Saiba como são feitas as vistorias e quais os tipos de barragens de rejeitos

Depois que a barragem da Mina do Córrego Feijão, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), se rompeu, na sexta-feira (25), a preocupação sobre esses empreendimentos cresceu. No Brasil, segundo a ANM (Agência Nacional de Mineração), existem mais de 20 mil barragens, sendo que 3.386 delas são classificadas como “dano potencial associado alto” ou […]

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Saiba como são feitas as vistorias e quais os tipos de barragens de rejeitos
Foto da represa na mina do Córrego do Feijão antes do rompimento (Imagem de satélite 2019 DigitalGlobe; empresa Maxar/Divulgação via Reuters/Direitos reservados)

Depois que a barragem da Mina do Córrego Feijão, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), se rompeu, na sexta-feira (25), a preocupação sobre esses empreendimentos cresceu. No Brasil, segundo a ANM (Agência Nacional de Mineração), existem mais de 20 mil barragens, sendo que 3.386 delas são classificadas como “dano potencial associado alto” ou “risco alto” e três delas estão em Mato Grosso do Sul.

Preocupado com novos rompimentos, o governo federal anunciou um pente fino, começando por todas as instalações com classificação de risco ambiental ou social. Paralelo a isso, os Ministérios Públicos anunciaram apoio a essas vistorias. Porém, você sabe como funciona uma vistoria em barragens?

A reportagem do Jornal Midiamax conversou com o engenheiro civil e doutorando pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Nelson Motta, que é especializado em geotecnia, e já trabalho nos projetos das usinas hidrelétricas de Caçu (GO), Barra dos Coqueiros (GO), Jirau (RO) e foi na fiscal na construção de Belo Monte (PA).

Apesar de ser especializado em barragens de usinas hidrelétricas, Motta sabe como funciona as inspeções em barragens de terra em geral, como as de rejeito. Segundo ele, o primeiro passo é a vistoria visual. “O engenheiro anda na crista da barragem para identificar algo anormal, como uma rachadura”.

O segundo passo é utilizar instrumentos para se certificar que a barragem está estável. “São colocados equipamentos que chamados de marcos superficiais na crista da barragem e eles medem se ela está se movimentando vertical ou horizontalmente”. Outros equipamentos, como o inclinometro e o piezômetro (que pede o nível d’água no lençol, pressão neutra interna do solo e pressões em junta) também são utilizados.

De acordo com o engenheiro, se algo está errado com a barragem, um profissional capacitado para isso saberia dizer ao fazer as leituras dos equipamentos, ou mesmo no visual. “Se existe alguma anomalia, o engenheiro vai perceber o risco e saber porque ela está acontecendo só com os resultados das leituras feitas pelo equipamento, ou mesmo de olho, por isso é importante que essas vistorias sejam feitas por profissionais capacitados”.

Doutorando em tecnologias ambientais, Motta afirma que é praticamente impossível que um profissional especializado em barragens de rejeitos não reconheça os sinais de que o empreendimento corre riscos. “Esses casos nunca acontecem de repente, sempre dá um aviso inicial, seja uma rachadura ou uma inclinação errada. Então não são acidentes, são negligência, descuido e falta de manutenção”.

Esse tipo de vistoria é realizada pelas empresas e deve ser feita periodicamente, mas há também as fiscalizações de órgãos públicos, que podem ser feitas pelo Governo Federal ou entidades do Estado. Em Mato Grosso do Sul, uma comissão encabeçada pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) está em Corumbá, onde estão localizadas as barragens do Estado, para fiscalização. As vistorias começaram hoje.

Formas de construção das barragens

Há três tipos de formas de construir barragens de rejeitos. A mais barata é a montante (quando o rejeito chega ao nível máximo, uma nova camada de terra é colocada por cima, formando degraus, para aumentar a capacidade limite da barragem, o que a torna mais instável). Esse tipo é igual as de Brumadinho e Mariana, que se romperam.

Outra forma é a jusante (o aumento da barragem é feito por camada de terra que é colocada em cima da barreira inicial). Desse jeito o empreendedor deixa a barreira mais segura, porém, o custo é alto e o espaço utilizado por ele também é maior.

A terceira forma é por linha de centro (onde a barragem cresce com uma camada por cima da outra, seguindo uma linha central; algumas camadas são colocadas por cima dos resíduos).

De acordo com Mattos, a principal diferença entre as formas que são feitas as barragens de rejeitos para as barragens de hidrelétricas são as tecnologias utilizadas.

“Nas hidrelétricas são feitos dois tipos de barragens, a de concreto ou a de solo compactado, mas nas duas há um controle rigoroso tecnológico. Na de solo compactado, ao construir cada camada de solo é feito um controle de qualidade, como equipamentos de ponta para saber se aquele solo está seguro. Na de rejeito não tem como ter esse controle tecnológico grande porque sairia muito caro. Seria um preço exorbitante para aquela atividade-fim”.

O engenheiro afirmou que no mundo inteiro das barragens de minério são feitas de mesma forma, o problema, segundo ele, é que no Brasil o que falta é um maior cuidado com elas. “Não há necessidade de mudar a forma que é feito as barragens, o que se precisa é manter uma vistoria rigorosa, séria e periódica por parte das empresas”.

Mattos lembra que a preocupação com as barragens é recente, a Política Nacional de Segurança de Barragens foi criada em 2010 e prevê padrões de segurança para reduzir a possibilidade de acidentes nesses empreendimentos.

“Muitas barragens nem outorga tinha, ainda estamos engatinhando com relação a legislação sobre isso, então muitos órgãos públicos nem tem condições de manter uma vistoria constante porque não há tantos profissionais especializados na área. Há 15 anos nem curso específico sobre isso existia”, avaliou.

Para o engenheiro, fatos como o de Brumadinho e de Mariana, há três anos, não devem acontecer mais, justamente porque com essas tragédias ele acredita que o governo e também as empresas entenderam o risco. “Da primeira vez chamou a atenção, mas não surtiu efeito, mas dessa vez acredito que serviu de alerta para mudanças”.

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