Riedel diz que perícia deve analisar morte de indígena em Antônio João

Governo vai a Brasília discutir com o STF sobre os conflitos de terra no Estado

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(Thalya Godoi, Midiamax)

Em coletiva de imprensa, o governador Eduardo Riedel e o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, informaram que uma perícia será enviada para a área de conflito que resultou na morte do indígena Neri Guarani Kaiowá, de 23 anos, com tiros nesta quarta-feira (18), na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, em Antônio João.

As autoridades ressaltaram que o ponto fica na divisa entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai e que extrapola apenas o conflito de terras, pois é uma fronteira para a entrada de drogas do país vizinho. “Há uma plantação de maconha no Paraguai”, disse Videira.

“Isso tudo está instruindo um relatório robusto que será apresentado para as autoridades em Brasília. Lamentamos profundamente o episódio; tudo que a gente não queria era que isso acontecesse. Ontem (17), conversei bastante com a procuradora da FUNAI aqui. Claro que gostaríamos de evitar confrontos, mas, infelizmente, fugiu ao controle, e agora queremos gerenciar a crise para que não haja mais nenhuma morte”, continuou o secretário.

Na próxima quinta-feira (19), Riedel se reunirá com uma comissão do STF (Supremo Tribunal Federal), incluindo o ministro Gilmar Mendes, Rui Costa, ministro da Casa Civil, e o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Ricardo Lewandowski.

“O tempo todo, Mato Grosso do Sul tem buscado avançar em políticas públicas nas comunidades indígenas para o seu desenvolvimento. Sobre o conflito fundiário, sou representante dos governadores na mesa de conciliação do STF, e é um tema complexo que estamos vendo aqui, que foge completamente a essa discussão. Essa discussão acaba estando dentro de um contexto muito sério no Brasil, que é uma relação não só internacional, mas de disputa de facções criminosas no Paraguai. A inteligência conhece bem essa história. A decisão judicial para manter a ordem dentro de uma propriedade que está em litígio do ponto de vista fundiário, mas que tem uma família morando na casa e que não sai de lá, dizendo que vão morrer lá. A decisão é que o Estado garanta a segurança dessa família. Vamos cumprir a decisão judicial e garantir o acesso das pessoas a essa propriedade; esses ataques estão acontecendo, e a última coisa que queremos é qualquer tipo de confronto, principalmente que resulte em óbito ou feridos, como temos visto”, disse o governador.

Investigação

A perícia enviada para o local deve verificar a nacionalidade do indígena, se brasileira ou paraguaia. Também foi detalhado que a família moradora da fazenda Barra tem um mandado de segurança em vigor, pois a sede sofreu tentativas de invasão por indígenas.

Mais de 100 policiais militares foram enviados para a localidade, incluindo do Choque. Nenhum servidor foi ferido no confronto, pois usavam coletes e equipamentos de segurança.

Segundo Videira, armas foram apreendidas durante o conflito no local.

Fazenda fica na fronteira (Thalya Godoi, Midiamax)

Confronto

A Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) informou que a Procuradoria Federal Especializada foi acionada para investigar a morte de Neri. Em nota, a fundação lamentou a morte diante dos violentos ataques sofridos pela comunidade Guarani, categorizando como “brutalmente assassinado com um tiro na cabeça”.

“A Funai informa que já acionou a Procuradoria Federal Especializada para adotar todas as medidas legais cabíveis e está comprometida em garantir que essa violência cesse imediatamente e que os responsáveis por esses crimes sejam rigorosamente punidos. O conflito também tem sido monitorado por meio da CR-PP (Coordenação Regional em Ponta Porã)”, diz o comunicado.

Uma indígena, de 32 anos, ferida a tiros durante conflito com a PM (Polícia Militar) na região da fazenda Barra, em Antônio João, corre risco de perder a perna.

Ela está internada desde quinta-feira (12), quando houve o conflito enquanto a comunidade ocupava a região. Os indígenas atearam fogo em uma ponte e os agentes atiraram com bala de borracha para impedir a entrada na fazenda.

Durante o conflito na região, dois indígenas foram presos, mas liberados neste domingo (15), informou o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

A indígena internada foi ferida no joelho e permanece aos cuidados médicos no hospital de Ponta Porã. “[Está] com risco de perder parte da perna, mas com cirurgia marcada para quinta-feira”, afirmou o conselho ao Jornal Midiamax

Ponte destruída

Durante a ocupação da fazenda Barra Mansa, o comandante da Polícia Militar de Ponta Porã e mais três policiais ficaram ilhados depois de uma ponte ser incendiada na região, no último dia 12 de setembro. Equipes do Batalhão de Choque foram para a cidade ajudar no conflito.

Anteriormente, foi dito que os militares teriam sido feito de reféns, mas a ponte incendiada é que teria deixado os policiais ilhados, assim como o dono da fazenda Barra Mansa. Durante o conflito, pelo menos um indígena acabou ferido a tiros de bala de borracha e foi encaminhado para o hospital da cidade.

O dono da fazenda, alvo da ocupação dos índios, registrou um boletim onde ele afirma que a sua propriedade estava sendo incendiada e que o incêndio seria criminoso provocado por alguns índios. O registro da ocorrência foi feito no dia 10 deste mês, na última terça-feira. 

*Matéria editada às 16h30 para correção da idade da vítima

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