Ex-funcionários do Bertin não aceitam acordo e reclamam de demora da Justiça
Após a 7ª audiência, os 22 funcionários do frigorífico Bertin saíram revoltados do Fórum Trabalhista na tarde de hoje (2/9). Eles foram vítimas de um vazamento de gás amônia em 2008, quando segundo constam nos autos do processo movido contra a empresa, ficaram quase 6h dentro de um espaço onde havia o vazamento do gás tóxico. […]
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Após a 7ª audiência, os 22 funcionários do frigorífico Bertin saíram revoltados do Fórum Trabalhista na tarde de hoje (2/9). Eles foram vítimas de um vazamento de gás amônia em 2008, quando segundo constam nos autos do processo movido contra a empresa, ficaram quase 6h dentro de um espaço onde havia o vazamento do gás tóxico.
Na audiência de hoje, a representante do Bertim ofereceu R$ 5 mil de indenização, valor rechaçado pelos funcionários. “É uma vergonha! Eu tenho vergonha deles oferecerem isso”, reclamou Samir Spíndola, que na época do vazamento, trabalhava como segurança do frigorífico.
Ele estava visivelmente transtornado ao sair da audiência e chamava os companheiros a reclamarem. “Não podemos aceitar isso. Nos fazem de palhaço aqui”, reclamou o ex-funcionário.
A contraproposta deles era de R$ 7 mil, valor que não foi aceito pelos apelantes. Para a auxiliar de limpeza Terezinha Antunes (37) é uma humilhação o que eles passam na Justiça do Trabalho.
“Isso é desgastante demais. Eu fui coagida a pedir demissão, pois ameaçaram de me demitir por justa causa e falaram que se eu não assinasse minha demissão, eu nunca mais conseguiria trabalho”, contou ela.
De acordo com Terezinha, ela apresentou atestado médico, mas o documento não foi aceito pelo funcionário do setor de recursos humanos.
Também auxiliar de limpeza do frigorífico na época do vazamento de gás, Maria de Fátima Rodrigues (31) tem um sofrimento maior. Devido à gravidade do caso, ela ficou com problemas renais crônicos e hoje necessita fazer hemodiálise.
“Tenho três filhos e não recebi assistência nenhuma. Eu e meu marido que pagamos exames e todo tratamento tenho que fazer pelo SUS. Não consegui mais viver normalmente”, lamenta.
Omissão de socorro
Segundo os advogados, a morosidade com que o caso está sendo tratado causa estranheza. “Geralmente são duas audiências e nesse caso já foram sete e o caso já tem mais de dois anos. Ainda não saiu nem a primeira sentença”, explica Fabio Lechuga Martins.
De acordo com ele o frigorífico foi incriminado por omissão de socorro. “Estamos movendo processo contra o frigorífico acerca do dano moral e vamos ter que esperar a sentença. Eles tinham proposto um acordo, depois mudaram de ideia e o acordo não pode ser homologado na Justiça, quem perde são os funcionários que sofrem esse desgaste” defende.
Os advogados informaram que no processo há laudos dos bombeiros comprovando que houve o vazamento e que os funcionários realmente ficaram expostos ao gás tóxico, correndo até mesmo risco de morte.
“Os funcionários foram coagidos a não ligarem para os bombeiros e não pedirem socorro”, argumenta Martins.
Outro lado
A reportagem tentou conversar com a representante do Frigorífico Bertin que compareceu à audiência. Porém, ela declarou que não poderia dar nenhuma informação.
“Eu não posso falar nada sobre o caso. Não posso dar nenhuma informação”, disse ela, que pediu para não se identificar.
O caso
A indenização foi solicitada em 2008, após vazamento de gás amônia na indústria, que provocou intoxicação nos funcionários. Pouco depois do acidente, os funcionários foram demitidos. Pelo acidente ocorrido em fevereiro de 2008, na empresa, o MPT (Ministério Público do Trabalho) moveu uma ação contra o Bertin, recurso judicial que pedia a condenação da empresa a pagar indenização de R$ 10 milhões por danos coletivos. O Bertin então preferiu propor um acordo.
O mesmo inquérito civil público 235/2008 que tratou do vazamento investigou o desrespeito aos intervalos para os empregados que atuam em câmaras frigoríficas e irregularidades na jornada de trabalho.
Para escapar de uma milionária ação trabalhista, o frigorífico Bertin firmou um pacto com o MPT a empresa aceitou desembolsar R$ 1,5 milhão, dinheiro que será usado para comprar veículos a alguns órgãos públicos e abastecer com carne entidades sociais por cinco anos.
Em 23 de abril deste ano, houve uma audiência para cobrar o acordo pelo qual cada uma das 22 vítimas receberia R$ 10 mil. A data para o pagamento seria 20 de janeiro, mas não houve recebimento. Isso porque apesar de o acordo ter sido protocolado na Justiça faltava a homologação do juiz.
Nessa ocasião, a empresa desistiu do acordo e preferiu dar continuidade do processo na justiça.
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