Oficiais de Justiça, acompanhados de agentes da Polícia Federal, foram a comitês políticos em Campo Grande e coletaram documentos e computadores que indicam compra de voto

Após denúncias e mandados de busca e apreensão em comitês políticos, a Justiça Eleitoral coletou provas de troca de votos por combustível contra três candidatos em Campo Grande. “Temos elementos suficientes de crime de corrupção eleitoral e de captação ilícita de sufrágio”, disse o juiz da 35ª zona eleitoral, Flávio Saad Peron.

Estão na mira da Justiça os candidatos a vereador Mário César (PMDB) e Francisco Saci (PRTB), além do deputado federal Vander Loubet, candidato a prefeito pelo PT. Os três correm o risco de perder o registro de candidatura e de parar atrás das grades, respectivamente, por captação ilícita de sufrágio e por crime de corrupção eleitoral.

Segundo Peron, as acusações chegaram por meio do disque-denúncia do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS). “Em média, recebemos cerca de 20 denúncias por dia, mas, até agora, conseguimos elementos suficientes nestes três casos”, afirmou.

A denúncia contra Vander chegou dia 25 de agosto e levou oficiais de Justiça a posto de combustível da cidade. “Mais de 50 carros adesivados faziam filas para abastecer com tickets nas mãos”, relatou. Ainda de acordo com o juiz, os eleitores não conseguiram esclarecer a situação.

No dia 28 de agosto, após receber denúncia de compra de votos contra o candidato a vereador Alceu Bueno (PSL), os oficiais de Justiça foram a outro posto de combustível. No local, não encontraram nada contra Bueno, mas localizaram um eleitor abastecendo com ticket do vereador Mário César.

“Acionamos a Polícia Federal em, em depoimento, o jovem declarou ao delegado que compareceu ao comitê do candidato e colocou adesivo no veículo em troca de 20 litros de combustível”, contou Peron.

No dia quatro de setembro, em busca e apreensão nos comitês de Vander e Mário César foram coletadas provas que reforçaram o flagrante. “Foram recolhidos vários tickets de combustível e arquivos de computadores”, informou o juiz.

No dia primeiro de setembro, chegou à Justiça Eleitoral denúncia contra Francisco Saci. Ele estaria patrocinando abastecimento em posto, localizado na Avenida Mato Grosso. “Vários carros estavam abastecendo com tickets do candidato”, relatou o magistrado.

Ainda segundo ele, os frentistas e eleitores do posto atenderam os oficiais de Justiça com “deboche e agressividade”. Nesta quarta-feira (12), em mandado de busca e apreensão no comitê do candidato foram apreendidos relatórios de 787 veículos, identificados com placas, nome do proprietário e título de eleitor dos respectivos cidadãos. 

Ainda ontem, a Justiça Eleitoral foi ao comitê do candidato a vereador Cassiano do Gás (PMDB), mas não encontrou indícios de compra de votos.

Sobre os casos com fortes indícios, Peron informou que as provas serão encaminhadas ao Ministério Público Estadual (MPE), responsável por requerer ação penal ou processo para pedir a cassação dos registros de candidaturas.

Ele ainda destacou a importância do voto consciente. “Esse é o momento de exercer nossa cidadania”, frisou. “Vender o voto por cinco litros de combustível, como em alguns casos, tira a legitimidade de cobrar investimentos”, acrescentou. “E vale ressaltar que ninguém quebra o sigilo de voto, portanto, de nada adianta anotar o número do título para cobrança futura”, concluiu.