Nadando em dinheiro: investigados pela PF deixaram rastro com compras suspeitas
Autoridades miram compras de imóveis, gado e veículos
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Autoridades miram compras de imóveis, gado e veículos
Operações imobiliárias de políticos e empresários investigados na Operação Lama Asfáltica revelam que membros do esquema foram amadores para lidar com o dinheiro supostamente desviado dos cofres públicos durante o governo de André Puccinelli (PMDB). Além do uso de empresass em paraísos fiscais, estão na mira da Polícia Federal e da Receita compras de fazendas, gado, aviões, veículos e imóveis de luxo em nome de terceiros.
É o caso da venda de um apartamento milionário no Edifício Manoel de Barros, que fica em uma das áreas mais valorizadas de Campo Grande.
O imóvel foi ‘vendido’ por R$ 1,5 milhão por um político e, em seguida, foi ‘recomprado’ pelo mesmo valor por uma empresária suspeita de ser laranja dos empreiteiros que dominaram contratos públicos em Mato Grosso do Sul nas duas últimas décadas.
Para especialistas, os documentos da transação são indício de uma manobra de lavagem de dinheiro e evasão fiscal considerada primária. A venda supostamente falsa seria uma forma de lastrear recurso financeiro ilícito e, ao mesmo tempo, ocultar bens em eventual prestação de contas.
De acordo com os documentos, que têm apenas reconhecimento de firma em cartório dos envolvidos, o político e a esposa dele venderam o apartamento em 10 de junho de 2012 para um casal de empresários proprietários de uma academia. Estes, por sua vez, transferiram o mesmo imóvel em 7 de novembro de 2014 para a empresária apontada pela Polícia Federal como laranja.
“Pegaram o apartamento avaliado em quase R$ 2 milhões e fizeram uma venda de gaveta. Com isso, arrumaram origem para R$ 1,5 milhão. Na sequência, outra venda do mesmo bem no mesmo valor explicaria a entrada de mais R$ 1,5 milhão. É uma manobra usada para quem quer explicar o dinheiro sem medo de auditorias, porque ela cai facilmente”, avalia um auditor independente.
Certeza da impunidade
Segundo ele, os métodos usados pelos investigados revelariam amadorismo ou excesso de confiança.
“Tem gente que construiu mansão avaliada em R$ 6 milhões, sendo que levaria uns cinco anos para juntar esse dinheiro, caso ganhasse R$ 110 mil por mês, livre de impostos, e sem gastar nem um tostão do salário durante o período. Mas o cara ganhava oficialmente 30 mil reais por mês. É enriquecimento ilícito descarado. Teriam de ganhar na Mega-Sena para explicar”, pondera.
“Do ponto de vista contábil, a única explicação é de que estavam muito confiantes. Achavam que nunca seriam investigados ou que teriam impunidade garantida caso fossem. Qualquer contabilista recém-formado alertaria sobre o risco de não ter como explicar a fortuna, senão admitindo que estavam desviando dinheiro público”, diz o auditor.
“Aparentemente, eles partiram para um esquema mais sofisticado de lavagem de dinheiro, com uso de doleiros, off-shores e retornos internacionais, muito tarde. Já tinham deixado vazar na sociedade sul-mato-grossense que estavam nadando em dinheiro e alguns envolvidos chegaram a ser implicados em investigações por lavagem”, comenta o especialista.
A equipe de reportagem do Jornal Midiamax encontrou em Amsterdã, na Holanda, rastros de empresas ligadas a empresários implicados no suposto esquema de desvio de dinheiro público e registro no Banco Central de operação financeira que ligaria João Amorim, dono da Proteco, e João Baird, dono da Itel, ao mesmo conglomerado empresarial que envolveria off-shores. Procurados, nenhum deles comentou.
Dinheiro fedido
Manifestações de poder econômico ligadas ao grupo investigado chamam a atenção há tempos.
“Meu vizinho de cerca estava passando por uns problemas e há uns dois anos vendeu a fazenda que tinha recebido de herança dos pais. Ele veio aqui e me contou que pagaram as parcelas em dinheiro vivo. Não acreditei, mas ele mostrou foto e parecia coisa de filme. Me mostrou uma nota e mandou cheirar. Fedia mofo, como se estivesse guardado havia muito tempo”, conta um fazendeiro na região de Rio Negro.
Segundo ele, logo todos da vizinhança sabiam que a fazenda havia sido comprada para um político. “Pouco depois, meu ex-vizinho mesmo me contou que o novo dono é testa-de-ferro de um grandão da política aí”, relata. Questionado sobre quem seria o tal ‘grandão da política’, ele prefere ser discreto: “Nem falo o nome. Não quero rolo com esse tipo de bandido. Mas, é só você ir lá perguntar pra peãozada dele”.
MPE investigou e arquivou
Ainda durante o mandato de André Puccinelli como governador, em 2011, o Ministério Público Estadual, por recomendação do promotor da 30ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social e das Fundações de Campo Grande, Alexandre Saldanha Capiberibe, arquivou procedimento aberto para investigar denúncia de enriquecimento ilícito contra Edson Giroto.
Na época, a denúncia de 2010 arquivada um ano depois pelo MPE-MS envolvia a compra de uma fazenda por Giroto em sociedade com a filha do ex-prefeito de Paranaíba, Beto Mariano, que foi coordenador de suporte e manutenção da Agesul durante o mandato do PMDB e está implicando nas investigações da Operação Lama Asfáltica.
Outro sócio de Giroto no negócio da fazenda que o promotor verificou antes de arquivar o procedimento é o engenheiro civil João Afif Jorge, também servidor na Agesul, órgão estadual que cuida das estradas e pontes em todo o território de Mato Grosso do Sul, inclusive das licitações para as obras viárias.
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