Fim do isolamento proposto por Bolsonaro gera confronto na bancada federal de MS
Assim como ocorreu por todo o País, o fim do isolamento social proposto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) gerou embate também na bancada federal sul-mato-grossense, com os deputados federais Luiz Ovando (PSL) e Vander Loubet (PT) protagonizando a polêmica. A divergência surgiu com a divulgação de vídeo, na última quarta-feira (25), nas redes sociais […]
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Assim como ocorreu por todo o País, o fim do isolamento social proposto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) gerou embate também na bancada federal sul-mato-grossense, com os deputados federais Luiz Ovando (PSL) e Vander Loubet (PT) protagonizando a polêmica.
A divergência surgiu com a divulgação de vídeo, na última quarta-feira (25), nas redes sociais de Ovando. Na mensagem, o deputado diz que Bolsonaro está certo em derrubar os decretos que impediam circulação e comércio, por se tratar de uma ‘gripezinha’. Ele diz ainda ter ‘credencial’ para tratar do assunto, por ser médico há 45 anos, clínico cardiologista, geriatra, intensivista e especializado em medicina esportiva.
Após divulgação, o deputado federal Vander Loubet (PT) divulgou, nesta sexta-feira (27), carta aberta criticando o colega e dizendo que se há ‘histeria coletiva’ em torno do COVID-19, o presidente é o pai dela. “Romper o isolamento social, como quer o presidente Bolsonaro, sem um consenso mínimo das autoridades sanitárias do País, é um ato de insanidade de quem somente pensa em sua reeleição em 2022”, disparou Vander. A íntegra da manifestação feita por ele pode ser conferida no final desta matéria.
Questionado sobre as críticas do colega, Ovando afirmou que o PT e os adeptos da esquerda querem ‘levar o país à bancarrota’ para prejudicar Bolsonaro. “Eu não recebi a carta. O meu vídeo já é explicativo e justificativo, fundamentado em ciência. Está fundamentado na democracia, nos dados inclusive de mortalidade e está fundamentado na imunologia”, afirmou.
Segundo ele, as pessoas continuam indo ao banco, em supermercados, abastecendo nos postos de combustíveis, farmácias, e ‘esse isolamento não é garantia de segurança’, pois um vírus não pode ser segurado dessa forma. Confira a postagem contendo o vídeo gravado por Ovando e, abaixo, a íntegra da carta divulgada pelo parlamentar petista:
Confinamento Geral, não resolve.
Confinar e Isolar não resolverá, apenas retardará a disseminação do vírus, o que se faz necessário para adquirir imunidade, além do mais, levará o país ao colapso econômico, o que a oposição está estimulando e jogará a culpa no presidente. É preciso termos alicerces científicos e evidências através dos dados que nos apontarão cada decisão a ser tomada.Dr. Luiz Ovando – Deputado Federal.#Coronavírus
Posted by Dr. Luiz Ovando on Wednesday, March 25, 2020
Carta aberta ao meu colega de bancada, deputado federal Luiz Ovando
Caro colega Luiz Ovando,
Assisti atentamente ao seu vídeo, postado em redes sociais, defendendo as equivocadas posições do presidente Bolsonaro no pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, em especial de que a pandemia do Covid-19 é uma “histeria” criada pela mídia e por alguns governadores e prefeitos.
Fraternalmente, quero divergir das conclusões postadas no seu vídeo, pois os fatos pretéritos ao pronunciamento de Bolsonaro me levam a uma única conclusão: SE HÁ UMA HISTERIA COLETIVA NO MEIO DO POVO BRASILEIRO, BOLSONARO É SEU PAI E PRINCIPAL MANTENEDOR.
Explico: quando a crise eclodiu, Bolsonaro relutou em repatriar os brasileiros que estavam na China, no final de janeiro deste ano. Após os brasileiros divulgarem vídeos em redes sociais, Bolsonaro recuou dizendo que precisava de uma lei de QUARENTENA.
Bolsonaro enviou e o Congresso aprovou rapidamente a Lei 13.979/2020, que prevê ISOLAMENTO e QUARENTENA. Em 2 de fevereiro, Bolsonaro anunciou pessoalmente a REPATRIAÇÃO DOS BRASILEIROS, desde que não estivessem CONTAMINADOS pela Covid-19.
A partir daí, o governo Bolsonaro organizou e divulgou AMPLAMENTE uma verdadeira operação de guerra para a referida repatriação. Foi anunciado que os repatriados deveriam ficar em ISOLAMENTO por 21 dias numa base militar de ANÁPOLIS.
As pessoas que iriam participar da repatriação deveriam fazer uso de diversos equipamentos de segurança, inclusive também ficando em isolamento após o retorno da China.
A partir desta operação de guerra para repatriar os brasileiros, AMPLAMENTE DIVULGADA e reverberada pelo governo Bolsonaro, se criou no imaginário coletivo brasileiro a ideia de que estávamos diante de uma grave doença e não apenas de uma “gripezinha” ou “resfriadinho”.
As imagens dos militares mascarados e vestidos da cabeça aos pés com aquelas roupas amarelas deram um sinal claro à população de um quadro de infecção grave.
As coletivas do Ministro da Saúde do governo Bolsonaro sempre foram uníssonas nos seguintes pontos:
a) A pandemia é grave;
b) A rede de saúde do País entraria em colapso com o número de atendimentos de contaminados em curto de espaço de tempo;
c) O isolamento social é o melhor instrumento de, já que iria achatar a CURVA DE CONTAMINAÇÃO, dando assim condições para o sistema de saúde tratar adequadamente dos infectados.
Sendo assim se há uma histeria coletiva acerca da Covid-19 (o que pessoalmente não acredito) o seu pai chama-se JAIR BOLSONARO e não a mídia nacional ou os governadores e os prefeitos das capitais.
E mais: ao mudar de discurso acerca da gravidade da PANDEMIA DO COVID-19, desautorizando as orientações do Ministério da Saúde, Bolsonaro alimenta mais ainda a sua aludida histeria, pois se cria uma confusão na população mais vulnerável acerca da convicção das autoridades em como enfrentar a crise sanitária e econômica que já nos encontramos.
Não acredito que exterminando o isolamento social, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a economia voltará ao seu curso normal. Não acredito que a população irá às compras se o comércio abrir neste atual quadro de contaminação. O que veremos é lojas vazias com empregados apavorados de serem vítimas da Covid-19 ao utilizarem os meios de transporte urbanos, invariavelmente lotados.
Indago: onde as mães trabalhadoras deixarão seus filhos enquanto vão ao trabalho, já que as escolas, inclusive as privadas, ao que tudo indica, continuarão fechadas? Aqui lembro da repetida recomendação do ministro da Saúde: não deixem as crianças com os idosos.
O presidente Bolsonaro deveria assumir sua posição de líder, chamar as forças vivas que representam patrões, empregados, servidores, Congresso, partidos, igrejas, governadores, prefeitos das capitais e autoridades públicas da saúde e economia, liderando um pacto social para unificar as medidas sanitárias e econômicas que o Brasil tanto necessita neste momento grave que nossa geração está vivenciando.
Na quinta-feira (26), aprovamos na Câmara dos Deputados o auxílio emergencial de R$ 600 a R$ 1.200 para uma série de famílias que estão sofrendo os efeitos econômicos causados pela pandemia. De forma unificada, coesa e responsável, situação e oposição dialogaram e discutiram, chegando a um consenso e permitindo que a proposta fosse aprovada. Esse é o caminho para que possamos ajudar a população, especialmente a de baixa renda, a superar este momento difícil.
Romper o isolamento social, como quer o presidente Bolsonaro, sem um consenso mínimo das autoridades sanitárias do País, é um ato de insanidade de quem somente pensa em sua reeleição em 2022.
Encerro, caro colega, não acreditando que chamar o povo para a desobediência civil e carreatas de abastados seja a solução para superarmos a crise, que ao final atingirá a população mais pobre e carente.
Infelizmente, até o pronunciamento de Bolsonaro, a nossa crise se chamava Covid-19, mas hoje está acrescida de um segundo elemento, mais perigoso e danoso ao povo brasileiro: o despreparo e a irresponsabilidade de Jair Bolsonaro na condição de presidente da República.
VANDER LOUBET
Deputado Federal
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