Em despacho publicado no Diário Oficial do TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) nesta quinta-feira (10), foi marcada audiência de julgamento do pecuarista Ivanildo da Cunha Miranda, apontado suposto operador em esquema que oferecia propina em troca de benefícios fiscais em .

A audiência de instrução e julgamento de Ivanildo foi agendada para o dia 07 de fevereiro de 2020, às 13h do horário de MS, na sede da Justiça Federal. Na ocasião, serão ouvidas testemunhas de acusação e defesa e haverá interrogatório do réu por meio do sistema de videoconferência. No despacho publicado pela 3ª Vara da Justiça Federal de , foi determinada a expedição de ofício ao juízo federal de São Paulo, para reserva da sala de videoconferência na data e horário indicados.

Apontado como operador do esquema de propina que beneficiava políticos em MS, Ivanildo é autor de delação premiada feita em 2017, após ser alvo da Operação Lama Asfáltica e também da delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista. Ele chegou a ser preso quando deflagrada a Operação Vostok em 2018.

Segundo a Polícia Federal, o pecuarista recebia dinheiro do grupo JBS, como já delatado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, e depositava em contas pré-determinadas por agentes políticos. O esquema de corrupção por meio da concessão de benefícios fiscais pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul por intermédio da Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda).

Campanha

Segundo a delação dos irmãos Batista, Ivanildo operava esquema de recebimento de propinas para o ex-governador e foi autor das interações no início da gestão do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).

“No Governo atual, de Reinaldo Azambuja, as tratativas de propina se deram inicialmente por JB [Jair Boni, representante da JBS] através de Ivanildo, durante o período da Campanha eleitoral. Após eleito, as tratativas passaram a ser diretamente com WB [Wesley Batista], e operacionalizadas por Valdir Boni. As propinas então foram pagas diretamente ao Sr Governador do Estado”, diz trecho do documento de delação divulgado pelo MPF (Ministério Público Federal).

Delação e o caminho da propina

Ivanildo procurou a PF em agosto de 2017, e aliado aos seus depoimentos, perícias, documentos e provas coletadas nas outras quatro fases da Lama Asfáltica, os agentes conseguiram comprovar desvios de R$ 85 milhões, somente na Papiros de Lama.

De acordo com relatado por ele à PF, o dinheiro de propina era trazido da JBS de várias formas e em grandes quantias, dentro de mochilas e caixas, por exemplo, e além do testemunho do delator, os agentes encontraram planilhas que corroboram as investigações. O pecuarista, que buscava os valores em São Paulo e Rio de Janeiro, recebia entre R$ 60 a R$ 80 mil entre 2006 a 2010, valor que depois chegou a R$ 200 mil, pela função de operador de propina.

Em setembro deste ano, Ivanildo voltou a ser ouvido pela Polícia Federal no desdobramento da Operação Vostok, na continuidade das investigações sobre suposta venda de gado por meio de notas fiscais frias para justificar propina paga em MS.