A mulher de Carlinhos Cachoeira, Andressa Mendonça, terá que cumprir duas medidas cautelares determinadas pela Justiça Federal para não ficar presa preventivamente. Na manhã desta segunda-feira, ela foi encaminhada a Delegacia da Superintendência da Polícia Federal de Goiânia, onde presta esclarecimentos sobre uma suposta oferta de propina a um juiz federal. Segundo o delegado Sandro Paes Sandre, que executou o mandado de condução coercitiva para Andressa, ela supostamente teria ofertado vantagem indevida ao juiz do caso Monte Carlo, Alderico da Rocha Santos, no próprio gabinete do magistrado, na última sexta-feira, com a inteção de obter decisão judicial favorável ao contraventor.

O juiz comunicou o fato ao Ministério Público Federal, que solicitou o pedido de mandado à Justiça. “Ela pode ficar presa em caso de descumprimento de uma das duas determinações cautelares determinadas pela Justiça. Ela está proibida de entrar em contato, inclusive por telefone, com qualquer um dos investigados pela Operação Monte Carlo”, explicou o delegado.

A outra determinação se refere ao pagamento de uma fiança no valor de R$ 100 mil, que seria um “gesto de boa-vontade” de que Andressa não irá fugir. Só depois que o dinheiro for pago, ela será liberada.

O delegado contou em entrevista coletiva que o mandado foi cumprido às 9h15, na residência de Andressa, localizada no condomínio fechado Alphaville. “Em um primeiro momento, ela demonstrou surpresa com a determinação e chorou muito, dizendo que estava sendo perseguida. Depois, se acalmou e colaborou com a Justiça, indo até a delegacia”, contou Sandre.

Se for indiciada e condenada por corrupção ativa, poderá pegar de dois a 12 anos de prisão, além de pagar multa. A investigação está mantendo em sigilo o que Andressa teria ofertado ao juiz para não atrapalhar os trabalhos de apuração.

Na casa onde vive a mulher de Cachoeira também foi cumprido mandado de busca e apreensão. No local, foram apreendidos dois computadores e dois tablets que serão periciados.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.