia da troca, o Conselho Superior do MPMS arquivou reclamação contra o filho do ex-governador Reinaldo Azambuja – presidente do PSDB em MS.
Apesar de a reportagem ter acionado o MPMS oficialmente desde quando tomou conhecimento do fato, até o momento o órgão não se manifestou sobre o pedido de acordo de colaboração que, segundo o réu foragido, poderia colocar ‘peixes graúdos’ na mira da justiça.
O procurador-geral de Justiça de MS, Romão Avila Milhan Junior, encaminhou o documento para análise do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção).
A reportagem acionou novamente o MPMS para se manifestar sobre o vazamento de documentos e sobre o posicionamento do PGJ. No entanto, não obtivemos resposta até esta publicação.
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