Em novo recurso, Trutis diz que ajuda a sociedade e culpa PF por fracasso de assessor nas urnas

Loester Trutis (PSL-MS) apresentou recurso contra decisão do STF, que há 10 dias decidiu manter investigações contra ele por forjar atentado.

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Relatora concluiu que Trutis simular atentado para capitalizar politicamente defesa de armas | Foto: Reprodução | Redes socias

O deputado federal Loester Trutis (PSL-MS) recorreu da decisão da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) que, há dez dias, resolveu manter as investigações que o implicam em forjar um atentado a tiros. Em recurso apresentado hoje (29), o parlamentar apela para argumentos como o de que presta serviços à comunidade. Além disso, culpa a Polícia Federal pelo fracasso de seu assessor, o também investigado Ciro Nogueira Fidelis, nas eleições municipais de 2020.

A apelação no habeas corpus volta a pedir que o STF decrete produção de prova ilícita pelos investigadores e, por consequência, o trancamento do inquérito que apura o suposto atentado de fevereiro do ano passado. A defesa de Trutis insiste que o deputado federal não foi avisado de que poderia permanecer em silêncio durante as oitivas conduzidas pela Polícia Federal e na reprodução simulada do atentado. Além disso, alega que não houve autorização judicial para a quebra de sigilo do rastreador do Toyota Corolla em que ele e seu assessor estavam no dia do suposto atentado.

O aparelho ajudou os investigadores a identificar que Trutis e Fidelis ficaram parados em uma estrada vicinal na manhã do suposto ataque. No local, a polícia encontrou munições deflagradas e fragmentos de vidro. Mas, na versão do parlamentar, o atentado aconteceu na pista da BR-060, saída de Campo Grande para Sidrolândia.

Além disso, o deputado se pinta no recurso protocolado hoje como alguém que ajuda a sociedade em Mato Grosso do Sul. Trutis afirma que é padrinho de várias crianças, paga bolsas de estudos e patrocina atletas.

A investida no STF ainda atribui a derrota de Ciro Fidelis nas eleições para vereador de Campo Grande à Operação Tracker, deflagrada três dias antes do pleito de 15 de novembro. O assessor de Trutis saiu candidato pelo PSL, obteve apenas 684 votos e não foi eleito, mas sua defesa sustenta que pesquisas internas davam a vitória como certa.

O recurso foi endereçado ao presidente do STF, ministro Luiz Fux. Quem relata o habeas corpus é Dias Toffoli.

Por 3 votos a 1, Primeira Turma avalizou investigações contra Trutis

No último dia 19, a Primeira Turma do STF negou provimento ao agravo regimental de Loester Trutis contra a investigação que o implica em forjar o atentado. Com isso, seguem mantidos o inquérito na corte e o trabalho de apuração da Polícia Federal, que pode culminar no indiciamento do deputado por comunicação falsa de crime, dano, porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e disparo de arma de fogo.

Três dos cinco ministros da turma opinaram por negar provimento ao recurso do parlamentar. O voto do relator Dias Toffoli, endossado por Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, se sustenta em jurisprudência do STF que veda a admissão de habeas corpus impetrado contra ato de um de seus ministros.

O ministro Marco Aurélio divergiu de Toffoli e votou alinhado ao pedido de Loester Trutis. Por sua vez, Rosa Weber se declarou impedida de analisar o recurso.

Enquanto o deputado tenta derrubar a investigação na Justiça, a Polícia Federal aproveita a dilação de prazo autorizada pela relatora do inquérito no STF, Rosa Weber, para finalizar a perícia nas armas e celulares apreendidos durante a Operação Tracker.

Os investigadores já obtiveram acesso a conversas armazenadas nos aparelhos de Ciro Fidelis e Jovani Batista da Silva, este último ligado ao chamado “Movimento Conservador de MS”. Já o smartphone de Trutis foi para o Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília (DF), para uma nova tentativa de extração de dados. O setor técnico-científico da superintendência regional não conseguiu acessar as informações, pois o deputado federal se negou a fornecer a senha.

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Ministros da Primeira Turma do STF (Fotos: Nelson Jr./SCO/STF)

Para polícia, deputado armou atentado de olho em ganho político

As investigações da Polícia Federal se voltaram contra o próprio parlamentar a partir de trabalhos periciais. Laudos balísticos, de exame de local e informações de georreferenciamento entraram em rota de colisão com o que alegava o deputado e seu assessor.

Assim, a PF concluiu que o atentado foi simulado por Trutis, de olho em dividendos políticos e eleitorais. O parlamentar é um entusiasta voraz da flexibilização do Estatuto do Desarmamento.

A polícia identificou que ele sequer foi seguido no dia do suposto ataque a tiros. Além disso, a descrição dada pelo deputado federal sobre o veículo supostamente envolvido no atentado atentado contra ele levou os investigadores a uma caminhonete “antiga e deteriorada, que certamente não teria condições mecânicas razoáveis para ser utilizada em um atentado em face de alguém que estava embarcado em um potente Toyota Corolla”, conforme descreve o inquérito.

Com base no trabalho da PF, a ministra Rosa Weber deferiu os pedidos para busca e apreensão contra Trutis, seu irmão, Alberto Carlos Gomes de Souza, Fidelis e Jovani Batista da Silva, ligado a um grupo chamado “Movimento Conservador de Mato Grosso do Sul”. Os mandados foram cumpridos durante a Operação Tracker, em novembro do ano passado.

Para a magistrada do STF, as provas obtidas no âmbito da investigação podem implicar Loester Trutis nos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, disparo de arma de fogo, dano e comunicação falsa de crime.

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