Aglomeração, Guedes de máscara e ‘memórias’ sobre Moro marcam pronunciamento de Bolsonaro

Em um pronunciamento oficial de cerca de 40 minutos, ladeado por todo o seu primeiro escalão, o presidente Jair Bolsonaro respondeu às afirmações do ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), que nesta sexta-feira (24) deixou o cargo em protesto à exoneração de Maurício Valeixo da superintendência da Polícia Federal, a qual afirmou não concordar. […]

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Em um pronunciamento oficial de cerca de 40 minutos, ladeado por todo o seu primeiro escalão, o presidente Jair Bolsonaro respondeu às afirmações do ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), que nesta sexta-feira (24) deixou o cargo em protesto à exoneração de Maurício Valeixo da superintendência da Polícia Federal, a qual afirmou não concordar. O quadro, que visou a mostrar unidade em torno do presidente ao perder seu assessor mais famoso, espalhou o staff ministerial aos olhos da imprensa, que desde a manhã aguardava o pronunciamento anunciado por Bolsonaro.

Alternando falas sobre seu passado com Moro a afirmações de que cabem a ele definições sobre nomeações, bem como questionando diferentes pesos dados à investigação do atentado que sofreu nas eleições de 2018 às apurações sobre a execução da ex-vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro –que bateram à porta de seu apartamento na Barra da Tijuca–, o presidente fulminou o ex-colaborador, acusando-o de exigir uma vaga no STF para aceitar a substituição de Valeixo.

Bolsonaro fez o pronunciamento, sem abertura para questões de jornalistas, no Palácio da Alvorada. Tendo ao fundo, à sua direita, o ministro Nelson Taich –Saúde, que na semana passada substituiu Luiz Henrique Mandetta em meio a discordâncias sobre a manutenção do distanciamento social no enfrentamento ao novo coronavírus–, Bolsonaro foi ladeado também pelo vice-presidente Hamilton Mourão (ao lado do tradutor de Libras) e pelo ministro Paulo Guedes, segundo à esquerda e o único no palanque a usar máscara, meio de precaução contra a Covid-19.

Se por um lado alguns ministros, como Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) figurava ao fundo, com Teich, outros mal apareceram no enquadramento da TV Brasil, responsável pela geração das imagens. Tereza Cristina (Agricultura), por exemplo, foi notada rapidamente passando detrás da multidão. Onyx Lorenzoni (Cidadania), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e André Luiz Mendonça (Advocacia-Geral da União, cotado para substituir Moro) tiveram mais espaço de cena.

Ignorado por Moro em 2017

Logo no início da fala, Bolsonaro deu o tom que marcou boa parte do pronunciamento. “Uma coisa é você admirar uma pessoa. Outra é conviver com ela, trabalhar com ela”, disse, afirmando que pela manhã, em reunião com parlamentares, anunciaram que eles conheceriam “aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil”. Esta pessoa –referência direta a Sergio Moro–, iria, segundo o presidente, “buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro”.

Bolsonaro lembrou de episódio em 30 de março de 2017, no aeroporto de Brasília, onde teve contato com Moro em uma lanchonete e se dirigiu para o cumprimentar. “Ele praticamente ignorou, a imprensa inteira noticiou isso, dando descrédito à minha pessoa. Confesso que fiquei triste, porque ele era um ídolo para mim, eu era apenas um deputado humilde como são a maioria dos que estão no parlamento brasileiro. Não vou dizer que chorei, porque estaria mentindo, mas fiquei muito triste”, prosseguiu.

Em seguida, disse ter recebido ligação de Moro em Parnamirim (RN), dias depois, onde falaram sobre o episódio. “Me senti de certa forma reconfortado”. Depois, Bolsonaro afirmou que ele e Moro não mais se encontraram, o que poderia ter ocorrido no segundo turno das eleições de 2018, quando ele estava internado. Desta vez, o então candidato declinou. “Ele não esteve comigo durante a campanha, não sei em quem votou no primeiro turno e nem quero saber. O voto é sagrado, é secreto”, afirmou, alegando que não pretendia se usar do “prestígio” de Moro, juiz da Lava-Jato, n aquele momento.

O encontro entre ambos ocorrera em um café da manhã também na presença de Paulo Guedes, já com a vitória nas urnas. Bolsonaro afirma que, desde aquele momento, teria sido acertada a autonomia no ministério. “Autonomia não é sinal de soberania”, disse o presidente, alegando ter poder de veto sobre os cargos chaves, dos quais 90% tiveram “sinal verde” dele, incluindo Maurício Valeixo.

Bolsonaro ainda questionou o fato de o gabinete de Moro ser montado praticamente de pessoas que ocupavam cargos-chave em Curitiba, onde ele atuava na Vara Federal. “Será que os melhores quadros da Polícia Federal todos estavam em Curitiba? Mas vamos confiar, dar um crédito”, afirmou.

O presidente ainda rebateu acusações de que dificultaria operações de combate à corrupção, que apareciam “com muito menos intensidade” –algo que ela atribuiu às suas indicações aos ministérios e órgãos federais, que não seriam partidárias. “Está na cara que a fonte de corrupção não era tão abundante como antigamente”, afirmou, alegando ter sido atacado por ser “contrário à Lava-Jato”. “Estou lutando contra o establishment, coisas que aconteciam no Brasil praticamente não acontecem mais e, me desculpe a modéstia, em grande parte pela minha coragem de indicar um time de ministros comprometidos com o futuro do Brasil”.

A fala ainda reservou espaço para mostrar tanto esforços de Bolsonaro em se aproximar de partidos que, segundo ele, comungam de suas teses, como de atacar adversários, caso da “extrema esquerda porque querem roubar nossa liberdade”.

O presidente ainda fez menções à sua carreira de militar antes de iniciar ataques contra Moro, dizendo que havia “implorado” para que a PF investigasse o atentado contra sua vida na campanha, que na sua visão foi eclipsado pelas apurações sobre a execução de Marielle Franco –que chegaram ao seu apartamento– e culminaram na acusação de que Moro só aceitaria a substituição na PF caso fosse indicado, em novembro, para a vaga hoje ocupada pelo ministro Celso de Mello no STF (Supremo Tribunal Federal), rebatida pelo ex-ministro.

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