Vereadores usavam Central de Regulação como moeda de troca por votos em Corumbá, diz PF

Esquema foi desarticulado durante operação da Polícia Federal

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Documentos e dinheiro apreendidos pela PF com servidor
Documentos e dinheiro apreendidos pela PF com servidor

A Operação Mercês, deflagrada pela Polícia Federal no dia 19 de outubro, desarticulou esquema de compra de votos em Corumbá, a 429 quilômetros de Campo Grande. Conforme inquérito cujo o jornal Midiamax teve acesso, três vereadores usavam a Central de Regulação do município como moeda de troca. Com apoio de servidores da administração, ofereciam aos eleitores atendimentos como exames e consultas.

São investigados os vereadores Yussef Mohamad El Salla (PDT), Manoel Rodrigues Pereira Neto (Republicanos) e Allex Prado Della (Republicanos), bem como os servidores Marconi de Souza de Júnior, Estácio Muniz da Silva Santos, o Batatinha, Luiz Antônio da Silva, o Pardal, e Mariluce Gonçalves Leão de Almeida. Conforme representação, eles teriam fornecido acesso privilegiado a atendimento médico durante as eleições de 2020.

Flagra

Os fatos vieram à tona no dia 4 de novembro de 2020, quando Marconi foi abordado por policiais federais de Corumbá em um veículo GM Prisma, logo após sair do diretório de campanha do PSDB. Com ele, estavam diversas cópias de documentos pessoais, títulos de eleitores e dinheiro em espécie divididos em ‘pequenos maços’. Ele disse que o dinheiro era seu e que seria usado na reforma de um imóvel, mas não sabia o valor ao certo.

Além disso, informou que o dinheiro estava fracionado porque era assim que costumava guardar. Entre os documentos havia a requisição de exame e solicitação de assistência médica, que revelavam indícios de possível compra de votos. Na delegacia, alegou que trabalhava como assessor governamental na Segov (Secretaria de Governo) e que as anotações e documentos eram de interessados em trabalhar como cabos eleitorais.

Quanto aos exames, pontuou que moradores o procuram em busca de informações sobre andamento de consultas e que ele, em contrapartida, faz checagens junto à Central de Regulação do município. Diante das suspeitas, foi solicitada a quebra do sigilo telefônico, que foi autorizada pela Justiça. Assim, a PF teve acesso a uma série de mensagens trocadas entre Marconi, os vereadores e demais servidores, revelando o esquema.

Modus operandi

A partir das descobertas, as investigações da PF evidenciaram que a compra de voto se dava por meio de intervenção de Marconi, que fornecia ajuda para realização ou antecipação de exames em um laboratório credenciado pelo município. Segundo o inquérito, ele fazia a intermediação da realização dos exames de terceiras pessoas diretamente com Mariluce Lesão, que, à época, trabalhava na Central de Regulação (Casa Verde), onde eram feitas as autorizações dos exames no SUS.

Desta forma, especialmente durante todo o ano de 2020, tanto no período pré-eleitoral, como no período eleitoral, Marconi operava a mando de candidatos ao cargo de vereador, com objetivo de angariar votos, fornecendo exames médicos, dinheiro em espécie, dentre outras “ajudas”. O servidor era ajudado por outros agentes públicos, que participavam do esquema, a exemplo de “Pardal”, que realizava pagamentos a eleitores, bem como providenciava “favores”, como a realização de exames médicos, repassando as solicitações.

Neste sentido, a polícia encontrou indícios de que Marconi atuava a mando e atendia demandas de Yussef e Manoel, mas também agiu em favor de Allex Dellas, tendo apoio de Batatinha, assessor de Allex. Por este motivo, foi solicitado pela autoridade policial autorização para cumprimento de mandados de busca e apreensão, em busca de mais documentos e informações. O pedido foi autorizado e resultou na deflagração da operação.

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