Irmãos de Aquidauana: PF suspeita que Zelito usou propina para ‘devolver’ doações de Odilon

Relatório da PF (Polícia Federal) sobre a Operação Vostok suspeita que Zelito Alves Ribeiro, pecuarista de Aquidauana, tenha ressarcido com dinheiro de propina o irmão dele, e atual prefeito do município, Odilon Ferraz Alves Ribeiro (PSDB), por doações de campanha feitas a Reinaldo Azambuja (PSDB). Na lista dos 22 indiciados por crimes de lavagem de […]

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Relatório da PF (Polícia Federal) sobre a Operação Vostok suspeita que Zelito Alves Ribeiro, pecuarista de Aquidauana, tenha ressarcido com dinheiro de propina o irmão dele, e atual prefeito do município, Odilon Ferraz Alves Ribeiro (PSDB), por doações de campanha feitas a Reinaldo Azambuja (PSDB).

Na lista dos 22 indiciados por crimes de lavagem de dinheiro, formação de organização criminosa e corrupção passiva, Zelito teria soltado notas fiscais “ideologicamente falsas” no valor de R$ 1.758.701,00. Segundo a PF, a suspeita é de que os documentos foram emitidos para ‘esquentar’ propina que seria paga ao grupo do governador.

Citado pela suposta manobra bancária no relatório do indiciamento do Inquérito 1190, no STJ (Superior Tribunal de Justiça), o irmão de Zelito, Odilon Ferraz Alves Ribeiro, tenta se reeleger prefeito de Aquidauana nas eleições de novembro.

Zelito foi coordenador regional da Casa Civil do governo do PSDB, responsável pela interlocução de alguns municípios na região de Aquidauana com o Parque dos Poderes.

Ainda de acordo com o relatório, Zelito e Odilon fizeram doações eleitorais para a campanha de Azambuja, que totalizaram R$ 500.000,00. Cada um dos irmãos doou R$ 250 mil, segundo registros na Justiça Eleitoral.

Dois anos depois, entre setembro e novembro de 2016, aponta a investigação, Zelito fez seis transferências para a conta de Odilon Ribeiro, somando R$ 288 mil, ou seja o mesmo valor doado, mais R$ 38 mil.

O prefeito de Aquidauana, Odilon Ferraz Alves Ribeiro, não está entre os indiciados. Contudo, foi procurado pela reportagem para se posicionar a respeito do assunto e se limitou a dizer que é produtor rural há muito tempo e sempre negociou com a JBS e outros frigoríficos, assim como sua família.

“Tenho certeza que meu irmão vai provar sua inocência. Não sou investigado e espero que esse processo se encerre logo e que a verdade prevaleça”, disse.

No entanto, de acordo com os levantamentos da Polícia Federal, os repasses foram feitos em datas próximas às datas que a JBS transferiu dinheiro a Zelito.

Portanto, ainda segundo a apuração, há possibilidade de que parte dos pagamentos feitos pelo frigorífico ao pecuarista tenha sido um “ressarcimento” pelos valores doados por ele e Odilon para campanha de Reinaldo Azambuja quando tentava o primeiro mandato.

Notas frias

Após dois anos de investigação, o relatório afirma que, mesmo sem rastrear os valores pagos pela JBS a Zelito, a emissão das notas falsas e os valores recebidos, “já demonstram participação do pecuarista no esquema criminoso”.

Assim com os outros pecuaristas apontados como participantes do esquema, as notas de Zelito estão dentre aquelas informadas pelo MAPA como falsas. O que confirma a versão dos colaboradores no sentido de que a emissão das notas seria uma forma de mascarar o pagamento de vantagem indevida “destinada ao governador Reinaldo Azambuja”.

Zelito e Odilon aproximaram ‘Polaco’ do grupo

A investigação aponta também “relação muito próxima” de José Ricardo Guitti Guimaro, mais conhecido como ‘Polaco’, com Zelito Alves Ribeiro. Em seu depoimento, Polaco disse aos investigadores, de acordo com o relatório, que teria trabalhado na campanha do governador, a pedido do pecuarista “e do irmão dele, Odilon Ferraz Ales Ribeiro”, cujo trabalho não foi remunerado.

Polaco seria considerado peça-chave da investigação, e estava na lista de intimidados para depor, em setembro de 2019, na força-tarefa da Operação Vostok – determinada pelo STJ. Corretor de gado, Polaco é apontado como envolvido no esquema que usava justamente notas frias de compra e venda de gado para tentar esquentar o dinheiro oriundo de propina para conceder incentivos fiscais a empresas no Estado.

Procurada, a advogada de Zelito, Andrea Flores, marcou, inicialmente, horário para dar o posicionamento de seu cliente a respeito do indiciamento e dos indícios apontados pela Polícia Federal, mas não atendeu às ligações. A reportagem ainda aguarda resposta, que será imediatamente levada aos leitores.

Em nota encaminhada ao Jornal Midiamax na ocasião em que foi indiciado, o governador Reinaldo Azambuja classificou que a conclusão do inquérito lhe causou “estranheza e indignação”:

O governador Reinaldo Azambuja recebeu com estranheza e indignação a conclusão do inquérito. trata-se de denúncia antiga, baseada em delações premiadas sem qualquer credibilidade e provas, que vêm sofrendo, em casos diversos no País, inúmeros questionamentos judiciais quanto à sua procedência e consistência. Passados três anos de inquérito tramitando no STJ, não foi possível concluir ou ao menos indicar de que forma o governador teria praticado qualquer tipo de ilícito. Desde a Operação Vostock, realizada de forma midiática e exorbitante, bem no meio da campanha eleitoral de 2018, não se conseguiu produzir uma única prova de que tenha recebido qualquer tipo de vantagem indevida da JBS. Neste caso, é importante pontuar que a própria empresa confessou que os termos de acordo para benefícios fiscais do estado não estavam sendo cumpridos e aderiu a programas de recuperação fiscal, bem como efetuou o pagamento de valores devidos a título de imposto, de modo que não houve dano ao Erário, nem tampouco qualquer ato de corrupção praticado. Com o fim do inquérito, o governador Reinaldo Azambuja entende que , em processo com ampla defesa, demonstrará a improcedência de todas as acusações a ele dirigidas.

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