Correspondência entregue no Tribunal de Justiça diz que informações sigilosas foram vazadas

A Polícia Civil enviou ao Tribunal de Justiça a investigação sobre o envio de uma carta anônima ao desembargador  Paulo Alberto de Oliveira porque há indícios de que o caso envolva membros do Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul. O procurador-geral de Justiça, Paulo Cézar dos Passos, demitiu uma assessora que trabalhava com ele havia mais de dez anos por envolvimento no episódio.

A exoneração, no entanto, não foi suficiente para afastar a cúpula do MPE-MS da trama. A investigação sobre a entrega da carta no TJMS chegou a um assessor parlamentar casado com a então assessora no gabinete do chefe do MPE-MS. Inicialmente, ele chegou a dizer que o envio teria conhecimento e anuência de Passos, mas mudou a versão após uma reunião com o agora ex-chefe da esposa.

O conteúdo da carta tentaria implicar o promotor Marcos Alex Vera em suposto vazamento de informações sobre membros do MPE para imprensa, mas possui erros grosseiros que facilitaram identificar os envolvidos. Marcos nega e já afirmou que é o mais interessado na investigação pra identificar quem estaria por trás da armação.

Segundo a Polícia Civil, como há a possibilidade de que a investigação chegue até um membro do Ministério Público, e eles possuem a chamada prerrogativa de foro, a Deco entregou os dados já apurados ao presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, João Maria Lós, que vai determinar os rumos da investigação daqui em diante.

O chefe de comunicação da Polícia Civil, Roberto Gurgel, disse que por se tratar de prerrogativa de foro, ainda que a polícia elucidasse o caso, a apuração não teria valor judicial. “Quando surgir minimamente a possibilidade de envolvimento de membros do MPE o caso segue direto para o TJ”, disse.

​O desembargador Paulo Oliveira disse ao Midiamax que não ia comentar o caso por se tratar de investigação sigilosa e a única autoridade que poderia conversar com a imprensa acerca do caso seria o presidente do TJ.

Durante reunião do Colégio de Procuradores, o chefe do MPE-MS foi questionado sobre a falta de transparência com relação ao caso, que membros do MPE teriam conhecido através de notícias na imprensa. Passos admitiu, então, que já teria até conversado com o presidente do TJMS e pedido para a investigação ficar no âmbito do Ministério Público.

João Maria Lós, no entanto, confirmou que está com o caso e determinou sigilo, mas garantiu que “a investigação será encaminhada como determina a lei”. Uma das possibilidades para evitar que eventualmente investigado e investigador se confunda no caso, seria o magistrado indicar policiais lotados em repartições especiais para tocar a questão sem impedimentos ou vínculos.

APURADO

O início da investigação para saber o motivo da correspondência e quem mandou o envelope com mensagem dizendo que o promotor de Justiça, Marcos Alex, ex-chefe do Gaeco estariam municiando a imprensa com assuntos investigados sob sigilo, foi conduzido pela delegada Ana Cláudia Oliveira Marques Medina, da Deco (Delecia Especializada de Combate ao Crime Organizado).

Pelas explicações da assessoria de imprensa da Polícia Civil, assim que a delegada descobriu o suposto envolvimento de integrantes do MPE, o caso seguiu para o TJ. Na Deco, a questão foi apurada em segredo.

Para descobrir que a carta anônima saiu do prédio do MPE e seguiu para a corte, onde foi entregue na portaria, depois nas mãos do desembargador Paulo Oliveira, a polícia recorreu aos peritos criminais que identificou a pessoa que levou a correspondência até o prédio do tribunal por meio de exame de papiloscopia.

Ou seja, o emissário deixou as impressões digitais no envelope que protegia a carta.

Era um motorista da Câmara Municipal, segundo a investigação. Localizado, o motorista disse ter levado a carta a mando de Jean Fernandes, lotado no gabinete do vereador Eduardo Romero (Rede).

Jean assumiu ter sido ele o responsável pelo envio da carta. Ele disse que havia mandado a correspondência a pedido da mulher dele, Tatiana Armôa, que trabalhava no gabinete do chefe do MPE, Paulo Cézar Passos. Inicialmente, Jean afirmou que Passos sabia sobre a carta, e que teria sido dele a ordem de mandá-la para o desembargador.

Depois, Tatiana, mulher de Jean, mudou a versão e afirmou ser só dela a responsabilidade pela carta. Tatiana, que recebia salário de R$ 16 mil mensais foi demitida por Paulo Passos, logo depois da confissão.

NÃO SOU EU

Durante a investigação desse caso, a reportagem conversou, por telefone, com Jean Fernandes e ele confirmou todo o histórico. Contudo, agora, Jean atende o telefone, mesmo número discado antes, e diz não ser ele.

No último diálogo, anteontem, (2) o homem que atendeu a ligação, disse que se chamava Fernando e que trabalha numa empresa, a Pax. Jean Fernandes continua assessor no gabinete de Romero.